terça-feira, 31 de maio de 2011

168 – Audiência concedida pelo Ministro Veiga Simão e suas consequências. Continuação 4

Reynaud atingiria o máximo da sua petulância ao permitir-se menosprezar a minha contribuição para a descoberta do jazigo de Neves – Corvo.
A sua atitude era característica de garoto irreverente, malcriado, a precisar de um bom puxão de orelhas, para castigar a afronta ao principal autor dos êxitos que justificavam a permanência do Organismo que o tinha acolhido.
Um SFM, que não apresentasse resultados positivos da sua actuação, já teria provavelmente sido extinto.
Reynaud estava a “cuspir na mão que lhe dava de comer”.

Como ficou claro, nos posts anteriores, a actividade deste personagem, no SFM, era “parasitária”.
Começara por se apropriar abusivamente de documentos respeitantes à actividade de Union Carbide, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima.
Daniel dizia que estava a estudar “metodicamente” os dados das concessões daquela Região.
A mim, Reynaud havia submetido a apreciação um cálculo das reservas de diminuta parcela do jazigo, repetindo cálculos muito mais rigorosos, feitos por Union Carbide.
Classifiquei este trabalho como exercício académico, de reduzido mérito, pois não se apoiava em dados colhidos por ele ou com a sua supervisão.
Mas Reynaud mostrava-se agora insatisfeito, por possuir apenas os dados de Union Carbide e achava natural pretender também os que eu tinha obtido, durante os 20 anos, em que vinha dirigindo os trabalhos na Região.
A sua qualidade de Director de Serviço autorizá-lo-ia a tal exigência.
Estava afinal a dar razão ao ex-Director do SFM, Jorge Gouveia, quando afirmou que a promoção de vários funcionários a cargos de chefia fizera diminuir o número de unidades de trabalho!!! (Ver post N.º 145).
Ele, como dirigente, não tinha que trabalhar, mas apenas utilizar o trabalho de outros.

Com este seu conceito sobre o papel dos Chefes, nas actividades do SFM, era lógico que se gerasse, no seu “esclarecido” espírito, a opinião de que, no caso de Neves-Corvo, eu me teria limitado a coordenar o trabalho realizado - ainda que de forma incompleta, como fez questão de salientar - pelos verdadeiros autores da descoberta!!!!

Se tivesse frequentado as minhas aulas de Prospecção Mineira, na Universidade do Porto, seguindo o conselho que eu já havia dado a Daniel, para tentar travar os seus constantes disparates, saberia que a primeira e importantíssima fase da prospecção é a Documentação.

Na vasta Documentação, arquivada nos vários departamentos da DGGM, encontraria, com muito maior desenvolvimento, o que consta dos meus posts N.ºs 3, 10, 11, 13, 14, 25, 26, 27, 28 e 32 até 43, sobre as grandes descobertas na Faixa Piritosa e a minha persistente e metódica preparação, para os concretizar, vencendo obstáculos, que pareciam intransponíveis, criados por incompetentes e malévolos dirigentes.

Reynaud, apesar de já ter demonstrado total inexperiência em prospecção mineira, entendia que a sua “opinião” sobre o mérito da minha contribuição para a descoberta de Neves – Corvo, mereceria ser tida em muito maior consideração do que as minhas declarações devidamente fundamentadas, “por muito valiosa que fosse a minha opinião e por elevada consideração que a mim próprio me merecesse”!!

O Director do SFM e o Director-Geral, como obviamente lhes convinha, apoiaram-se nas informações, de que encarregaram Reynaud, para dar cumprimento ao despacho do Ministro.

Lembro que Alcides até estivera presente na cerimónia solene organizada por representantes do Governo francês, em que Leca foi condecorado, por ser considerado o principal autor da descoberta!!!
Talvez este Director-Geral ignorasse que Leca me tinha telefonado, quando a descoberta aconteceu, cognominando-me “pai do jazigo” e que Leca era afinal um dos grandes responsáveis pelo atraso de 5 anos na concretização desse êxito.

Reynaud é de uma extrema insolência, ao realçar a “acção dos técnicos que, na maior parte, ainda naquela data integravam a equipa do SFM, em Beja”, os quais, em sua opinião “eu estava a esquecer, injusta e talvez intencionalmente”.

