sexta-feira, 22 de outubro de 2010

143 – As minhas diligências para neutralizar a nefasta influência de alguns inexperientes Geólogos

No post n.º 116, registei a situação crítica a que o SFM chegara, no início da década de 80, para dar cabal cumprimento ao seu programa de inventariação dos recursos minerais do País.

A maior parte dos Engenheiros de Minas tinha-se refugiado no conforto dos gabinetes, ocupando-se em tarefas burocráticas, ou em actividades de rotina, sendo rara a sua presença no campo.
Confiavam excessivamente na capacidade de Agentes Técnicos de Engenharia e de trabalhadores com poucas habilitações escolares, que haviam sido instruídos na execução de levantamentos topográficos, piquetagens e observações por diversas técnicas geofísicas e geoquímicas.

Não se verificava o ingresso de novos Engenheiros de Minas, que viessem ajudar-me a revitalizar o Organismo criador de riqueza, que deveria ser o SFM.

O mesmo não acontecia, porém, com Geólogos.
Estes foram progressivamente entrando no SFM, tornando-se a classe dominante.

Mas se os Engenheiros vinham mal preparados das Universidades, os Geólogos formados antes da introdução da Prospecção Mineira no elenco de cadeiras do Curso, vinham, em geral, em situação ainda pior.

Tirando partido da anarquia que passou a vigorar, após a Revolução de Abril de 1974, arrogavam-se competências que estavam longe de possuir.
Alguns deles mostraram, além de grande incompetência, carácter muito duvidoso.

Cito alguns exemplos

Os cognominados “Scheeliteiros”, cuja ridícula actuação descrevi em vários posts, sendo de salientar os n.ºs 94 e 114, são bem representativos da ignorância arvorada em capacidade empreendedora.

Um Geólogo que tinha sido destacado para prestar apoio aos trabalhos de prospecção que decorriam na Secção de Caminha, apresentou relatório, sem o mínimo interesse.
Tinha-lhe sido pedido que implantasse, em mapas à escala de 1:5000, as formações ocorrentes na área do jazigo mineral que estava em investigação.
Apresentou mapa à escala 1:25000, apenas acrescentando ao mapa dos Serviços Geológicos de que já dispúnhamos, algumas falhas de muito duvidosa existência.
Argumentava que a topografia dos mapas à escala 1:5000 estava incorrecta, por ter sido obtida por ampliação de mapas à escala 1:25000 dos Serviços Cartográficos do Exército.

Aconteceu, porém, que o concessionário das Minas Cerdeirinha e Lapa Grande conseguira entrar em contacto com instituição da República checa, para possível associação, com vista a aperfeiçoar a exploração que se encontrava em curso, em ambas aquelas Minas.
Essa instituição fez deslocar a Portugal os Geólogos Yanecka e Strnad.
Quando com eles estabeleci contacto, apercebi-me da sua grande competência profissional e, por isso, logo procurei entrar em franca colaboração.
Dei-lhes informação dos estudos que tínhamos em curso e entreguei-lhes cópias dos mapas topográficos à escala de 1:5000, que usávamos para implantação dos resultados das técnicas que estávamos a aplicar.
Ficaram muito agradecidos por poderem dispor destes mapas, que logo passaram a usar, assim poupando o trabalho de planimetria, com bússola e fita métrica, que estavam a fazer.

Mas não ficou por aqui a colaboração com os Geólogos checos.
Ao Dr. António Ribeiro que, naquela época, se destacava dos seus colegas por uma real competência, sobretudo no âmbito da geologia estrutural, sugeri que me acompanhasse até ao Director e lhe fizesse ver a conveniência de aproveitar a presença dos geólogos checos para fazer estagiar, junto deles, um dos Geólogos recentemente admitidos no SFM.
Com o parecer concordante de António Ribeiro, consegui que fosse destacado para estagiar junto dos checos o Geólogo Vítor Manuel Correia Pereira.
Infelizmente, Vítor Pereira não soube aproveitar a oportunidade que lhe foi proporcionada. Pouco aprendeu, mas passou a apresentar-se, perante mim, com arrogância, pretendendo assumir a orientação dos estudos na região e recusando-se a conciliar o que teria aprendido, com os resultados das técnicas que eu estava a utilizar.
Como não havia Ordem superior que o colocasse no Serviço de Prospecção, nada se aproveitou da sua presença na zona.
Notei que a Empresa Geominas, que também actuava na região, tentou a sua colaboração, mas não detectei que dela tivesse resultado qualquer efeito prático.

