sábado, 21 de maio de 2011

166 – Audiência concedida pelo Ministro Veiga Simão. Continuação 2

Do processo burocrático organizado em seguimento da audiência que Veiga Simão me concedeu pelas 19 horas do dia 19-6-84, apenas me foram enviadas cópias de alguns documentos.
Não tomei, por isso, conhecimento do modo como se foi desenvolvendo. Pela informação recebida, deduzi que o Ministro, se desembaraçou rapidamente, no próprio dia audiência, de toda a documentação que eu lhe deixara, após nela ter exarado despacho pedindo explicações sobre os problemas que expus.
Fiquei a ignorar o teor deste despacho, e o seu primeiro destinatário.
A ter-se seguido a tramitação normal, a documentação teria passado pelo Secretário de Estado. Não é citado despacho deste governante, pelo que é de supor que ele se teria limitado a transferir a documentação para o Director-Geral de Minas, sem recomendação adicional.
Era de esperar que o Director-Geral de Minas, sendo a pessoa mais directamente visada nas minhas acusações, reagisse de imediato, sem necessidade de ajudas, pois também delas prescindira para tomar decisões profundamente atentatórias da minha dignidade pessoal e profissional.
Mas não foi isso que aconteceu.
Da exposição subscrita pelo Director-Geral, que adiante comentarei, constam vários Anexos.
No identificado com o N.º 1, há despacho pedindo informações ao Subdirector-Geral responsável pela área do Serviço de Fomento Mineiro e pela da Indústria Extractiva.
No mesmo Anexo, é referido que este Subdirector-Geral pediu informação a Rui Reynaud “visto que, sendo Director do Serviço de Minas e Pedreiras, é o responsável pelo relançamento do Projecto de Caminha, onde o Eng.º Rocha Gomes vem trabalhando.”
Não me foi enviado este Anexo, pelo que desconheço os exactos termos dos despachos nele contidos.
Observo, porém, o “jogo do empurra”, em que se envolveram vários dos novos dirigentes, que se viram perturbados com a exigência de justificarem os seus procedimentos, eles que continuavam confiantes na manutenção da norma instituída de as minhas exposições não chegarem às mãos dos governantes, o que lhes tinha permitido, até então, pura e simplesmente ignorá-las.
O Director-Geral teve mesmo a insensatez de comentar, com insolente ironia, o facto de lhe ter sido, novamente enviada, agora para explicações, exposição que já conhecia.
Permitia-se concluir, sem o respeito que o Ministro lhe devia merecer, que eu repetira o gesto, por considerar que o primeiro documento ficara a nível do Chefe de Gabinete e não tivera o impacto que eu desejava!
Neste “jogo de empurra”, são deveras impressionantes as atitudes assumidas por Fernando Daniel.
Este Subdirector-Geral, em coerência com a declaração que fizera, logo no início do seu mandato, de que não ingressara no SFM para trabalhar, tornou-se exímio em fugir às suas responsabilidades.

