Quando, em 1948, fui designado para chefiar a Brigada do Sul do SFM, já se encontravam em curso, a cargo da Secção de Moura, trabalhos nas Minas de ferro e zinco, denominadas Preguiça N.º 1, Preguiça N.º 2, Herdade de Vila Ruiva e Herdade de Vila Ruiva N:º 1.
Sob minha direcção, estes trabalhos continuaram até onde o permitiram os escassos meios então disponíveis.
Foi, uma vez mais, impossível ultrapassar o nível hidrostático, perante o elevado caudal de água a esgotar, para atingir níveis onde pudesse ser estabelecido contacto com o minério primário.
Perante tal impossibilidade, decidi apresentar relatório descritivo dos trabalhos efectuados e dos resultados obtidos, terminando com programa a cumprir para mais amplo conhecimento do jazigo.
A seguir, transcrevo, pelo seu interesse, parte do Resumo do Relatório entregue em Maio de 1956, com o título “Formações zincíferas da Serra da Preguiça”, que foi subscrito não apenas por mim, como seu autor, mas também pelos Agentes Técnicos de Engenharia João José de Oliveira Barros e Carlos de Araújo, aos quais se ficou devendo precioso apoio local aos trabalhos realizados:
“Admitimos que o minério calaminar tem origem em sulfuretos, principalmente pirite e blenda, que existiriam em veios e em impregnação nos calcários, os quais teriam sido submetidos a cementação por águas superficiais carregadas de anidrido carbónico.
Para reconhecimento do jazigo, além de desobstruir os antigos trabalhos, abriu o Serviço 33 sanjas, 830 metros de galerias e 170 metros de poços verticais e inclinados, cabendo à Mina da Herdade de Vila Ruiva 76% do total.
A despesa efectuada foi de 1 026 475$10.
A irregular distribuição dos núcleos mineralizados não permite uma avaliação de reservas certas. No entanto, com base em hipóteses que formulamos, admitimos existirem reservas prováveis de 30 000 toneladas com 32% de zinco na Mina da Herdade de Vila Ruiva e 70 000 toneladas com 7% de zinco, na Mina da Preguiça N.º 2, não sendo de considerar as existências das outras Minas.
Não pretendemos ter descoberto todas as bolsadas de minério útil.
Para localização das que ainda possam existir, julgamos aconselhável, de preferência à adopção dos dispendiosos processos clássicos, o emprego do método geoquímico de prospecção nas zonas não contaminadas da grande mancha calcária onde se situam estas formações;
do método sísmico de prospecção, considerando a provável diferença de propagação das ondas sísmicas nos calcários e nos núcleos ocreosos;
de sondagens para reconhecimento profundo da principal formação de minério compacto e eventual contacto com sulfuretos primários;
de possíveis sondagens com base nos resultados dos levantamentos geoquímico e sísmico;
de sondagens com comprimentos de 10 a 15 metros no alinhamento das concentrações zincíferas de Vila Ruiva e Preguiça N.º 2, com vista à localização de novos núcleos ocreosos.
À superfície, ficaram em depósito cerca de 4 000 toneladas com um teor médio de 17,8% de Zn, provenientes dos trabalhos antigos e dos efectuados pelo Serviço.”
Este Relatório esteve, como outros de que fui autor ou coautor, “metido na gaveta”, durante anos. Foi publicado em 1958, em “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”, depois de eu me ter dirigido pessoalmente ao Director-Geral de Minas a perguntar porque estava a ser feita tal discriminação, quando estudos de muito menos importância eram publicados.
Em resultado da publicação, a “Compagnie Royale Asturienne dês Mines”, que já se encontrava instalada em Portugal, mostrou-se interessada em firmar contrato com o Estado Português, com vista a dar cumprimento a um programa de prospecção, pesquisas reconhecimento e exploração, idêntico ao que por mim havia sido apresentado.
O contrato foi firmado, sem me ter sido pedido parecer e, quando tomei conhecimento do seu clausulado, logo me surpreendeu o facto de apenas ter sido exigido como contrapartida pelos direitos outorgados, além da natural entrega de relatórios das actividades desenvolvidas, o pagamento das despesas pouco significativas, referidas pormenorizadamente no Relatório.
Tendo-me deslocado a Lisboa, mostrei esta minha surpresa ao Director-Geral, informando-o de que, contando apenas com o minério em depósito no exterior, havia valor muito superior ao exigido no contrato.
Tinha havido uma incorrecta interpretação do articulado do Decreto-lei de criação do SFM. As compensações ao Estado devem, obviamente, estar apenas relacionadas com os valores revelados e não com as despesas originadas pela sua revelação.
Reconhecendo este erro, o Director-Geral disse nada já haver a fazer...
A CRAM logo se empenhou na exploração das reservas do minério rico da Mina da Herdade de Vila Ruiva, ao mesmo tempo que iniciou o cumprimento de um programa de levantamentos geológicos e geoquímicos, extensivo a vasta área que lhe foi adjudicada, seguido da execução de sondagens em locais de anomalias.
Na Mina da Preguiça N.º 2, procedeu, também, à abertura de um poço vertical interior, a partir do 3.º piso, para instituição de um 4.ªºpiso, onde entraria em contacto com o minério primário evidenciado nas sondagens.
Todavia, também a CRAM, apesar dos poderosos meios que disponibilizou, considerou anti-económica a exploração das reservas evidenciadas e a evidenciar, perante o previsível dispêndio para manter a Mina livre das águas.
A CRAM ainda contactou o Organismo de Estado, então existente, denominado Junta de Colonização Interna, para colaboração nas despesas de esgoto desta água fóssil, considerando que ela representava uma apreciável riqueza, numa região do País com boas aptidões agrícolas, muito carecida de água.
Não tendo obtido resposta, decidiu abandonar o seu projecto de aproveitamento dos minérios zincíferos da Região de Moura.
É justo salientar o notável progresso trazido por esta Companhia ao conhecimento da faixa que, mais tarde, passei a designar por Faixa Magnetítica e Zincífera Alentejana.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
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