quarta-feira, 22 de setembro de 2010

140 – A minha colaboração em Reunião de Geólogos do Oeste Peninsular

A exoneração de Soares Carneiro, em Março de 1980, do cargo de Director-Geral de Minas, fez vacilar Jorge Gouveia, na sua acção destrutiva do SFM.

Não obstante constar que outro dos “assaltantes” aos lugares de chefia, criados pelo famigerado Decreto 548/77, assumiria o cargo, era ainda uma incógnita a atitude que viria a adoptar para com o Serviço de Fomento Mineiro.

De facto, Alcides Pereira que, apesar do seu paupérrimo currículo, tinha conseguido ser investido, em 11-11-1980, no cargo de Director-Geral, por urgente conveniência de serviço (!!), dera discretos sinais positivos do modo como tencionava desempenhar as suas novas funções.
Em 15-12-1980, decidira participar em Semana de Geoquímica, que estava a decorrer no Porto e, então, em pequeno texto que leu, fez nascer ténue esperança de que alguma renovação poderia ocorrer na DGGM.
Recomendava às Universidades que produzissem bons técnicos, prometendo, para esse efeito, toda a colaboração do Organismo que lhe fora confiado.

Embora o seu passado não justificasse credibilidade em tais declarações, Jorge Gouveia mostrou-se algo mais prudente nas intervenções em estudos que eu dirigia na Secção de Caminha.
Passou a ignorar, praticamente, a existência deste núcleo de actividade.
Não mais insistiu em me colocar subordinado ao traidor Goinhas, que nomeara Director do Serviço de Prospecção Mineira, nem na dependência do arrivista Viegas, que estava designado Chefe do Grupo de Trabalho do Tungsténio.

Tornou-se assim possível que eu continuasse os trabalhos, mantendo estreita colaboração com diversos estabelecimentos de ensino superior e médio e com empresas privadas que actuavam na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima.

Desta colaboração, começo por destacar a minha participação na organização de excursão integrada em Reunião de Geólogos do Oeste Peninsular.
Como referi, em anteriores posts, eu vinha exercendo, desde 1970, funções docentes na Faculdade de Ciências do Porto, na qualidade que me foi atribuída de Professor Auxiliar Convidado.
Aproveitando essa circunstância, os organizadores de uma Reunião de Geólogos do Oeste Peninsular consideraram que a Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, onde eu dirigia trabalhos de prospecção mineira, teria interesse para constar do programa das excursões, no âmbito dessa Reunião.
Por essa razão, contactaram-me para a concretização de tal objectivo.
De imediato, me disponibilizei para dar todo o apoio que me fosse possível.
Durante alguns dias, acompanhei os Professores Noronha e Frederico, aos locais a visitar, fiz-lhes a descrição dos resultados dos estudos que tinha realizado e forneci elementos para o Livro – Guia da excursão.
Conduzi-os, também, à presença dos dirigentes locais de Union Carbide, proporcionando a esta Companhia a oportunidade de participar na redacção do Livro – Guia, uma vez que a sua actividade se exercia principalmente no âmbito da Geologia, sendo numeroso o seu corpo de Geólogos, alguns dos quais portugueses.
Chamei a ambos, a atenção para possíveis dificuldades de acesso aos locais de maior interesse, aconselhando o uso de veículos de pequenas dimensões, para poderem inserir-se em curvas apertadas, que era necessário transpor, para chegar às Minas de tungsténio de Valdarcas, Lapa Grande e Cerdeirinha.

A excursão efectuou-se no dia 19 de Julho de 1979.
Aguardei, no Alto do Sopo, a chegada dos 80 congressistas, que vinham em dois autocarros.
Deste local privilegiado, descrevi o que se divisava, no horizonte: o anticlinal de Covas, com as explorações de Fervença, Valdarcas, Lapa Grande e Cerdeirinha, as zonas das sondagens na dobra periclinal, e na Costa das Vinhas e os afloramentos de Vilarinho.
Seguimos para a Mina da Fervença, onde o Geólogo Bronkhorst de Union Carbide, fez exposição sobre a estrutura geológica da região e eu mostrei os cortes geológicos e magnéticos anteriores à exploração que ali se realizara.
Assisti a calorosa discussão entre o Geólogo da DGGM, António Ribeiro e o Professor Vivaldi da Universidade de Oviedo, com a grande bonomia deste Professor, perante a fogosidade de Ribeiro, na defesa dos seus argumentos.
Os autocarros deveriam fazer a subida para Valdarcas, mas após uma primeira inspecção, feita por minha indicação, os motoristas concluíram que não conseguiriam inserir os seus veículos logo na primeira curva, muito menos nas seguintes.
Teve, pois que se desistir de visitar três das principais minas previstas na excursão: Valdarcas, Lapa Grande e Cerdeirinha.
Sugeri-lhes, então, visitar a zona do Serro (Argela) onde, pouco tempo antes, eu tinha descoberto afloramentos de skarn mineralizado, que facilmente poderiam ter passado despercebidos, por não ostentarem as suas típicas características.
Nessa época, eu concentrava aí os estudos, por ter sido adjudicada a Union Carbide, a área onde estivera a cumprir programa de sondagens, entre as quais se contava a n.º 69, que mencionei no post anterior.
Mostrei xistos grafitosos responsáveis por fortes anomalias de polarização espontânea, um filão aplítico com mineralização de cassiterite e skarn alterado e inalterado.
Exibi perfis magnéticos, de resistividade eléctrica, de polarização espontânea e fiz especial referência a concentrados de eluvião e à contagem de pontos de scheelite, para substituir as análises geoquímicas que o Laboratório do SFM tinha recusado efectuar.
O experiente Geólogo, Dr. Serpa Magalhães, que, nessa data, pertencia ao quadro técnico da Companhia canadiana Cominco, comentou ter sido o melhor que tinham visto em toda a excursão.
Entusiasmado com o que observou, propôs à Cominco que celebrasse contrato com o Estado Português, para esta área da Argela, o que viria a concretizar-se.
Nem os dirigentes (assaltantes) do SFM, recentemente nomeados, nem os designados “scheeliteiros” estiveram presentes nesta excursão !!!.

O Departamento de Mineralogia e Geologia da Faculdade de Ciências do Porto mostrou disponibilidade para proceder a estudos sobre testemunhos de sondagens efectuadas pelo SFM, na região, mas não houve receptividade, no SFM.
Todavia, o Professor João Coelho, meu ex-aluno que, por minha indicação, tinha estagiado na Companhia americana Union Carbide, conseguiu realizar estudos sobre skarns, em colaboração com Fonteilles, especialista francês na matéria, aproveitando facilidades proporcionadas por Union Carbide

Nos próximos posts, continuarei a revelar as minhas acções positivas.

Apesar das declarações públicas do novo Director-Geral, Jorge Gouveia mantinha-se alheio a estas acções, persistindo nas suas atitudes destruidoras do SFM.
A elas me referirei, no post n.º 146

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