terça-feira, 2 de agosto de 2011

182 - Nova discussão sobre Plano Mineiro Nacional. Continuação 6

Continuo a denunciar os clamorosos erros do Geólogo José Goinhas, na sua narrativa histórica, a que deu a designação de “A prospecção mineira em Portugal. Áreas potenciais de aplicação de projectos” e que apresentou com o objectivo de contribuir para um ambicioso Plano Mineiro Nacional, mas que se revelou não só inútil, como até prejudicial.
Inútil, porque tal Plano, que se não justificava, como já demonstrei, nunca chegou a ser concluído; prejudicial, por ter sido publicada e induzir em erro os leitores do Boletim de Minas

Retomando o tema 5, respeitante á aplicação de métodos geofísicos e geoquímicos à prospecção mineira, vou corrigir a história da descoberta do jazigo do Gavião, que Goinhas atribui à Sociedade Mineira de Santiago.

No post N. 36, tive já oportunidade de revelar que, contrariamente ao afirmado por Goinhas, esta descoberta foi mais um importante êxito do SFM.
A este êxito, me tinha referido, em relatório datado de Março de 1968, nos seguintes termos:

“Na região de Aljustrel, a sul de Rio de Moinhos, já dentro da Bacia Terciária do Sado, registaram-se anomalias gravimétricas que, embora pouco pronunciadas, se revestem de bastante interesse, pelo facto de se localizarem exactamente no prolongamento dos horizontes mineralizados de Feitais - Estação e Moinho – S. João, após a rejeição pela falha de Messejana.”

Recuando no tempo, é justo reconhecer que os técnicos da empresa concessionária das Minas de Aljustrel estavam plenamente conscientes da existência de uma importante falha, de encontro à qual terminava a massa de S, João do Deserto e admitiam, com forte probabilidade, a existência de uma parte rejeitada do jazigo, e que esta hipótese deveria ser investigada, se se tornasse necessário aumentar reservas.

Quando o SFM, surgiu, na região, em 1944, com o seu programa de investigação de toda a Faixa Piritosa Alentejana, a empresa ignorava ainda a grandeza da rejeição horizontal e vertical desta falha, pois a parte rejeitada estava oculta pelos terrenos da denominada Bacia Terciária do Sado.

Foi ao SFM que ficou a dever-se a definição da exacta grandeza da componente horizontal da rejeição provocada por esta falha, cuja real importância foi também evidenciada, em consequência da sua actividade de prospecção.
Quero, no entanto, assinalar que foi em resultado da colaboração dos Serviços Geológicos, por mim solicitada, para estudo dos terrenos da Bacia Terciária do Sado, tendo em vista determinar a profundidade da bacia, que se identificou, pela primeira vez, o filão dolerítico, instalado na grande fractura.
Foi a equipa constituída pelo Geólogo Georges Zbyszewski e Veiga Ferreira que fez esta identificação.
A hipótese de este filão dolerítico se identificar com formação que deu origem a blocos arredondados ocorrentes em Portel e em Odemira foi-me sugerida pelo Professor Mariano Feio que, sendo Engenheiro Geógrafo, era investigador de vasta e diversificada cultura.
A este ilustre Professor, com quem tive frequentes e muito úteis conversas, se ficaram devendo valiosas contribuições para o conhecimento da geologia do Sul do País.
A identificação da falha, na região de Vila Viçosa, onde se manifesta pela rejeição do Silúrico em Ciladas e em Ferreira do Alentejo, onde é assinalada pela rejeição do Devónico em Mombeja, é de minha exclusiva autoria.
A tudo isto é feita referência, no meu artigo sobre “Prospecção de pirites no Baixo Alentejo” publicado em 1955, na Revista do SFM.
Constou-me ter havido quem, posteriormente, tenha reivindicado esta descoberta, ignorando o artigo que citei.

No post N.º 36, mencionei diversos factos muito estranhos, relacionados com a anomalia gravimétrica que é a assinatura do jazigo do Gavião.