No post 156, já descrevi as circunstâncias em que decorreu a minha presença em Lisboa, nos dias 6 e 7 de Fevereiro de 1984, em cumprimento de convocatória que ele me fizera, em termos muito cordiais (até se despedira com um abraço!), para eu comparecer, no seu gabinete, “com papéis”, a fim de conversar sobre o projecto de Caminha”, referindo o facto de Reynaud estar “meticulosamente” a tratar o caso das concessões.
Sem perceber a intromissão deste personagem, radicado em Lisboa, chamei-lhe, uma vez mais, a atenção para a necessidade de me serem entregues todos os documentos que Union Carbide tinha apresentado, exclusivamente graças às minhas diligências, quando rescindiu os contratos de prospecção, para deles fazer uso, no programa de prospecção em cumprimento na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha - Ponte de Lima.
Chamei também a atenção para a necessidade de eu ser informado sobre as actividades de Cominco e Geomina, em relação com os seus contratos de prospecção, pois não estava observando, no terreno, a presença de técnicos destas Empresas.
Convencera-me de que Daniel iria tentar perceber o que lhe mostrara, quando da sua visita de 6-12-83 (Ver post n.º 154)
Seleccionei alguns documentos e com eles me dirigi a Lisboa, no dia 6 de Fevereiro, conforme se combinara.
Sou surpreendido com a informação da secretária de Daniel de que este se sentira muito doente e tivera que regressar a casa, pedindo muita desculpa por não poder estar presente.
A secretária sugere-me, então, que fale com Eng.º Borralho, que tinha sido designado substituto de Daniel, nas suas ausências. Explico nada querer com tal personagem, a cujo passado pouco recomendável me referi sucintamente.
Ainda me aconselha a falar com Eng. Costa e eu digo não o conhecer e ser pessoa fora dos problemas que me tinham trazido a Lisboa.
Vinha para falar com Eng.º Daniel, com mais ninguém.
Após alguma hesitação, decidi ficar para o dia seguinte, na esperança de que Daniel melhorasse e já pudesse comparecer ao combinado encontro.
Em 7 de Fevereiro, noto, casualmente, a presença de Reynaud, que manifesta surpresa por me ver, declarando ignorar a convocatória de Daniel.
Na conversa cordial que estabelecemos, comecei por lamentar a doença de Daniel, dizendo ter muitos assuntos a tratar com ele e não apenas sobre Caminha.
Reynaud aproveitou a oportunidade para falar de um relatório, que disse estar a elaborar, sobre as minas de Covas, com base nos dados de Union Carbide!!!!
Parecia-me muito estranho que Reynaud nada revelasse sobre actividade própria, que estivesse a desempenhar, em cumprimento dos programas do SFM, sabendo-se quão atrasado se encontrava o estudo de muitas outras áreas do País, com grandes potencialidades para a ocorrência de minérios vários e estivesse a intrometer-se no projecto de Caminha, sem nunca lá ter efectuado qualquer trabalho e sem ter demonstrado sequer ter percebido o significado dos resultados das técnicas que lá se aplicavam.
Tomava a sua exposição como um exercício académico, procurando a aprovação do professor.
Nesta atitude, comentei que o seu conhecimento era muito incompleto, que não bastaria usar documentos de outros, que era necessário um conhecimento mais real, que só a presença nas minas, no terreno, facultaria.

Além disso, não era de técnico com a sua formação e mantendo a sua residência no Sul, que o projecto de Caminha estava necessitado.
Até Daniel percebera ser no domínio da geologia estrutural que maior carência se notava, apesar dos progressos conseguidos pelos cerca de 20 Geólogos que haviam passado pela Union Carbide.
Como Daniel não aparecia e as notícias sobre a sua “doença”, não permitiam contar com a sua presença, nesse dia, nem talvez no dia seguinte, resolvi regressar ao Porto.
Seguiu-se, então, o espectáculo indecoroso de Alcides, com a presença insultuosa de Borralho, que terminou com a exigência de um relatório descabido e a proibição eu realizar trabalho de campo … com a ameaça (!) de perda de ajudas de custo.
Revelando-se indivíduo grosseiro, sem o mínimo de educação, o Director-Geral chegou ao cúmulo de desmentir várias afirmações que eu fizera!! Nunca pensei que a DGGM pudesse atingir tão baixo nível, lembrando-me sobretudo da cultura e fino trato do primeiro Director-Geral que conheci, o Eng.º Luís de Castro e Solla e do primeiro Director do SFM, Eng.º António Bernardo Ferreira.
Tendo ido às instalações do SFM na Rua de Diogo Couto, para me encontrar com o Arquitecto Linhares, que comigo iria viajar até ao Porto, revelei a Reynaud a Ordem de Serviço do Director-Geral.
Reynaud mostrou-se surpreendido e até desolado, parecendo preocupado com tão lamentável atitude de Alcides.

Referidos os factos que deram origem às insolentes atitudes de Alcides para comigo, os quais estão pormenorizadamente descritos no post N.º 156, vou fazer os comentários que me são sugeridos pela leitura dos documentos da autoria de Rui Reynaud e de Alcides Pereira, transcritos no post anterior.

Continua

1 comentário:

Anónimo disse...

Exmo Sr. Eng. Rocha Gomes,

Visitei o seu blog quando fazia alguma pesquisa sobre os recursos minerais metálicos existentes em Portugal. Para além de ficar a conhecer recursos que não sabia existirem, reforcei a convicção de que Portugal tem tudo para ser uma economia industrial de base tecnológica, e que apenas permanece persistentemente neste atraso actual devido a factores que nada tem a ver com os recursos do território, condenando assim este país a definhar em vez de acompanhar países como por ex. a Suiça ou Holanda (em termos de riqueza e tecnologia). Embora tal seja pouco provável (talvez por factores análogos aos que refere nos posts), com estes recursos seria possível lançar em Portugal uma indústria metalúrgica de base e fina, permitindo assim obter o valor acrescentado a produtos semi-acabados ou acabados, em vez de exportar tais recursos para o exterior serem posteriormente valorizados, embora isto seja algo óbvio, não parece ser de mais continuar a referir-lo.
Com os meus melhores cumprimentos. Mário Brito, Finalista Eng. Mecânica.