Entretanto, prosseguia a colaboração que se tinha estabelecido entre mim e os geólogos checos.

Quando estes deram por terminado os estudos de que tinham sido encarregados, ofereceram-me uma cópia do seu relatório, na língua checa, portanto, para mim, indecifrável.
Esse relatório vinha, porém, acompanhado de mapas à escala de 1:5000, com implantação das formações geológicas ocorrentes na região.
Isto representava um considerável progresso, que Geólogos portugueses não tinham conseguido.

Vítor Manuel Correia Pereira, sabendo da existência deste relatório, esqueceu o seu insolente comportamento anterior para comigo e veio pedir-me cópia dos mapas geológicos elaborados pelos checos.
Inseriu-os, como seu autor (!), no Livro-Guia de excursão que iria realizar-se no âmbito do Congresso CHILAGE.

Mais tarde, viria mesmo a fazer figurar no seu currículo publicado em Diário da República a autoria deste levantamento geológico!!!

Como prémio destas vergonhosas atitudes, após um período em que esteve afastado do SFM, viria a ser promovido a categoria que lhe permitiria ter papel activo em procedimento disciplinar em que acabei por me ver envolvido, conforme oportunamente descreverei.

Quando o Engenheiro Pedroso de Lima foi contratado e entrou em contacto comigo (Ver novamente post n.º 116), apesar de não ter Ordem de Serviço que o colocasse no departamento de Prospecção que eu, com imensa dificuldade ainda conseguia manter, alimentei a esperança de que o pudesse vir a orientar no sentido de se tornar um elemento vitalizador do moribundo SFM.
Tais esperanças cedo se desvaneceram, porque Pedroso de Lima compreendeu ter entrado num Organismo com escassa perspectivas de futuro.

Acontecia, porém, que o funcionário do SFM, Laurentino Rodrigues, que tinha entrado como Ajudante do Laboratório de Química, estava matriculado no Instituto Superior de Engenharia e tinha a intenção de se licenciar em Engenharia de Minas.

Laurentino tomou a iniciativa de se me dirigir a manifestar o desejo de assistir aos trabalhos de prospecção que eu dirigia nas Secções de Caminha e de Talhadas.

Foi com todo o gosto que comecei por lhe proporcionar, em 21-9-77, visita aos trabalhos em curso na Faixa Metalífera da Beira Litoral.

Laurentino ficou impressionado com o que observou e solicitou-me, que autorizasse visita aos trabalhos da Secção de Caminha, não apenas a ele, mas também a 6 ou 7 dos seus colegas.

A visita efectuou-se em 8-6-78 e todos puderam observar a aplicação dos métodos eléctricos de polarização espontânea e de resistividade eléctrica (modalidades Sclumberger e Wenner) com a aparelhagem Terrameter, que obsequiosamente me tinha sido cedida pela Faculdade de Engenharia do Porto.

Na sequência desta visita, o Engenheiro Lisoarte, professor do Instituto Superior de Engenharia, manifestou interesse em que eu desse aulas de Prospecção Mineira, neste Instituto.
Não parecia fácil satisfazer a sua pretensão, pois eu não estava autorizado a acumular mais docências, mas dispunha-me a estudar maneira de prestar auxílio na matéria.

Ainda cheguei a enviar o meu currículo para análise pelo corpo docente do Instituto, mas o interesse inicial não teve sequência, perante os impedimentos legais e eu passei a concentrar-me na preparação do então ainda seu aluno, Laurentino Rodrigues, prevendo que ele pudesse vir a ser o continuador da minha obra, quando chegasse a hora de me aposentar.

Eu tinha, no meu programa, a realização de ensaios de orientação, numa área do concelho de Esposende onde ocorre mineralização tungstífera e onde as condições geológicas se me afiguravam semelhantes às da Região Mineira de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima.

Aproveitei o interesse que Laurentino Rodrigues demonstrara pelas técnicas de prospecção mineira, para, com a sua colaboração, dar início a estes ensaios.

