Do Relatório com este título, que apresentei, em 1955, constam os seguintes capítulos:
a) Introdução
b) Faixa Piritosa Portuguesa (Situação e topografia; Geologia; Os jazigos; O minério; A génese dos jazigos)
c) O método Turam (Princípio do método; Trabalho de campo; Trabalho de gabinete)
d) Áreas prospectadas. Trabalhos realizados em zonas de anomalias (Mina de S. Domingos; Alcaria Ruiva; Aljustrel; Castro Verde – Panoias; Caveira Louzal)
e) Considerações finais
f) Resumo
g) Peças desenhadas (I a XXXII)
Deste Relatório, foram publicados os capítulos a) a f) e as peças desenhadas I a IV. Das peças desenhadas V a XXXII constam mapas geológicos das áreas prospectadas; perfis geológicos dos trabalhos mineiros efectuados e os correspondentes perfis electromagnéticos que os justificaram; logs das sondagens.
O relatório, embora totalmente por mim elaborado, foi apresentado em co-autoria com o Engenheiro que dirigiu o levantamento litológico preliminar, à escala de 1:50.000, da Faixa Piritosa e me substituiu na chefia da Brigada de Prospecção Eléctrica, quando assumi a chefia da Brigada do Sul.
À actuação da primeira Brigada de Levantamentos Litológicos, chefiada pelo referido Engenheiro se ficou devendo a implantação das manchas de rochas porfíricas e diabásicas de Louzal, Aljustrel, Ervidel, Albernoa, Alcaria Ruiva e Castro Verde., na carta geológica que constitui o desenho I, As manchas de rochas porfíricas da região de Cercal – Odemira foram levantadas em cartas à escala 1:5.000, sob minha directa orientação e participação.
Pela sua importância e actualidade, transcrevo a seguir, o capítulo “Considerações finais”:
“ O problema de descobrir novos jazigos de pirite no Baixo Alentejo, em cuja solução o Serviço de Fomento Mineiro se acha empenhado, é, como todos os problemas de prospecção mineira, em países civilizados, de uma grande complexidade.
Já muito foi feito para a consecução daquele objectivo, mas muito há ainda a realizar.
Confiou o Serviço, quando se dispôs a iniciar os estudos, que a aplicação do método electromagnético, conjuntamente com rudimentares levantamentos geológicos, poderia conduzir a resultados interessantes e, em certa medida, assim aconteceu.
Foi possível, com aqueles meios, localizar uma valiosa concentração de pirite no Cerro do Carrasco, em Aljustrel, que levou depois á descoberta de uma outra, na sua sequência, no sítio do Moinho do Vale de S. João, talvez de maior importância ainda.
Este resultado, pelo acréscimo de riqueza que trouxe ao património nacional, justifica largamente todo o dispêndio efectuado com a prospecção geofísica e com os subsequentes trabalhos de confirmação.
Mas têm de se considerar excepção casos desta simplicidade.
O mais natural será que as massas minerais, se existentes, se encontrem a profundidades e em condições geológicas tais, que não provoquem anomalias electromagnéticas, suficientemente claras e pronunciadas, para serem, por si sós, susceptíveis de correcta interpretação.
Para as localizar, haverá que adoptar um programa de maior eficiência.
É nosso parecer que vale bem a pena dedicar ao assunto a melhor atenção, pois tem de continuar a admitir-se possível a existência de depósitos ocultos, nas vastas áreas que separam os jazigos conhecidos.
Se, em Espanha, numa extensão comparável à da faixa piritosa portuguesa, ocorrem mais de 40 jazigos, porque aceitar que a Natureza apenas nos tenha reservado 6?
Se os minérios de manganés e os jaspes que os acompanham são indicações da presença de pirites, um relance sobre o mapa mineiro do País mostra-nos, profusamente disseminados por toda a faixa, manifestações desta natureza.
Não podem considerar-se excluídas as possibilidades de qualquer das áreas já prospectadas pelo método electromagnético Turam. Há numerosas zonas de anomalias que julgamos não estarem devidamente explicadas. Para propor trabalhos, a casa sueca fez uma determinada selecção e, pode ter acontecido que a escolha não tenha sido a melhor.
Além disso, o método, por si só, não é eliminatório. Admitimos que lhe escapem jazigos economicamente exploráveis, quando situados a profundidades já razoáveis, digamos superiores a 50 metros. A malha adoptada (100 m x 20 m) pode, também, ter sido demasiado optimista quanto às dimensões a esperar das concentrações.
Tem o Serviço, no seu programa, a revisão metódica do trabalho efectuado nas áreas prospectadas pelo método Turam, utilizando outros métodos para o completar.