O primeiro foi o rápido desaparecimento da parede da Sala das Sessões da DGGM, do mapa que eu lá tinha colocado, durante a sessão da Comissão de Fomento realizada em 27 de Maio de 1968, para pôr em evidência, perante um público seleccionado, um êxito que devia ser considerado muito honroso para a DGGM, na qual o SFM continuava integrado.
Nesse mapa, à escala 1:5000, eu tinha colocado, no alinhamento dos jazigos conhecidos em Aljustrel a anomalia gravimétrica, tendo para esse efeito, cortado com uma tesoura o mapa segundo a falha, com um deslocamento de 3 km, que era exactamente a rejeição confirmada pela gravimetria.

O segundo foi a adjudicação à Sociedade Mineira de Santiago, em 2 de Outubro de 1969, de área envolvente das Minas de Aljustrel que incluía a anomalia do Gavião, a qual se mantinha reservada, para estudo pelo SFM.
Esta adjudicação feita apressadamente, sem meu prévio conhecimento e sem concurso público, como a lei exigia, foi deveras surpreendente, sobretudo tendo em consideração a provável intervenção do Engenheiro adjunto do Director-Geral, J. Costa Almeida, que era o representante da DGGM, nomeado para acompanhar os estudos daquela Sociedade, na Bacia Terciária do Sado e prestar eventualmente colaboração técnica.
Mas, mais estranho ainda, foi o indecoroso comportamento dos técnicos superiores da Sociedade Mineira de Santiago, que corresponderam de modo insultuoso ao honroso convite que lhes foi feito de participarem na redacção de Livro-Guia de Excursão integrada no CHILAGE (Congresso Hispano – Luso Americano de Geologia Económica), que teve lugar em 1971, em Portugal e Espanha.

Neste Livro-Guia, de que só tomei conhecimento após a sua publicação, tive a surpresa de ler que os levantamentos gravimétricos e magnéticos executados pelo Serviço de Fomento Mineiro não trouxeram grande achega para o conhecimento do rejeito dos jazigos de Aljustrel.
O despudor destes técnicos, com os quais, aliás, sempre tinha mantido as melhores relações, foi ao ponto de declararem improvável a descoberta do jazigo do Gavião pela aplicação de métodos geofísicos e geoquímicos.
Custa a acreditar que técnicos, de reconhecida competência, tenham perdido a dignidade, ao afirmarem que, somente a aplicação dos conhecimentos de estratigrafia e da estrutura geológica de Aljustrel poderia ter conduzido à descoberta do jazigo do Gavião, julgando, com esta traiçoeira atitude, aumentar o seu prestigio.
Não cheguei a perguntar-lhes porque localizaram as sondagens que efectuaram, precisamente no local da anomalia gravimétrica, até porque as relações pessoais, que eram francas e cordiais, passaram ser formais e apenas as indispensáveis.
O Eng.º Costa Almeida ainda tentou falar comigo a este respeito, parecendo-me ter reconhecido a deslealdade dos técnicos da Sociedade Mineira de Santiago.
Mas eu, que já não estava a apreciar comportamentos pouco recomendáveis, que passou a adoptar este colega, de quem fora amigo durante mais de 30 anos, desde os bancos do Liceu, e não lhe dei essa oportunidade.

Continua …

2 comentários:

Anónimo disse...

BOA TARDE

Gostaria de perguntar de conheceu o Eng Mateus Salema Garçao de LA Cueva Couto?

O meu mail é conceicao.henriques@iefp.pt

Cumprimentos

Conceição

Rocha Gomes disse...

Mateus Salema Garção de La Cueva Couto foi Engenheiro de Minas do Quadro de Técnicos do Serviço de Fomento Mineiro (SFM).
Teve a seu cargo campanhas de prospecção geofísica, sobretudo no Alentejo, com aplicação quase exclusiva do método magnético.
No post n.º 13, faço referência a esses trabalhos, que inicialmente o Eng.º Orlando Martins Cardoso supervisionava, a partir do Porto,
na qualidade de Chefe da Brigada de Prospecção Geofísica.
O meu relacionamento com o Eng.º La Cueva Couto foi sempre cordial, apesar das divergências no âmbito profissional
Foi doloroso assistir à sua decadência física, quando ele estava a conseguir libertar-se da influência nefasta de um Director e de um conjunto de maus conselheiros deste Director, que estavam a dificultar a obra que ao SFM competia realizar.
Faleceu em Beja, no início da década de 60 do passado século. Não sei precisar o ano, mas creio ter sido em 1962.
Os meus cumprimentos
ni