Desde Outubro de 1978 até Julho de 1979, fiz várias deslocações a esta área de Esposende, acompanhado por Laurentino Rodrigues, essencialmente com o propósito de o industriar nas técnicas de prospecção, que me era possível aplicar, com os equipamentos de que dispunha (do SFM e da Faculdade de Engenharia).
Ensinei-o, depois, no gabinete, a fazer o tratamento dos dados colhidos no campo, com vista à sua interpretação.

Laurentino continuava os seus estudos.
Terminara o Curso no ISEP e apresentou-me cópia do seu relatório sobre o trabalho em que participara em Esposende, com o qual conseguiu melhorar a sua classificação final.

Passou, depois, a frequentar a Faculdade de Engenharia, continuando a procurar-me, no meu gabinete, para conversas sobre o seu curso, muito virado para os computadores e sobre a lamentável evolução que estava a verificar-se no SFM.
Terminado o seu Curso na Faculdade de Engenharia, não teve dificuldade em conseguir contrato com o SFM, na categoria a que agora tinha direito.

Em Janeiro de 1982, obteve autorização para um estágio na 1.ª Brigada de Prospecção, onde existiam equipamentos que no Norte não tivera oportunidade de usar.

Quando regressou, manifestou-me a sua grande decepção, por verificar a degradação daquela Brigada. Toda a sua actividade se restringia agora a trabalhos para Empresas que detinham contratos de prospecção com o Estado. Não recebera o apoio que esperava.

O Engenheiro Vítor Borralho já tinha saído para ocupar cargo de Administrador de Minas de Aljustrel, deixando o Laboratório de Geoquímica entregue a pessoal pouco qualificado.
E o Geólogo Goinhas estava a preparar-se para usar também a sua filiação partidária, para obter cargo em Lisboa, com melhor remuneração.

Confirmava-se o que Gouveia me havia dito: Andavam, desorientados, a inventar trabalho! (Ver post n.º 134).

Em 10-5-82, Laurentino, numa das suas habituais conversas, vem revelar-me que, para ele, tinham “empurrado” o pessoal da Secção de Talhadas, que tinha começado por ser deslocado, com carácter temporário para trabalhos dirigidos pelo Geólogo Viegas, mas que acabara por ficar subordinado a este Geólogo, após a suspensão dos estudos que eu tinha em curso na Faixa Metalífera da Beira Litoral (ver post n.º 138).

Já o tinham “empurrado”, anteriormente, para o Engenheiro Pedroso de Lima. Mas como este rescindira o seu contrato, “empurraram-no” agora para ele.
Comentava que andaram perdidos pela Região de Moncorvo e por outros locais e agora não sabiam em que ocupar o pessoal.

Laurentino passou, portanto, a ter que aplicar pessoal treinado em várias técnicas de prospecção, encontrando sérias dificuldades em que a suas ordens fossem respeitadas por funcionários, que se apercebiam da sua ainda pouca experiência.

Recomendei-lhe prudência, lembrando-lhe que situação idêntica ocorrera na 1.ª Brigada de Prospecção, quando nela foram integrados Engenheiros muito mal preparados, que encontraram pessoal, com poucas habilitações escolares, muito mais conhecedores das técnicas de prospecção mineira.

Chamei-lhe a atenção para a conveniência de não se deixar envolver em problemas que lhe diminuíssem o prestígio, pois havia séria probabilidade de vir a suceder-me na direcção dos futuros trabalhos de investigação mineira no País, já que não havia outros Engenheiros em condições de exercerem o cargo com dignidade.

Laurentino manifestava algum desânimo com esta sua entrada na profissão de Engenheiro e dizia-me que o que lhe dava alento eram os meus estímulos durante os seus desabafos para comigo.
Chegou a ponderar o abandono do FM, seguindo o exemplo de Pedroso de Lima.

Apesar destas manifestações de apreço, causava-me apreensão o facto de ele ter aceite, com naturalidade, a sua subordinação ao Geólogo Viegas, que era um dos mais perniciosos elementos do SFM.

O Director Gouveia permanecia alheio aos meus esforços de preparação de pessoal para as tarefas de prospecção mineira, quer interna, quer externamente.

Continua…

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