A criação da Brigada de Prospecção Geofísica (BPG) foi mais um clamoroso erro do Director do SFM que exerceu o cargo no período de 1948 a 1964, trazendo como consequência graves prejuízos para a economia nacional, conforme irei demonstrar.
Uma BPG de âmbito nacional, na dependência do Director do SFM, teria plena justificação se houvesse projectos de todas as Brigadas regionais (Norte, Centro e Sul) envolvendo técnicas geofísicas e se tivesse sido possível nela integrar técnicos qualificados e interessados em dar cabal cumprimento a esses projectos.
A realidade foi, porém, bem diferente. Por um lado, apenas a Brigada do Sul (BS) apresentava, nos seus Planos de Trabalhos, projectos por variados métodos geofísicos. Por outro lado, só na BS existiam técnicos com experiência em alguns dos métodos geofísicos cuja aplicação estava prevista. Acresce que para a BPG foram destacados técnicos pouco interessados em se prepararem para a execução dos projectos da BS.
Para a chefia da BPG foi nomeado um Engenheiro que, na Brigada do Centro, tinha tido reduzido contacto com as técnicas de prospecção mais indicadas para a detecção de jazigos de minérios metalíferos. Tinha assistido à aplicação do método sísmico de refracção por empresa privada e, quando o SFM adquiriu um equipamento desta natureza, para o poder utilizar, teve que ser auxiliado durante vários meses por um dos engenheiros suecos que actuavam na Brigada de Prospecção Eléctrica.
Tenho conhecimento da aplicação de métodos eléctricos, com equipamento muito rudimentar, na região de Ponte de Lima, em prospecção de ouro em aluviões, sem resultados de interesse.
Para início da sua actuação, no Sul do País, escolhi a região de Cuba - Vidigueira, onde seria aplicado o método magnético com vista à detecção de jazigos magnetíticos.
Foi por meu intermédio, dadas as boas relações que mantive com Engenheiros da ABEM de Estocolmo, que foram adquiridos dois magnetómetros de compensação, de recente criação daquela Empresa sueca.
O trabalho de campo foi iniciado com a minha colaboração, pois verifiquei que os dois Engenheiros da BPE nem experiência tinham em piquetagem dos pontos a observar.
Para as observações magnéticas, a cargo de um Agente Técnico de Engenharia, foi posto em serviço apenas um magnetómetro, apesar da vastidão da área a investigar, ficando o outro de reserva, para o caso de ocorrerem avarias!
Os cálculos simples para a produção das cartas de variações da componente vertical do campo magnético (cartas de anomalias, eventualmente originadas por magnetite) eram efectuados primeiramente na Secção de Cuba - Vidigueira e depois conferidos na sede da Brigada em Beja, assim ocupando um a dois Engenheiros!!
Com a intenção de ensaiar a aplicabilidade do método magnético na detecção de jaspes que acompanham os jazigos de manganés e que apresentam, por vezes, pontuações de magnetite, solicitei ao Director o uso do magnetómetro que não estava em utilização, uma vez que a sua aplicação não representava qualquer dificuldade para a BS. Este pedido foi recusado!
Uma vez que a Faixa Piritosa Sul-Alentejana não tinha sido prospectada, na sua totalidade, durante a vigência do contrato com a Companhia sueca ABEM, propus e consegui que fosse aceite a aquisição de um equipamento Turam, para aplicação directa pelo SFM. Havia, além disso, muitas outras áreas, onde eu considerava indicado o uso deste método.
Natural seria que da aplicação deste equipamento se encarregasse a BPG.
Quando o equipamento chegou, em 1952, escolhi uma área na região de Ervidel - Santa Vitória, onde se situa a Mina de cobre da Juliana, em mancha de rochas porfíricas, para ensaio da sua qualidade e também para ensinar o engenheiro-chefe da BPG a poder utilizá-lo.
Aconteceu que o equipamento vinha defeituoso. Tive correspondência vária com a ABEM para procurar resolver as deficiências, o que acabei por conseguir.
