segunda-feira, 4 de outubro de 2010

141 - A minha colaboração com a Faculdade de Engenharia do Porto

Em meados de 1978, eu havia proporcionado ao Engenheiro Miranda, docente da Faculdade de Engenharia e aos seus alunos, visita aos trabalhos da Secção de Caminha, para demonstrações da aplicação dos métodos magnético e de polarização espontânea à prospecção mineira.

Tomara, então, conhecimento de que, naquela Faculdade, existia um magnetómetro de compensação de fabrico da ABEM de Estocolmo, que não estava em uso.
Embora obsoleto, pois havia magnetómetros de mais simples manejo e de maior sensibilidade, com os quais o SFM já se havia equipado, o aparelho ainda poderia ser útil, não só para medições, que não exigissem muito rigor, mas também para mostrar os diferentes tipos de aparelhos disponíveis no mercado, aos alunos da disciplina de Prospecção Mineira que eu leccionava na Faculdade de Ciências.
O meu pedido de cedência, por curto período, encontrou franco e total acolhimento.
A Faculdade informou possuir, também, um equipamento Terrameter de resistividade eléctrica, recentemente adquirido, que poderia disponibilizar-me, se eu pretendesse.
Logo aproveitei a oferta, porquanto os dois núcleos, que eu ainda mantinha, em actividade, tinham amplos campos de aplicação para esse equipamento.

Em Maio de 1979, o Professor Miranda solicitou-me que ministrasse, aos seus alunos, alguns ensinamentos de gravimetria aplicada à prospecção mineira, pois não dominava tal matéria.
Durante os meses de Maio, Junho e Julho de 1979, foi com muito gosto que dei, a 10 alunos, na Sala das Sessões do SFM, em S. Mamede de Infesta, as aulas que Miranda me solicitara, ocupando um total de 16 horas.
Não me foi possível ministrar aulas no campo, porque o gravímetro que eu tinha solicitado, para utilização, por curto período, apesar de prometido, continuava indisponível!

O Engenheiro Miranda mostrara também interesse em que os seus alunos tomassem contacto com outras técnicas de prospecção.
Satisfazendo o seu pedido, comecei, em mais uma aula, na Sala das Sessões, por historiar a actividade mineira na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, justificando a intervenção do SFM, para que pudessem ser devidamente aproveitadas as ocorrências de minérios de tungsténio, que tinham dado origem a algumas concessões mineiras.
Fiz, depois, uma rápida descrição das técnicas que estavam a ser aplicadas, com pleno êxito.
Os alunos teriam, em dias seguintes, oportunidade de observar a aplicação dessas técnicas e até de efectuar trabalho que iria ser aproveitado.
Nos dias 5 de Maio e 20 de Junho de 1979, mostrei, a Miranda e seus alunos, afloramentos da formação mineralizada em volframite e scheelite e o seu enquadramento geológico.
Apresentei, seguidamente, o pequeno grupo de trabalhadores, na sua quase totalidade localmente recrutados, que estava procedendo a observações pelos métodos magnético, de polarização espontânea e de resistividade eléctrica.
Os alunos foram, então, convidados a realizar observações, utilizando não só aparelhos do SFM, mas também, os equipamentos, que a Faculdade de Engenharia me tinha emprestado.
Dei-lhes, ainda, oportunidade de usarem bateias, na produção de concentrados de materiais aluvionares. A Ribeira das Pombas foi o local escolhido, dada a facilidade de acesso e a certeza de se conseguirem rapidamente concentrados contendo sobretudo cassiterite, facilmente identificável através de um simples ensaio químico em Laboratório.

