domingo, 31 de julho de 2011

181 - Nova discussão sobre Plano Mineiro Nacional. Continuação 5

Na análise do documento subscrito pelo Geólogo José Goinhas, com o título “A prospecção mineira em Portugal. Áreas potenciais de aplicação de projectos”, apresentado como contributo para o Plano Mineiro Nacional, fiz já a apreciação dos temas seguintes.
1 – Âmbito prospecção. No post N.º 179
2 – A fase da documentação. No post N.º 179
3 – A fase de geologia preliminar. No post N.º 179
4 - A fase de procura de indícios de jazigos minerais, por simples inspecção da superfície, no post N.º 180

Vou agora analisar o tema da aplicação de métodos geofísicos e geoquímicos

5 – Relativamente a esta fase da prospecção mineira, a deturpação dos factos relatados por Goinhas, na sua qualidade de “cronista”, atinge tais proporções, que só posso considerá-la intencional, com o propósito de menosprezar, uma vez mais, o Organismo em que esteve integrado.

Refere Goinhas, a propósito de trabalhos desta natureza, em área atribuída à “Mines d’ Aljustrel”, envolvente das suas concessões, com vista à descoberta de novas concentrações de pirites complexas:

É a partir dos anos 50 até meados da década de 60 que as empresas mineiras ligadas ao sector de metálicos implementaram um esforço de prospecção importante na área envolvente dos seus domínios mineiros, com o objectivo de alargar as suas reservas.
Esta actividade é particularmente relevante no Sul do País. Assim, a empresa MINES DE ALJUSTREL descobre, em 1954, o jazigo do Moinho, a que se segue, em 1963, o jazigo dos Feitais, ambos na área de Aljustrel.
Pela primeira vez é utilizada a geofísica na prospecção deste tipo de jazigos.

Eu, que iniciei a minha vida profissional, em 1943, em prospecção mineira, não tenho a veleidade de afirmar quando foram aplicados, no País, pela primeira vez, os métodos geofísicos, porque não fiz investigações com esse objectivo, nos arquivos da DGGM.

Posso, no entanto, revelar que, em 1944-45, quando residi na Mina de S, Domingos, tive oportunidade de contactar com empregados, já de avançada idade, da empresa Mason & Barry, que tinham participado na aplicação, no final da década de 20 do passado século, na aplicação, na área da Mina Chança, localizada a Norte da Mina de S. Domingos, de métodos eléctricos, entre os quais o de polarização espontânea, sob a supervisão do Professor de Geofísica do Imperial College of Science and Technology de Londres, Broughton Edge.
Este Professor foi o editor de um livro que se tornou clássico, no qual são descritos, pormenorizadamente, ensaios por diversas técnicas geofísicas, sobre ocorrências minerais conhecidas, na Austrália, que era, então, uma colónia inglesa. Esse livro, com título: “The principles and practice of geophysical prospecting, being the report of the Imperial Geophysical Experimental Survey”, tem data de 1931.
Recordo-me ainda, de o então Director-Geral de Minas, Eng.º Castro e Solla, me fazer referência a trabalhos de prospecção magnética efectuados nas Minas de ferro de Orada, em Pedrógão do Alentejo, anteriormente à existência do Serviço de Fomento Mineiro.

Mas é, indubitavelmente ao SFM que se deve a aplicação sistemática, destes novos métodos, à prospecção mineira.
E esta aplicação teve início no princípio da década de 40 do passado século, isto é, quase desde a criação do SFM.
E não se deveu a iniciativas de empresas privadas, mas sim ao SFM, quando era dirigido pelo Eng.º António Bernardo Ferreira, a quem presto, mais uma vez, a minha homenagem pelo impulso que soube dar ao desenvolvimento da indústria mineira nacional.
São exemplos dessa antiga aplicação as campanhas de prospecção magnética efectuadas em Montemor-o-Novo, Alvito, Oradas, Vila Cova do Marão, com o objectivo de aumentar as reservas de minério magnetítico destas minas.
Mas foi em 1944-49, que se verificou a primeira aplicação sistemática, em grande escala, de um método geofísico à prospecção mineira, na Faixa Piritosa Alentejana.
E esta aplicação não foi da iniciativa de qualquer das empresas estrangeiras que detinham concessões na Faixa!
De facto, apenas a empresa Mason and Barry que explorava, por arrendamento, o jazigo de S. Domingos, estava preocupada com a escassez de reservas, que calculava se esgotariam, nos 20 anos seguintes, como afinal veio a acontecer.
As outras empresas tinham as minas em lavra suspensa, por dificuldades de colocação do minério, resultantes da 2.ª Guerra Mundial, que ainda decorria, quando o SFM iniciou a sua grande campanha na Faixa Piritosa.
O SFM tomou esta decisão, com o apoio dos Engenheiros Ferreira Dias e Ezequiel de Campos, os quais tinham grande prestígio na política nacional e que, em seus livros “Linha de Rumo” e “Enquadramento geopolítico da população portuguesa através dos tempos”, haviam chamado a atenção do Governo para a necessidade de garantir o abastecimento em matérias-primas às metalurgias já instaladas e às metalurgias ainda a instalar.
Nessa época, não havia cursos de Economia nas Universidades. Eram os Engenheiros que tinham cadeiras de Economia Política, Finanças, etc… e se preocupavam com o racional aproveitamento dos nossos recursos.

