domingo, 8 de março de 2009

50 - A minha mania da justiça

Os trabalhos de prospecção do 1.º Serviço do SFM eram realizados, no campo e em gabinete, com a colaboração de pessoal assalariado recrutado nos locais onde se exercia a sua actividade.

Muitos destes assalariados iam adquirindo formação nas diversas técnicas, mantendo-se no SFM, nalguns casos, durante décadas.

Já referi, no post N.º 24, a minha mágoa por ver abandonarem o SFM alguns elementos que tinham adquirido especialização nessas técnicas, apenas porque não eram autorizados os pequenos aumentos de salários que eu tinha proposto. O meu desalento era tal, que até, em desabafo perante o Director-Geral, cheguei a dizer que me passava pela cabeça também abandonar o SFM, por se tornar muito difícil a execução dos trabalhos que projectava. Isso, porém, não impressionou o Director-Geral que reagiu dizendo-me, que se eu quisesse ir embora, … que fosse!

O mesmo Director-Geral mostrara, porém, noutra ocasião, um particular interesse por um assalariado que eu tinha herdado da 2.ªª Brigada de Levantamentos Liotológicos, quando da reorganização do SFM efectuada em 1964.
Já referi, no post N.º 12, a deficiente qualidade dos estudos desta Brigada, o que não permitiu ao seu pessoal adquirir adequada formação. Todavia, o assalariado, no qual o Director-Geral se mostrara interessado, após a sua integração na 1.ª Brigada de Prospecção, estava a corresponder satisfatoriamente ao que dele se pretendia.

O Director-Geral tinha para esse assalariado uma “cunha” do Secretário de Estado e queria que eu apresentasse proposta para o seu ingresso no Quadro de Contratados, com a categoria de Colector, o que lhe permitiria além de um situação mais estável, melhoria de remuneração e a fixação de residência em Lisboa, com as consequentes compensações por actuação fora da sua residência, tal como se verificava com os outros Colectores contratados.

Não discordando desta promoção, informei o Director-Geral de que havia outros elementos do pessoal assalariado com muito mais mérito a promover à sua frente, até chegar a vez do que agora me era indicado.

O Director-Geral perguntou-me, então, quantos desses elementos considerava eu que deveriam ser contemplados, para que a “cunha” do Secretario de Estado pudesse ser atendida. Reflectindo uns momentos sobre este assunto, cheguei a 7 elementos das diversas Secções da 1.ª Brigada de Prospecção. Ao Director-Geral pareceu exagerado este número, mas disse para eu fazer a proposta.

Ainda me perguntou se seria muito escandalosa a promoção à frente dos elementos com melhor currículo. Respondi que sim e que tal iria perturbar seriamente o ambiente são que reinava, então, na Brigada e diminuir a autoridade que eu nela tinha conquistado.

Regressado ao Porto, logo me apliquei, na recolha dos dados curriculares dos assalariados que tinha considerado merecedores desta promoção e apresentei a respectiva proposta ao Director do SFM.

Alguns dias depois, encontrando-me em Lisboa em serviço, o Director-Geral pergunta-me se já fiz a proposta. Respondo-lhe afirmativamente e que a tinha entregue ao Director do SFM. Censurou-me por não lha ter entregue directamente, ao que eu reagi dizendo que, em casos semelhantes, me tinha ordenado que passasse pelo meu imediato superior hierárquico.

Tendo-lhe confirmado que a proposta contemplava 7 assalariados, reagiu com alguma aspereza, dizendo:

“Este gajo, com a mania das justiças, estraga tudo!!”

Este foi um dos maiores elogios que tive, durante a minha vida profissional.

Quando da análise da proposta, deu-se a curiosa circunstância de ter sido inicialmente rejeitada a promoção do elemento que eu tinha colocado à cabeça da lista, por ser silicótico e ter estado tuberculoso.
Expliquei que, conforme constava da proposta, se tratava de elemento com excepcional currículo, que a silicose tinha sido contraída no SFM e que a tuberculose já tinha sido tratada a expensas do SFM. O facto de a silicose ser da responsabilidade do SFM era, em minha opinião, mais um factor a favor do candidato. Assim mesmo, só com a minha insistência e com documento comprovativo da cura, que fui solicitar ao médico radiologista de Beja que acompanhara o seu caso, é que a processo pôde ter seguimento.

1 comentário:

Luis CS disse...

Tenho lido com atenção seu blog, gostaria trocar impressões consigo.
Luís Castro Solla (neto Luiz Castro Solla)
lcsolla@gmail.com