Das conversas havidas, Miranda apercebeu-se da grande lacuna existente no elenco de disciplinas para a formação dos futuros Engenheiros de Minas, e logo pensou aproveitar o bom relacionamento que comigo se tinha estabelecido para propor ao Professor Madureira, dirigente do Departamento de Engenharia de Minas, que fosse introduzida, no Curso, a disciplina de Prospecção Mineira, sugerindo que eu fosse encarregado da respectiva docência.
O Professor Madureira concordou e, em 27-7-1979, ambos vieram ao meu gabinete em S. Mamede de Infesta, fazer o convite.
Perante a impossibilidade legal de acumular essas funções com as que já exercia na Faculdade de Ciências e, em manifestação da minha maior boa-vontade em prestar um auxílio que considerava não dever recusar, propus dar aulas, juntando na mesma sala, os alunos de Ciências e de Engenharia, caso houvesse concordância do Departamento de Geologia.
Havia, porém, um assunto que os preocupava. Sabedores das relações de amizade de Professor Morais Cerveira, Catedrático da Faculdade de Engenharia, com Soares Carneiro, pareciam recear, da parte deste, alguma oposição à colaboração que me pediam.
Sosseguei-os a este respeito, revelando-lhes que as minhas relações profissionais com Morais Cerveira sempre foram as melhores.
Às Minas de Covas, de que ele era Director-Técnico, eu tinha prestado, em numerosas ocasiões, auxílio que se revelara fundamental para a localização das zonas de mineralização economicamente explorável.
Ainda recentemente, Morais Cerveira me havia contactado a inquirir da possível existência de jazigo idêntico aos de Aparis ou Miguel Vacas, em cuja exploração estivera empenhada a Empresa Minerália que, para o efeito fundara, em sociedade com o Professor Farinas de Almeida.
Realçara, então, a exactidão do meu cálculo de reservas, na Mina de Aparis, pois a exploração correspondera fielmente às previsões.
Quanto à Mina de Miguel Vacas, na região de Vila Viçosa, também tinham sido de inestimável utilidade os dados que lhe facultei, sobre trabalhos de Mining Explorations (International), nos quais tive directa intervenção.
Respondi-lhe que, infelizmente, me tinha sido retirada a possibilidade de continuar a fazer estudos da natureza dos que fizera em Aparis (Ver, a este respeito, parte final do post n.º 25).
Nessa ocasião, apelei aos deveres cívicos de Morais Cerveira, para que usasse a sua influência junto do seu amigo Soares Carneiro, para o fazer entrar no caminho correcto, em defesa dos interesses nacionais.
Lembrei o conselho que lhe dei, quando nos encontrávamos na Mina da Cerdeirinha: “Trave-me esse louco, antes que destrua completamente a Direcção-Geral de Minas!”.
Confiei que este meu conselho pudesse ter algum sucesso, mas foi pura ingenuidade.
Soares Carneiro já tinha ido longe demais, para poder retroceder.

Obtida a concordância do Director do Departamento de Mineralogia e Geologia da Faculdade de Ciências, passei, durante o ano lectivo de 1981-82, a dar as aulas teóricas e práticas de campo e de gabinete, de Prospecção Mineira, ao conjunto de alunos das duas Faculdades, sem qualquer remuneração adicional.

Baseado no bom relacionamento que se havia estabelecido, pretendi ajudar o Departamento a melhorar a preparação dos seus alunos, pois tinha verificado insuficiências inadmissíveis em Engenheiros que tinham ingressado no SFM.

Além de ignorância total em prospecção mineira, mostraram quase igual ignorância em topografia, colocando-se em grande inferioridade relativamente a pessoal recrutado apenas com a antiga 4.ª Classe de Instrução Primária, o qual eu tinha instruído nessa matéria.
Comentei o total abandono a que tinha sido votada a prospecção mineira, manifestando a minha surpresa por encontrar na Biblioteca do Departamento apenas os livros que já existiam quando eu frequentara a Faculdade, isto é, 30 anos antes!

Informado de que o Departamento não dispunha de verba para compra de livros e revistas, com conhecimentos actualizados, mandei preparar fotocópias dos principais livros que o Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências tinha adquirido, por minha indicação, cuja consulta eu costumava aconselhar aos alunos.

Eu sentia-me no direito de esperar que a minha colaboração à Faculdade de Engenharia fosse reconhecida e agradecida.
Todavia, o que encontrei foram inesperadas atitudes de desconsideração, que muito me magoaram. Tive, por exemplo, dificuldade em contactar o Director do Departamento, quando pretendi fixar data para os exames finais dos alunos.
Ele chegou a faltar a encontro que se havia marcado, sem me dar justificação ou pedir desculpa.
Andava muito ocupado com computadores, que acabavam de surgir como grande novidade e quase ia transformando o Departamento de Minas em Departamento de Informática, esquecendo-se que os computadores iriam ser um extraordinário meio de trabalho e não um fim, tal era o seu deslumbramento, perante este progresso”.
Fui levado a concluir que Madureira se sentira melindrado, considerando que eu estaria a intrometer-me na vida do Departamento.
Não mostrou, por isso, interesse em que eu continuasse a leccionar a disciplina.

