sexta-feira, 20 de março de 2009

54 - A radiestesia em prospecção mineira

Quando ingressei no SFM, em 1943, o Director, como bom conversador que era, gostava de reunir à hora de saída, o pessoal técnico, à volta da sua secretária, para amena cavaqueira.
Eu não apreciava o estilo, e não me apercebi que essa era a maneira de ele conhecer as pessoas com as quais trabalhava ou iria trabalhar.
Em algumas dessas sessões, estranhei um certo entusiasmo pela radiestesia.
Parecia acreditar nas virtualidades desta técnica esotérica, sem base científica e exibia, perante os três estagiários recém-contratados, entre os quais eu me incluía, um pequeno pêndulo, com o qual dizia localizar concentrações minerais, através de radiações a que seria sensível, sem necessidade sequer de se deslocar ao campo.
Bastava um simples mapa onde se pretendesse localizar os jazigos minerais! O uso deste pêndulo obedecia a regras contidas em livro francês da autoria do Abbé Moreaux.
Recordo-me deste livro ser prefaciado por técnico com responsabilidades que escreveu: “Vous cherchez la verité”. Isto servia-lhe de propaganda.
As potencialidades atribuídas ao pêndulo eram tais, que até era possível adivinhar o sexo de pessoas representadas em fotografias. Viradas com os rostos para baixo, o pêndulo passando sobre elas dava indicações sobre o seu sexo.

Os meus colegas, fosse por acreditarem também ou apenas para se mostrarem simpáticos, colaboravam activamente nas demonstrações. Eu não podia, obviamente seguir o seu exemplo, e corri o risco de me tornar desagradável.

Perante a minha descrença, o Director fez experiência que lhe saiu mal, sendo certo que, no respeitante à determinação do sexo, tinha 50% de probabilidades de acertar.

Felizmente que esta crença não se traduziu em qualquer actividade no terreno. Como até já tive ocasião de dizer, foi ele o primeiro Director do SFM, e o grande dinamizador deste Organismo, introduzindo desde a sua criação, as técnicas geofísicas mais avançadas, nesse tempo.

Um dos colegas a que me referi foi, em 1964, investido no cargo de Director do SFM, em circunstâncias que descrevi no post N.º 25.

Alguns anos mais tarde, tomei conhecimento de terem aparecido no mercado calculadoras electrónicas que forneciam rapidamente logaritmos, funções trigonométricas, etc.

Uma vez que eu aplicava muito do meu tempo em cálculos de gabinete resultantes de trabalhos de topografia, tinha frequente necessidade de usar quer tábuas de logaritmos de 7 decimais, quer tábuas das funções trigonométricas.

Perante a possibilidade que se me oferecia de melhor aproveitar o meu tempo, sem hipótese de cometer os erros que eram fáceis de acontecer na passagem dos valores das tabelas, requisitei uma das primeiras calculadoras que surgiram no mercado.

O Director, que tinha acreditado nas potencialidades do pêndulo, nunca deu andamento à minha requisição, com a alegação de que não acreditava ser possível existirem tais prodígios.

Só mais tarde, quando os preços se tornaram acessíveis, comprei para meu uso pessoal uma destas calculadoras, que muito facilitaram sobretudo o controlo das piquetagens, pela aplicação de Pothenots ou simples triangulações.

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