Na realidade, eu não esqueci, nem jamais esqueceria o meu veemente desejo de que justiça fosse feita, relativamente à acção dos técnicos da 1.ª Brigada de Prospecção, na sua maior parte residentes em Beja.
Mas essa justiça não era relativa à participação na descoberta, que foi pouco significativa.
Sempre foi minha intenção vê-los devidamente responsabilizados pelas atitudes criminosas que assumiram, as quais representaram o início da destruição do SFM.

Soares Carneiro já se havia referido á minha preocupação com a justiça, a propósito de uma irregularidade que queria cometer, para satisfazer “cunha” de governante, ao censurar-me porque “a minha mania das justiças estragava tudo” (Ver post N.º 50).
Naquela data (1972), ainda havia algum respeito pela ética e a irregularidade não chegou a ser praticada, mas após a Revolução, a anarquia passou a ser regra na DGGM e o conceito de justiça passou a ser substituído pelo de “salve-se quem puder!”

Apesar dos meus insistentes apelos, nunca se procedeu ao inquérito para que os traidores da Brigada de Beja comprovassem ter eu ocasionado “enorme prejuízo ao Estado, não só pelos problemas de ordem burocrática e administrativa de vária ordem mas principalmente pelas deficiências no planeamento, execução e controle das vastas e delicadas tarefas a cargo desta Brigada” (Ver post N.º 83).
Pela sua flagrante oportunidade, registo que, por injúrias muito menos graves, o ex-ministro da Saúde, Correia de Campos, foi severamente condenado, em tribunal, por ofensas à honra de dois ex-gestores do Hospital de S. João. (Ver pág. 15 do Jornal de Notícias de 20-5-2011).

Curiosíssima a contradição do judicioso Reynaud:
Conhecedor dos crimes praticados pelos técnicos da equipa de Beja, os quais eu lhe revelara durante a visita à área de Caminha, preferiu ignorá-los e fazer o elogio desses técnicos, o que significa ter concordado com as acusações que me fizeram, tornando-se portanto, cúmplice.
Ao mesmo tempo, reconhece a “longa experiência e conhecimentos meritórios que possuo”, assinalando porém, que passei a manifestar “atitudes e opiniões de índole destrutiva”, por não me “enquadrar nas “estruturas” (!!) instituídas pela nova classe dirigente. Nunca cheguei a saber a que estruturas se referia!
Também Alcides, como adiante comentarei, salienta a “minha validade como Técnico e o bom trabalho desenvolvido anteriormente à sua nomeação para o cargo de Director-Geral”.

A realidade é que a participação dos técnicos residentes em Beja, nos êxitos conseguidos, foi muito pouco significativa, apesar das excepcionais condições que lhes proporcionei para se tornarem especialistas nos métodos, de cuja aplicação os encarreguei.
A selecção das áreas para estudo, a orientação dos trabalhos e a interpretação dos resultados sempre estiveram essencialmente a meu cargo.

A actividade no campo e grande parte do trabalho de gabinete eram realizados pelo pessoal das Secções, sob a supervisão de Agentes Técnicos de Engenharia, que haviam sido instruídos principalmente por mim, nas diversas tarefas a executar para aplicação das técnicas de prospecção geológica e geofísica.
A contribuição das Secções foi muito mais importante que a participação dos técnicos com cursos superiores, residentes em Beja, os quais pouco se deslocavam ao terreno.