Acontecia, porém, que alguns alunos me procuraram para manifestar estranheza por, no ano lectivo de 1982-83, eu não estar a dar as aulas de Prospecção Mineira, que pretendiam frequentar, não tendo horário que lhes permitisse assistir às que eu dava na Faculdade de Ciências.
Expliquei-lhes que estava aguardando as diligências do Director do Departamento de Engenharia para que tal continuasse a ser possível.

Acontecia, também, que vários Engenheiros que se haviam licenciado anteriormente ao ano lectivo de 1981-82, não tendo tido, por isso, oportunidade de assistir às minhas aulas, me vieram pedir para frequentarem as que eu ministrava, na Faculdade de Ciências.
Foi com todo o gosto que acedi ao seu pedido. A este assunto me referirei, mais detalhadamente no post seguinte.

Antes do início do ano lectivo de 1983-84, por virtude de alterações ocorridas na direcção do Departamento de Minas, os Professores Morais Cerveira e Simões Cortês, decidiram contactar-me, no SFM, para que eu retomasse as aulas que tinha suspendido na Faculdade de Engenharia.

Manifestei-lhes, então, o meu grande desapontamento por ter sido mal compreendido o meu empenho em auxiliar a Faculdade a eliminar a grave lacuna de ter votado ao abandono tão importante ramo da industria mineira, sobretudo sabendo-se quão atrasado se encontrava o inventário da riqueza mineira do País.

Lamentei que não tivessem tido na devida consideração os meus comentários relativamente à deficiente preparação dos Engenheiros, em vários domínios, não apenas na Prospecção Mineira.

Perante as garantias que me foram dadas, aceitei retomar as aulas, com a condição de ser nomeado um Engenheiro dentre os que tinham sido meus alunos, em 1981-82, para ser meu assistente e se encarregar das aulas, nos anos seguintes, prometendo dar-lhe o meu auxílio.

Logo ficou indigitado o Engenheiro António dos Santos e Sousa, que aceitou o convite. Ainda lhe prestei o auxílio a que me comprometera, mas soube que acabou por abandonar o cargo.

Causou-me estranheza o elevado número de alunos inscritos em Prospecção Mineira, em acentuado contraste com o que ocorrera em 1981-82. De 6, em 1981-82, passara-se a 21, em 1983-84! Além disso, enquanto todos os 6 do Curso de 1981-82 revelaram muito empenho em apreender os conhecimentos que lhes transmitia, dos 21 do Curso de 1983-84, apenas 6 se mostraram verdadeiramente interessados, chegando um deles, Miguel Correia Pessoa, a ser classificado com 19 valores.
A minha explicação para este facto está na introdução do “numerus clausus” para ingresso nos diferentes Cursos. Muitos alunos, que não tinham conseguido nota para ingresso nos Cursos para que sentiam vocação, acabaram por se inscrever em Cursos onde havia vagas, mas para os quais não sentiam propensão.
Decepcionado com o comportamento que vieram a revelar nos exames, ainda inquiri a alguns deles a razão do seu pouco interesse. Responderam que não estavam habituados a um regime de tão intenso trabalho, com aulas iniciadas às 8 horas da manhã, terminando às 13, apenas com intervalo de 15 minutos, pelas 10 horas!.

O ainda Director do SFM, Jorge Gouveia, continuava totalmente desinteressado nestas colaborações, parecendo ignorar as recomendações do novo Director-Geral para que as Universidades produzissem bons técnicos e o compromisso que publicamente assumira de a DGGM prestar toda a colaboração para esse fim.
Em vez de facilitar a minha actividade, ia criando inacreditáveis obstáculos.
Alguns, eu conseguia vencer, com recurso aos equipamentos cedidos pelas Universidades e pelas Empresas que actuavam na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima. Outros, com destaque para o ensino do uso do gravímetro, no campo, tornaram-se impossíveis.
No post n.º 146, descreverei estas atitudes negativas.

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