Resolvido o problema, esperava que a BPG passasse a dar execução aos programas da BS que envolviam a aplicação desta técnica. Todavia, tal não acontecia e o equipamento permaneceu sem qualquer uso, encaixotado durante cerca de um ano.
No verão de 1952, a Empresa “Mason and Barry”, arrendatária da Mina de S. Domingos, reflectindo já um começo de mais sérias preocupações quanto ao futuro da Mina, face à rapidez de esgotamento das suas reservas minerais, sobretudo perante a ineficácia das campanhas de prospecção electromagnética na vizinhança da sua concessão, tanto à custa do SFM como a expensas suas, fez executar a primeira campanha de prospecção gravimétrica no País, com vista à detecção de jazigos de pirite.
Desta campanha, que cobriu uma área de cerca de 14 km2, se encarregou o Professor J. Bruckshaw do Imperial College of Science and Technology de Londres.
Aproveitando nova campanha do Professor Bruckshaw, na zona da Mina de S. Domingos, em 1953, procurei tomar conhecimento de pormenores da aplicação de método gravimétrico. Para isso, desloquei-me à Mina, acompanhado do Chefe da BPG.
Mais tarde, não por minha iniciativa, foi proposta uma estadia do Professor Bruckshaw em Beja, durante uma semana, como consultor do SFM, a fim de analisar os problemas de Geofísica deste Serviço e aconselhar soluções. Pela maneira como estes problemas tinham sido por mim formulados, fácil era prever que os procedimentos aconselhados coincidiriam com os que eu tinha proposto.
A grande utilidade da presença do Professor Bruckshaw seria dar, com a sua autoridade de Mestre, peso à s conclusões a que eu já tinha chegado.
Prevendo incompreensão da Direcção do SFM sobre as necessidades de equipamentos de prospecção, pedi ao Professor Bruckshaw que elaborasse um relatório no qual fizesse, sobretudo, sentir com veemência, a necessidade de aquisição de um gravímetro.
No seu relatório, de Outubro de 1953, Bruckshaw cumpriu, de facto, o que me prometera, escrevendo, a páginas 2 e 3:
… “One of the most promising tools in the search for many dense mineral deposits is the gravity meter. Thus, the massive pyrites of the type at Aljustrel and Mina de San Domingos, and also the manganese deposits, which occur in the same type of environment, should give gravity anomalies, which are well within the range of modern instruments.”
…
… “In view of its high cost, some proof of its usefulness would be desirable to justify the expense of purchasing a gravity meter. In Portugal, the ideal condition for a test exist in the pyrite deposit recently located by electrical methods at Aljustrel. I would recommend most strongly that a Worden Gravity Meter is tried for a suitable period (1 – 2 months) and a survey is made at Aljustrel to confirm its effectiveness in this type of problem.. On the basis of these results, a decision can be reached upon the advisability of acquiring an instrument for extended use for other problems.”
Em princípios de Novembro de 1953, em conformidade com instruções verbais do Director do SFM, tive, em Beja, uma conferência com o Chefe da BPG, tendo este ficado encarregado de transmitir ao Director do SFM a seguinte proposta, que tinha o nosso comum acordo:
1.º - Que a cargo do Chefe da BPG ficasse até solução, exclusivamente o ensaio com gravímetro no Cerro do Carrasco, para ajuizar da aplicabilidade deste instrumento;
2.º - Que a prospecção na área de Montemor – Orada, para eventual localização de jazigos de magnetite ficasse a cargo do outro Engenheiro daquela Brigada, o qual, durante um período de 3 a 4 meses se ocuparia exclusivamente de um ensaio na área de Cuba – Vidiguieira considerada favorável;
3.º - Que a aparelhagem Turam, recém – adquirida, fosse entregue à Brigada do Sul, em virtude da incapacidade da Brigada especializada para a pôr em funcionamento (eu tinha larga experiência daquele método, mercê da minha longa permanência na extinta Brigada de Prospecção Eléctrica).
