quinta-feira, 18 de setembro de 2008

10 – A minha insistência no estudo da Faixa Piritosa

A Companhia sueca ABEM, detentora da patente do método electromagnético Turam, quando confrontada com a profundidade até onde o método teria capacidade para detectar jazigos de pirite, sempre afirmou que jazigos profundos seriam detectáveis, se contivessem reservas susceptíveis de exploração remuneradora. Os mais profundos, para serem exploráveis, teriam de ter maior volume, o que facilitaria a sua detecção.

Não foi esta, porém, a minha conclusão, depois de terminados os trabalhos recomendados no relatório final da Companhia, respeitante à campanha de 1944-49.

Na verdade, a maioria dos trabalhos realizados pelo SFM (sobretudo sondagens) por recomendação da ABEM, encontrou xistos carbonosos e grafitosos, com pequena impregnação de pirite, os quais, sendo bons condutores eléctricos, geraram anomalias do campo electromagnético idênticas às que seriam de esperar de jazigos de pirite. Como estes xistos afloravam, descoloridos à superfície, impediam a penetração do campo primário (indutor), tornando indetectáveis, neste ambiente geológico, os procurados jazigos de pirite.

O grande êxito conseguido com a descoberta dos jazigos de Cerro do Carraço e Moinho, não me fez, pois, esquecer as limitações do método Turam.

Por isso, passei a fazer figurar, a partir de 1951, nos Planos da Brigada do Sul, trabalhos de prospecção por outros métodos, com vista à descoberta de jazigos de pirite.

Assim, no Plano para 1952, apresentado em 8-6-1951, escrevi, a pág. 6, a propósito da Bacia Terciária do Sado.
…“Prováveis campanhas de prospecção sísmica e gravimétrica,… executadas, separadamente ou em conjunto, com vista à detecção de massas de pirite semelhantes às em exploração na chamada Faixa Piritosa Alentejana”.

No Plano para 1953, elaborado em 24-6-1952, escrevi, a pág. 5:
“Ensaio do método gravimétrico de prospecção para a detecção de massas de pirite semelhantes às em exploração na Faixa Piritosa".
… Na hipótese de se provar ser o método aplicável, e há razões para crer que o seja, se se empregar um dos modernos tipos de gravímetros e se a profundidade a que se encontre uma possível massa de pirite não for excessiva, poderá ensaiar-se igualmente nas áreas já prospectadas ou a prospectar com o Turam, onde se registaram anomalias de interesse.
… Sendo os princípios em que os dois métodos se baseiam inteiramente diferentes, da sua aplicação poderia resultar uma maior segurança na localização dos trabalhos de confirmação e, consequentemente, um menor dispêndio.”

Em 13-6-1953, escrevi, no Plano de Trabalhos da Brigada do Sul para 1954, a pág.4 do capítulo E - Pirites, o seguinte:
“Ensaios com gravímetros sobre massas minerais conhecidas, especialmente na revelada pelo Turam no Cerro do Carrasco, na concessão de S. João do Deserto e Algares.
... Prospecção gravimétrica na região do Louzal, onde foram assinaladas anomalias com o Turam provenientes da alta condutividade de xistos carbonosos e grafitosos e, onde portanto, as possibilidades mineiras se mantêm."


Além da Faixa Piritosa, muitas outras áreas foram incluídas nos Planos da Brigada do Sul para investigação por técnicas geofísicas.

Por essa razão, o Director do SFM decidiu criar, em 1952, uma Brigada de Prospecção Geofísica, na sua directa dependência. À actuação desta Brigada me referirei oportunamente.

Devo, desde já registar que, apesar de continuar a incluir, nos Planos da Brigada do Sul, a realização de trabalhos por métodos geofísicos (com preferência pelo gravimétrico) e geoquímicos, só em 1962 (!) foi possível iniciar a aplicação directamente pelo SFM da técnica gravimétrica.

Do artigo “PROSPECÇÃO DE PIRITES NO BAIXO ALENTEJO”, publicado em 1955, respigarei no próximo post, pela sua extrema importância e actualidade o que escrevi no capítulo “Considerações finais”.

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