Devo declarar que, em 1963, quando comecei a organizar, a 1.ª Brigada de Prospecção, com Agentes Técnicos de Engenharia e outro pessoal de Secções da Brigada do Sul, eu esperava que integrando também Geólogos e Engenheiros de Minas conseguiria melhorar a qualidade dos estudos e consequentemente aumentar a eficácia na obtenção dos objectivos visados pelo SFM.
Embora os Geólogos e os Engenheiros, que ingressaram na Brigada, fossem, na sua generalidade, totalmente ignorantes nas técnicas e nas áreas de que os encarreguei, eu esperava que evoluíssem, no decurso do tempo, de modo a tornarem-se bons especialistas, em tais domínios.
Tive, porem, que me conformar com a modesta capacidade que todos eles demonstraram.
Os Geólogos conseguiram mesmo aliar desonestidade científica à sua modesta capacidade técnica, pois aproveitando-se de resultados dos métodos geofísicos e geoquímicos, a cargo dos Engenheiros, apresentavam-se como os principais autores dos êxitos, sendo certo que a sua contribuição foi, por vezes, até negativa.
Vários casos ocorreram, sobretudo com Delfim de Carvalho, sendo paradigmático o artigo sobre a descoberta de Neves-Corvo, com grosseiros erros, que se atreveu a escrever, conseguindo publicação em “Economic Geology”, não obstante ter sido nula a sua intervenção nesse êxito.
Outros casos estão expostos no post N.º 86.

Se o opinante Reynaud tivesse consultado os relatórios da 1.ª Brigada de Prospecção, desde a data da sua criação, teria constatado o contraste de resultados, entre o período de 10 anos (1964 a 1974) em que estivera sob a minha chefia e o idêntico período (1975 a 1984), em que deixara de me estar subordinada.

Foi no primeiro período que se fizeram as maiores descobertas de jazigos minerais, em toda a história do SFM e elas aconteceram, em todos os núcleos em que se fez a aplicação das técnicas geológicas, geofísicas e geoquímicas por mim introduzidas no SFM.
Citarei, por exemplo, as seguintes, de Norte para Sul:
1 – Com pessoal da Secção de Vila Viçosa - jazigo de ferro de Alagada (Ver post Nº 46);
2 – Com pessoal das Secções de Serpa e Ferreira da Alentejo)) - Jazigo de ferro de Vale de Pães, na região de Cuba – Vidigueira, (ver post N.º45);
3 – Com pessoal da Secção de Ferreira do Alentejo - jazigos de zinco, cobre e chumbo, de Estação e Gavião, em Aljustrel (Ver posts N.ºs 35 e 36);
4 – Com pessoal das Secções de Castro Verde e Ferreira do Alentejo - Jazigo de cobre, zinco, estanho e chumbo de Neves-Corvo (Ver posts N.ºs 37 a 43).
5 – Com pessoal da Secção de Ferreira do Alentejo, foi também no mesmo período que se descobriram as mineralizações cupríferas na zona do Salgadinho, da região de Cercal do Alentejo, a que adiante me referirei.

Desde que fui demitido “a título provisório” da sua chefia, isto é, durante os 9 anos que decorreram de 1975 até à data do depoimento de Reynaud, a Brigada não mais obteve qualquer êxito.
Delfim de Carvalho, que se auto-nomeara dirigente desta Brigada, apesar das gravíssimas acusações que subscreveu, teve um inesperado descuido, ao declarar publicamente que, com o meu afastamento “nada parou”, “tudo continuou”. (Ver post N.º101)
A língua traiu o traiçoeiro.
Se tudo continuara, se nada parara, teria continuado “o enorme prejuízo ao Estado, ... no planeamento, execução e controle das vastas e delicadas tarefas a cargo da Brigada.” que, na sua “douta” opinião eu tinha ocasionado (ver post N.º83).
Mas o que ele pretendia, então, afirmar, era que a minha falta não se fizera sentir e que novos êxitos estavam em preparação e iriam acontecer. Lá estava ele para os concretizar!
Deveras lamento que tudo aquilo não tivesse passado de fanfarronada, idêntica á que Daniel viria a manifestar.
Pude, efectivamente, constatar que a falta da minha supervisão estivera bem patente, em erros escandalosos, facilmente observáveis em artigos publicados, nos quais apresentaram como êxitos, resultados negativos, envolvendo avultados dispêndios, em campanhas deficientemente conduzidas.
Denunciei alguns desses erros ao Ministro da tutela, mas não houve punição dos seus autores.
Cheguei a aproveitar textos publicados por técnicos da equipa de Beja, em pontos de exame para os meus alunos da cadeira de Prospecção Mineira detectarem os erros graves neles contidos. Em futuros posts, apresentarei cópias desses textos.

Nos próximos posts, continuarei a análise dos depoimentos de Reynaud, Daniel e Alcides, que reproduzi no post N. 165

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