Eu fui o Engenheiro nomeado para dirigir a campanha de prospecção na Faixa Piritosa, conforme descrevi no post N.º 7.
A Brigada de Prospecção Eléctrica, como então foi designada, começou por exercer a sua actividade na Mina de S. Domingos, passando depois para a região de Aljustrel.
Em Aljustrel, a sede da Brigada foi estabelecida na Mina de S. João do Deserto, que se encontrava inactiva, tendo, por isso sido possível que a empresa concessionária nos dispensasse instalações, não só para o pessoal superior, mas também para o pessoal que tinha adquirido formação na Mina de S. Domingos e que nos acompanhou.
Foi em resultado da aplicação do método electromagnético Turam, nesta região de Aljustrel, no período de 1945-47, que se fez a primeira grande descoberta de concentração de pirite.
Um poço que a concessionária executou, em local indicado pelo SFM, onde tinha sido assinalada intensa anomalia electromagnética, penetrou em concentração de minério piritoso, rico em cobre, que a concessionária passou a designar por massa do Cerro do Carrasco.
A empresa concessionária passou, depois a executar uma série de sondagens, para definir a extensão, em direcção e em profundidade desta massa, e definir as suas reservas.
Realizou também trabalhos mineiros e concluiu estar em presença de duas concentrações, atribuindo à primeira a designação de massa do Cerro do Carrasco e á segunda massa do Moinho.
A realidade é que se trata de duas parcelas do mesmo jazigo, que estão perfeitamente evidenciadas pelas anomalias detectadas pelo método electromagnético Turam.
Tudo isto está claramente exposto no artigo de minha autoria publicado, em 1955, no Volume X de “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro.”
Não foi, portanto, a Empresa “Mines d’Aljustrel” que fez a descoberta do jazigo do Moinho, como afirma erroneamente Goinhas, mas sim o SFM!!!

Também no que se refere à descoberta do jazigo dos Feitais, o que escreveu Goinhas está profundamente errado.
A existência de pirite, na concessão atribuída a Alonso Gomes, para exploração de minério de manganés, na Serra dos Feitais era há muito conhecida.
Alonso Gomes nunca se mostrou interessado na sua exploração. Houve contactos com “Mines d’Aljustrel S.A.”, mas não chegou a haver acordo para definir a dimensão desta ocorrência.
Já havia, além disso, conhecimento de um gradiente gravimétrico positivo, na sua direcção, quando a Companhia francesa C.G.G., contratada por “Mines d’Aljustrel S.A.”, fez aplicação de vários métodos geofísicos, na área da concessão de S. João de Deserto e Algares, para confirmar por outros métodos geofísicos a anomalia do Turam.
A Companhia inglesa Lea Cross, que tinha estado a actuar em área atribuída á empresa Mason & Barry, envolvente das Minas de S. Domingos, para trabalhos de prospecção mineira, antes de se retirar, foi oferecer os seus serviços às Minas de Aljustrel, a custo muito inferior ao que antes era exigido pela C.G.G. francesa.
As Minas de Aljustrel aproveitaram a oportunidade e estabeleceram acordo com Alonso Gomes para definir, então, a dimensão da ocorrência de pirite que se havia revelado, nos trabalhos de exploração de minério de manganés e dera origem ao referido gradiente gravimétrico.
Foi em resultado de intensas anomalias gravimétricas registadas em perfis levantados pela Companhia Lea Cross, que se realizaram sondagens reveladoras de se estar em presença de concentração de minério piritoso, de avultadas dimensões.
Cumpre-me registar que todas estas descobertas teriam sido feitas pela SFM, se o Engenheiro que assumiu o cargo de Director do SFM, após o falecimento do Engenheiro António Bernardo Ferreira, tivesse dado sequência às minhas propostas de aquisição de um gravímetro, insistentemente formuladas em todos os planos de trabalho que apresentei desde 1951 (Ver posts N.ºs 10 e 14) .

Continua …

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