segunda-feira, 14 de março de 2011

161 – Exposição a Ministro, solicitando correcção de desmandos da DGGM e primeiras consequências

Apesar de reconhecer a insensatez da ordem de apresentação de um relatório “circunstanciado” da actividade que eu vinha dirigindo, há mais de 20 anos, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, resolvi dar-lhe rigoroso cumprimento, resistindo à evidente provocação para eu me aposentar, como natural reacção ao afrontoso desrespeito pelo meu passado de 40 anos de dedicação à causa do Fomento Mineiro, consubstanciado nos maiores êxitos deste Organismo, em toda a sua existência.

Quando terminei o 1.º capítulo, intitulado “Informação introdutória circunstanciada” e dactilografei, a um espaço, as suas 46 páginas, ocorreu-me que o Ministro Veiga Simão talvez tivesse interesse na sua leitura, considerando que, na reunião de 16-12-83 (Ver post N.º 155), já havia comentado a falta de iniciativas para o aproveitamento das potencialidades do País em valiosos recursos minerais. Foi nesta convicção que lhe enviei, em 27-3-84, o ofício que a seguir transcrevo:

“Em Maio de 1980, enderecei a um dos antecessores de V. Ex.ª o ofício de que junto cópia (Anexo N.º 1).
Solicitei, então, uma acção vigorosa no sentido de acabar com a política de obstrução ao trabalho sério que caracterizava a direcção do Serviço de Fomento Mineiro.
Tal como acontecera relativamente a exposições anteriores, manteve-se a passividade superior nesta matéria, apesar de ter havido substituições de alguns dos dirigentes responsáveis pela referida obstrução.
O Serviço de Fomento mineiro é potencialmente criador de riqueza e alguma tem originado, nos seus 45 anos de existência.
Posso orgulhar-me de ter sido um dos principais obreiros das mais importantes descobertas de reservas minerais úteis evidenciadas por este Serviço, quer através da minha acção directa, quer através da colaboração de técnicos, a todos os níveis, que preparei ou ajudei a formar.
Consciente de que a competência técnica é requisito fundamental para o trabalho de verdadeira investigação científica exigido para se chegar ao inventário e à valorização dos recursos mineiros nacionais, não me tenho limitado, na formação de técnicos, ao ambiente interno do Serviço de Fomento Mineiro.
Desde 1970, venho prestando colaboração à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, na formação de geólogos e, desde data mais recente, também à Faculdade de Engenharia do Porto na formação de engenheiros de minas e ao Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, na formação de docentes e de futuros engenheiros-geólogos.
V. Ex.ª encontrará no meu curriculum, que constitui o Anexo N.º 2, informação mais completa do que tem sido a minha acção no sector mineiro nacional.
Poderia pensar-se que, com tal curriculum, a minha experiência estaria a ser aproveitada, na Direcção-Geral de Minas e o ambiente me seria propício para continuar na obra de criação de riqueza, à qual, apesar de já lhe ter dedicado 40 anos, estaria ainda disposto a dedicar alguns anos mais, pois ainda me considero em pleno vigor físico e intelectual.
Nada disso!
Como V. Ex.ª pode verificar, pelo documento que constitui o Anexo N.º 3 (1.º capítulo – Informação introdutória circunstanciada – do “Relatório circunstanciado dos trabalhos de prospecção mineira efectuados até 29-2-84, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de Lima; Sugestões para continuação dos trabalhos”, que me foi exigido, por despacho de 7-2-84, a obstrução ao trabalho sério não tem abrandado; muito ao contrário:
Chegou-se agora ao cúmulo de suspender a minha actividade no campo, assim se prejudicando o trabalho autêntico que ali se produz (é no campo que se descobrem os jazigos, não no gabinete!) e prejudicando a formação de técnicos de vários estabelecimentos de ensino superior, que eu ali estava promovendo !!!
E tudo isto, para quê?
Para que eu faça um relatório provavelmente destinado ao mesmo fim de numerosos outros documentos que tenho produzido, os quais nunca foram lidos ou o foram muito imperfeitamente.
Estou fazendo este relatório de que acabei o 1.º capítulo, e esta será, talvez, a minha última tarefa, dentro do Organismo que servi dedicadamente, durante 40 anos, pois encaro, com muito forte probabilidade, a minha passagem à aposentação.
Não serei, de resto, o primeiro funcionário a tomar esta atitude, exclusivamente por o ambiente interno da Direcção-Geral de Minas se estar a tornar insuportável para quem tenha dignidade e real sentido das suas responsabilidades.
Apresento a V. Ex.ª os meus cumprimentos
(a) A. Rocha Gomes”

Continua ...

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