sábado, 11 de outubro de 2008

17 – A descoberta do jazigo de chumbo, zinco e cobre do Torgal

Este foi mais um caso de obstrução à actividade da Brigada do Sul (BS) e de deliberada ocultação de um êxito do SFM, em que estive directamente envolvido.

Torgal é um jazigo rico em galena, blenda e calcopirite e com significativo teor de prata, por mim descoberto, em Novembro de 1953, no Barranco da Corte Seixo, afluente da Ribeira do Torgal, por sua vez afluente do Rio Mira, quando investigava a continuidade das manchas de pórfiros que anteriormente havia encontrado na Mina do Cerro dos Cunqueiros, na Herdade do Castelo.

Procurava então avaliar a extensão destas manchas para projectar a campanha de levantamentos geológicos que depois foi empreendida, sobre base topográfica à escala 1:5000, cobrindo uma superfície de 399 km2.

No referido barranco onde penetrei com dificuldade dada a espessa vegetação que o cobria, encontrei blocos de consideráveis dimensões, com mineralização de galena, blenda, calcopirite e carbonatos e óxidos de ferro e manganés, sem indícios de grande transporte, fazendo prever grande proximidade do jazigo de que eram oriundos.

Liberta a linha de água do mato e silvado que densamente a revestiam, nas imediações do local mais a montante onde se encontraram os blocos e após ligeira escavação na encosta virada a Nascente, foram postos a descoberto, à cota de 32 m acima do nível do mar, dois filões, distantes, entre si, de cerca de 7 metros, com enchimento análogo ao dos blocos.

O jazigo assim descoberto, que passei a designar por Torgal, foi, em seguida objecto de trabalhos de pesquisa, apenas á cota de 32 m e a cotas superiores.

Por não se dispor de material de esgoto, todos os trabalhos se situaram acima do nível hidrostático, tendo ficado definidas as seguintes reservas prováveis:
a) Filão principal: 5800 toneladas de minério com 13,2% de Pb: 6,4% de Zn; 0,6% de Cu e 153 gr/T de Ag
b) Filão secundário: 3200 toneladas de minério com 19,5% de Pb; 6,8% de Zn; 0,2% de Cu e 185 gr/T de Ag

Era essencial investigar o jazigo do Torgal a maior profundidade, preferivelmente por sondagens, como se sugeriu, até porque se havia observado um notável enriquecimento, da superfície para os níveis inferiores.

Esteve também prevista, no Plano de trabalhos da BS para 1956, uma ligação, por galeria, com o jazigo de ferro e manganés dos Pendões, começando à cota de 32m, para conhecer a evolução do enchimento deste jazigo em profundidade.

Tal objectivo, que se tinha tentado atingir por meio de duas sondagens, não tinha sido conseguido porque os furos sofreram desvios tais, na sua trajectória, que o seu valor foi praticamente nulo.

A enorme pressão da Direcção do SFM no sentido de encerrar a Secção impediu a execução destes trabalhos.

Concluída a primeira fase de estudos do jazigo do Torgal, recolheram-se, junto à entrada das galerias 1, 2 e 4, cerca de 100 toneladas de minério com teores muito superiores aos que referi, por terem resultado de uma escolha manual.

Dos trabalhos executados consta o relatório que apresentei em Dezembro de 1956, em co-autoria com o Agente Técnico de Engenharia Orlando de Barros Gaspar, que pouco tempo antes tinha ingressado no SFM, ficando destacado na Secção de Cercal do Alentejo da BS para prestar, sob minha orientação, o apoio local à actividade em curso.

O Relatório, preparado para publicação, tem 48 páginas dactilografadas, 9 peças desenhadas, 5 fotografias e mapas de avanços e despesas discriminando pormenorizadamente o custo de cada um dos trabalhos executados.
Tem os seguintes capítulos:
1 - Introdução
2 - Trabalhos de pesquisa realizados (à superfície; subterrâneos)
3 - Características do jazigo (Filão principal; Filão secundário)
4 - O minério
5 - Reservas
6 - Outras ocorrências de mineralizações de chumbo, zinco e cobre, na Região de Cercal – Odemira
7 - Prospecção geofísica
8 - Despesas efectuadas
9 - Conclusões e Resumo
10 – Summary
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A importância desta descoberta resulta do facto de se ter confirmado a hipótese de os filões ferro-manganíferos da Região de Cercal – Odemira poderem evoluir, em profundidade para jazigos de sulfuretos do Grupo BGPC (blenda, galena, pirite, calcopirite).

Não foi apenas no Torgal que se encontraram sulfuretos de chumbo, zinco e cobre. Também nas minas de Pendões, Maceira, Furnas da Varejeira e Courela dos Gaviões, situadas na sua proximidade, ocorrem estes sulfuretos, embora com menos exuberância.

Todas estas ocorrências, conjugadas com o ambiente geológico idêntico ao da Faixa Piritosa, permitiram formular a hipótese de se tratar de remobilizações de grandes concentrações de sulfuretos maciços, tal como se considera que as ocorrências cupríferas de Algaré, Barrigão. Brancanes e Porteirinhos sejam remobilizações originadas no jazigo de Neves – Corvo.

A esta hipótese me referi já no artigo publicado em 1955 sob o título “Prospecção de Pirites no Baixo Alentejo”.

Quando o SFM dispôs de meios adequados para investigar esta hipótese, foram realizadas novas campanhas de prospecção, por métodos geofísicos e geoquímicos. A elas me referirei oportunamente, pois tenho estado a descrever apenas estudos efectuados no âmbito da Brigada do Sul, isto é, no período de 1948 até 1964.

O Relatório que tenho vindo a citar nunca foi publicado e para esta decisão do Director do SFM não poderia ser invocada a extensão, pois tem apenas 48 páginas dactilografadas.

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