sábado, 18 de outubro de 2008

20- A Região cuprífera de Barrancos

Os estudos efectuados pelo SFM, nesta Região Mineira, poderiam ser considerados como paradigma para investigações em outras áreas, não fossem as perturbações introduzidas por dois inexperientes Directores do SFM e pelo então denominado Conselho Superior de Minas que era composto por Engenheiros Inspectores Superiores, em fim de carreira, mais burocrática que técnica, fazendo jus ao epíteto de “engenheiros de papel selado” como um Director-Geral chegou a intitulá-los.

Aqui se tentou cumprir um programa de prospecção, seguindo disciplinadamente as suas diversas fases, tal como eu viria a ensinar de 1970 até 1990, nas aulas de Prospecção Mineira do Curso de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, quando assumi as funções de Professor daquela cadeira, para que recebi convite do Professor Montenegro de Andrade.

De facto, começou por se proceder, na sede da Brigada do Sul, à pesquisa exaustiva de toda a documentação existente nos Arquivos da Direcção-Geral de Minas acerca das concessões mineiras outorgadas naquela Região e da informação geológica contida sobretudo em publicações dos Serviços Geológicos de Portugal.
Usaram-se também, obviamente, as informações actualizadas contidas em recentes tratados sobre jazigos minerais e estudos de autores espanhóis sobre a zona fronteiriça de Villlanueva del Fresno.

Destaco o minucioso estudo de Nery Delgado sobre o Sistema Silúrico Português, com data de 1908, e os relatórios de Pedro Vítor da Costa Sequeira, João Ferreira Braga, Frederico de Albuquerque d’Orey, J. A. C. Neves Cabral, Jacinto Pedro Gomes, Leopoldo Barreiro Portas (que ainda conheci pessoalmente e que julgo avô dos actuais políticos Paulo Portas e Miguel Portas) e Manuel de Sousa Birne.

Foi assim preparado um dossiê que entreguei à segunda Brigada de Levantamentos Litológicos, que ficou encarregada pela Direcção do SFM, de proceder a uma fase de levantamentos litológicos orientada sobretudo no sentido de seleccionar os locais mais propícios às concentrações cupríferas, tidas em conta as condições de ocorrências destes minérios

Não foi muito feliz a actuação desta Brigada, como aliás já era de esperar, pelo seu passado em outras áreas. Muito pouco ou nada se adiantou relativamente ao que já era conhecido de estudos anteriores, sobretudo de Nery Delgado.

Com o conhecimento geológico que foi possível conseguir, passou-se, então a uma fase de prospecção pelo método geofísico de prospecção electromagnético Turam, o único de que a Brigada do Sul dispunha e que era apropriado para detectar formações de baixa resistividade eléctrica, como era de esperar dos enchimentos filonianos, mineralizados ou não, pois, tratando-se de zonas de fractura, continham águas de infiltração tornadas condutoras pela dissolução de materiais do enchimento ou das rochas encaixantes.

Esta campanha teve pleno êxito.

Foi revelado, numa extensão de 4 km, o sistema filoniano de Aparis, através da anomalias electromagnéticas muito evidentes, demonstrando assim a eficácia desta técnica na detecção de jazigos filonianos.

Desta campanha, seus resultados, justificativos de projecto de 30 sondagens, consta o relatório que apresentei em co-autoria com o Agente Técnico de Engenharia João José de Oliveira Barros sob o título “Prospecção e pesquisa de filões cupríferos na Região de Barrancos”.

Este relatório não foi publicado, embora tivesse sido preparado para tal fim.

Todavia, quando em 1965 fui encarregado de representar a Metrópole em Jornadas de Engenharia que tiveram lugar em Moçambique, tive ocasião de apresentar o êxito obtido pelo método electromagnético Turam na detecção do sistema filoniano de Aparis, juntamente com outro importante êxito obtido por variadas técnicas geofísicas e geoquímicas, a que oportunamente farei referência.

A comunicação que apresentei às Jornadas, sob o título “Dois casos de aplicação de técnicas geofísicas e geoquímicas, à prospecção mineira na Metrópole” foi publicada pela Sociedade de Estudos de Moçambique.

No próximo post, darei notícia dos importantes trabalhos efectuados, sob minha orientação, para reconhecimento do jazigo de Aparis, dos resultados conseguidos e da falta de acolhimento da minha sugestão de aproveitamento desta Mina, como escola de formação de técnicos da indústria mineira, complementando a formação universitária

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