quarta-feira, 1 de outubro de 2008

15 – A importância do Plano Marshall na actividade do SFM

Quando em 1948, assumi a chefia da Brigada do SUL (BS) do SFM, decorriam trabalhos de pesquisa e reconhecimento em diversas minas integradas me áreas de estudo atribuídas às Secções de Montemor-o-Novo, Alvito, Moura, Cercal do Alentejo e Odemira.

Todos estes trabalhos enfrentavam grandes dificuldades na sua execução, não só por escassez de material apropriado, mas sobretudo pelo péssimo estado de conservação do que se encontrava em utilização, por ter sido adquirido, já com muito uso, a empresas alemãs que estiveram explorando volfrâmio no Centro e Norte do País, durante a 2.ª Guerra Mundial.

A Secção de Cercal do Alentejo, que era a mais importante, dispunha de três moto-compressores, distribuídos por três frentes de trabalho, que estavam na maior parte do tempo avariados, e o recurso era fazer os furos para colocação dos explosivos, à broca e à maça (!) e melhorar os caminhos de acesso às minas, para ocupar o pessoal, durante o período das reparações.

Perante a situação que encontrei, tomei a decisão de concentrar dois moto-compressores numa única frente de trabalho e mandar proceder a uma reparação eficaz do terceiro numa oficina de Lisboa. Reparado este, mandava reparar outro e assim ia consegui manter em contínuo progresso uma frente de trabalho.

A Secção de Alvito tinha em avanço uma galeria, com perfuração manual, com base em anomalia magnética registada durante campanha orientada pela ABEM de Estocolmo, usando um magnetómetro de Thalèn-Tiberg.
A Secção dispunha de um pequeno moto-compressor, mas estava avariado, com a cambota partida! Levou tempo a substituição desta cambota!

Nas Secções de Montemor-o-Novo, Moura e Odemira não havia material para perfuração mecânica, recorrendo-se à perfuração à broca e à maça!!

No início da década de 50 do passado século, o SFM foi beneficiado com o fornecimento de valiosos equipamentos oferecidos pelos Estados Unidos, ao abrigo do Plano Marshall.

Dentre as equipamentos recebidos constavam moto-compressores e grupos electrogéneos de que a BS estava tão necessitada.

Foram também recebidos: material de laboratório para ensaios de preparação mecânica de minérios, uma lavaria de carácter semi-industrial, um espectrógrafo de emissão, fornos eléctricos e diversos outros equipamentos. Só não constava um gravímetro!

A sede do SFM funcionava então em exíguas instalações num antigo palacete da Rua de Santos Pousada, onde funcionava também a Circunscrição Mineira do Norte que estava encarregada da atribuição de concessões mineiras e da fiscalização da respectiva actividade.

Haveria pois que conseguir instalações para albergar a lavaria, os fornos eléctricos e respectivo transformador para receber corrente em alta tensão e para ampliar os Laboratórios, de forma a poder dar resposta mais eficaz às solicitações sobretudo da BS. Em futuro post, me referirei a recomendações que recebi no sentido de limitar o número de amostras para análise química mesmo com prejuízo da qualidade dos estudos!!

Foi assim que se deu origem à transferência do SFM para as instalações de S. Mamede de Infesta, onde ainda hoje funcionam o Laboratório e outros departamentos do actual Instituto Nacional de Geologia e Energia.

Ao Arquitecto António Linhares de Oliveira, que iniciou a sua carreira profissional no SFM como desenhador e que, mercê da sua enorme força de vontade, conseguiu conciliar a actividade no SFM com os estudos na Faculdade de Belas Artes, se ficaram devendo estas belas instalações e outras que depois vieram a ser construídas em terrenos vizinhos que conseguiu lhe fossem anexados para alojar testemunhos de sondagens e para gabinetes de Técnicos que vieram dar a sua colaboração a estudos de geologia e outros. Aqui manifesto a este grande Amigo, a minha admiração e apreço pela sua luta também permanente em prol do SFM.

O espectrógrafo teve pouco uso, apesar de ser na época aparelho de elevado valor e grande utilidade, acabando no decurso dos anos por se tornar obsoleto, perante a maior eficácia de outras técnica mais rigorosas e de mais rápida execução que foram surgindo.
A lavaria semi-industrial mantém-se sem uso, tendo funcionado, que eu saiba, mais ou menos durante uma hora, apenas para demonstração aos congressistas do CHILAGE (Congresso Hispano-Luso-Americano de Geologia Económica), em 1970-71. Não se previra local para depósito dos estéreis!
Os fornos eléctricos nunca funcionaram!

Quanto ao material mineiro, foi de grande utilidade sobretudo no Sul do País, permitindo intensificar os trabalhos, em todas as Secções da BS e realizar outros que, sem ele, se tornariam muito mais difíceis ou impossíveis.

Em próximos posts descreverei os êxitos obtidos em todas as Secções da BS, durante o período de 1948 a 1964, em que dirigi os seus trabalhos, neles colaborando activamente.

2 comentários:

cesio137 disse...

Caro Professor,
Engº Rocha Gomes:

Foi com bastante agrado que tomei contacto com o blog que criou. É importante que se saiba o que o SFM nas décadas de 1940 a 1960 e o que o Estado desbaratou na FPI nas décadas de 1970-90.
A prova que o seu trabalho continua a ser útil e a interessar algumas pessoas, é o facto de eu ter estado, na semana passada, a consultar o seu (impressionante) relatório sobre as minas do Cercal.

Se me puder dar o seu contacto, agradeço, pois um destes dias gostaria de o rever.

António Moura
DG-FCUP

Rocha Gomes disse...

Caro Dr. António Gomes Moura:

Muito lhe agradeço o seu simpático comentário.
Iniciei este blogue em Agosto passado, na presunção de que poderia ser útil ao País revelando factos ocorridos durante a minha longa permanência no SFM, pois alguns deles têm sido distorcidos por pessoas que neles não tiveram intervenção significativa e até sugerem terem sido eles os autores de êxitos conquistados. A realidade é completamente oposta, pois além de pouco ou nada terem contribuído para eles, foram os principais responsáveis pela destruição de um Organismo essencial ao País.

Quanto ao relatório de minha autoria sobre os jazigos ferro-manganíferos de Cercal - Odemira, a ele farei adequada referência no próximo post.

Quem não se deixou impressionar com este relatório foi o dirigente do SFM que estava em funções em 1957. Já antes de o receber, tinha decidido não o publicar, alterando assim normas instituídas relativamente a publicações.

Terei muito gosto em dar a colaboração que ainda me for possível, no caso Cercal – Odemira, ou noutros em que tenha participado, durante a minha vida profissional.

O meu contacto é: albertinogomes@tvtel.pt

Um abraço do professor que ainda se lembra da amostra de bindheimite que lhe apresentou, numa aula, para identificar, desconhecendo que ela tinha origem em sanja por mim mandada abrir na região de Moura, para investigar a causa de anomalia geoquímica.
A correcta identificação ficou a dever-se ao criterioso trabalho do Dr. Orlando da Cruz Gaspar.