Esta proposta, que não sei se chegou a ser apresentada do modo como se combinou, foi por mim transcrita em ofício que enderecei ao Director do SFM em 11-1-1954, a propósito de outro problema de prospecção geofísica.
Foi na sequência desta proposta, que começou a campanha de prospecção magnética à qual já fiz referência.
Começou, também, a aplicação do método electromagnético Turam, pela Brigada do Sul, cumulativamente com os trabalhos mineiros de pesquisa e reconhecimento de diversas minas, que até foram intensificados. Este método foi exaustivamente aplicado em todas as Secções da BS, com considerável sucesso, como oportunamente irei informar.
Quanto à gravimetria, esteve o Engenheiro Chefe da BPG, durante bastante tempo a fazer estudos de gabinete, com vista ao início das respectivas campanhas.
Veio também de novo a Portugal, como consultor do SFM, o Professor Bruckshaw, quase exclusivamente com o objectivo de completar a preparação deste Engenheiro em gravimetria.
Apesar disso, surpresa das surpresas, por Ordem de Serviço do Director do SFM o referido Engenheiro foi desligado da BPG, sem ter efectuado quaisquer trabalhos de gravimetria e sem que outro fosse designado para o substituir!
Tendo sido criada em 1954 a Junta de Energia Nuclear, na qual se incluía uma Direcção Geral de Serviços de Prospecção, este Engenheiro foi indigitado para fazer preparação em França, para vir a ser destacado para aquela Direcção-Geral, com vista a colaborar nos trabalhos de prospecção de minerais radioactivos.
Surpresa ainda maior! Este Engenheiro acabou por ser completamente desligado de actividades no âmbito da prospecção geofísica. Nem prospecção gravimétrica, nem prospecção de minerais radioactivos, em cuja preparação o País investiu avultados dinheiros, durante largos anos!!.
Esta total inutilidade foi premiada, alguns anos mais tarde (mais uma promoção por currículo negativo), com a nomeação do referido Engenheiro para dirigir um departamento designado por 2.º Serviço do SFM que tinha a seu cargo “Trabalhos Mineiros e Laboratórios”, isto é, todos os trabalhos de pesquisa e reconhecimento em curso ou a iniciar, em todo o território nacional e ainda a direcção de todos os Laboratórios então existentes no SFM. Escusado será dizer que, tanto numa como noutra matéria, era nula a sua experiência. Oportunamente, revelarei as óbvias consequências desta nomeação.
Fiz referência a dois casos de inadmissível passividade do Director do SFM.
O primeiro foi o enorme atraso consentido na aplicação do método gravimétrico pelo SFM, que teve como consequência só terem sido descobertas concentrações de pirite complexa, quando a pirite deixou de ter valor comercial, como minério de enxofre, por terem passado a existir outras fontes desta matéria prima de extracção muito mais económica. A pirite passou a ser considerada ganga de um minério com conteúdos de minerais de cobre, zinco, chumbo e outros metais, entre os quais podemos citar estanho e ouro.
O segundo foi a desistência de incluir nos programas do SFM a inventariação das existências de minerais radioactivos.
Não havia a mínima necessidade de criar a Direcção-Geral de Serviços de Prospecção de Minerais Radioactivos na Junta de Energia Nuclear para detectar a presença destes minerais. Na realidade, eram estes os minerais de mais fácil detecção, pois, como eu costumava dizer aos meus alunos da cadeira de Prospecção Mineira, que leccionei nas Faculdades de Ciências e de Engenharia do Porto: “estes minerais falam!”. No caso de jazidas aflorantes, e muitos casos destes ainda havia, até percorrendo itinerários apropriados, confortavelmente instalado em viatura, se poderia detectar a sua presença, levando auscultadores acoplados a aparelhos sensíveis às radiações emitidas pelos minerais radioactivos.
domingo, 28 de setembro de 2008
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