Está, além disso, previsto o estudo de diversas outras áreas onde, além de levantamentos litológicos preliminares, nada mais foi feito com o intuito de evidenciar novos jazigos de pirite.
São elas:
Área da Albernoa;
Bacia terciária do Sado;
Região de Almodôvar (continuação da faixa Castro Verde – Panoias já prospectada);
Região de Cercal – Odemira;
Grande mancha de pórfiros de Montemor a Serpa.
Na região de Albernoa, afloram, em vasta superfície, pórfiros de uma grande nitidez, entre as manchas de Ervidel e de Alcaria Ruiva. É provável a sua ligação com as primeiras, sob os depósitos terciários da Figueirinha; com as segundas não está definida a continuidade, parecendo perder-se para SW da Ribeira de Cobres.
Além de um filão com enchimento de quartzo e carbonatos, escassamente salpicado de malaquite, próximo da Ribeira de Cobres, não se conhecem nesta região outras manifestações cupríferas ou piritosas. Há, contudo, mineralizações manganíferas, em muitos locais, acompanhadas dos inseparáveis jaspes.
Tanto na mancha de pórfiros de Albernoa, como na de terrenos terciários da Figueirinha, terá cabimento a prospecção; na última, com maiores probabilidades de êxito.
A área da Bacia Terciária do Sado é, talvez, de todas, a mais auspiciosa. Com efeito, de encontro ao seu bordo oriental termina o jazigo de Aljustrel, sendo lícito esperar que exista uma parte rejeitada pela grande falha que tem sensivelmente a orientação daquele bordo: o jazigo do Louzal, do outro lado da bacia, situa-se a menos de 1 km do seu limite ocidental.
Com tais indicações extremas, a zona intermédia, oculta sob formações recentes, adquire um interesse excepcional.
O Serviço de Fomento Mineiro pediu a colaboração dos Serviços Geológicos, no estudo dos terrenos desta bacia, para avaliar da sua profundidade. Em face dela, determinar-se-ão quais os métodos a empregar para a detecção de concentrações porventura ocorrentes.
A área de Almodôvar a investigar não é, senão, a continuação para sudoeste da de Castro Verde . Panoias.
Não há, efectivamente, motivo ponderoso para não prosseguir a prospecção desta zona, antes de se abrangeram, na sua totalidade, as manchas de pórfiros e de se incluírem os filões de cobre que, em grande densidade aqui ocorrem, parecendo constituir uma região cuprífera digna de atenção. A sua litologia foi já sumariamente estudada pelo Serviço, com o objectivo primacial de demarcar as manchas de pórfiros.
A região de Odemira – Cercal, onde os recentes levantamentos litológicos do Serviço têm evidenciado extensas formações de pórfiros graníticos e felsíticos, felsitos e diabases, é recortada por numerosos jazigos filonianos, preenchidos, nos níveis superiores por óxidos de ferro e manganés e manifestando, nos inferiores, a presença de carbonatos dos mesmos metais. Embora apenas em minúsculas pontuações nos carbonaros, foram identificadas galena, blenda e pirite numa sondagem profunda levada a efeito no filão mais importante da região – o da Serra do Rosalgar.
Filões com enchimento característico do tipo BGPC, com ganga de carbonatos de ferro e manganés, parcialmente alterados para óxidos, foram também por nós encontrados, nas proximidades de Odemira, em aparente correlação com as formações porfíricas da região.
É nossa convicção que os jazigos de ferro e manganés de Odemira – Cercal poderão evoluir, em profundidade, para filões do tipo BGPC, com a ganga carbonatada que, nos níveis superiores, seria a sua constituinte exclusiva e, por meteoração, teria originado os óxidos. Com base nesta hipótese, propusemos, em 1953, uma sondagem orientada segundo a vertical, com cerca de 300 m de comprimento, a qual não chegou porém a ser executada, por não dispor, então, o Serviço, de material que lhe permitisse encarar afoitamente tal trabalho.
Cremos dever ainda admitir-se a possibilidade de ocorrência de massas de pirite, semelhantes às de S. Domingos, Aljustrel ou Louzal, porquanto o ambiente geológico da região é, de certo modo, análogo.
A faixa de pórfiros de Montemor-o-Novo a Serpa, por se encontrar já relativamente distanciada da tradicional faixa piritosa e por a actividade nesta absorver já, suficientemente, a atenção do Serviço, tem sido relegada para um plano secundário.
Julgamos, contudo, existirem certas afinidades entre ambas as faixas, Das manifestações piritosas com ela relacionadas poderemos citar as de Caeira de Cabrela, Toca da Moura, Caeirinha, etc.
Projecta o Serviço, brevemente, levar a efeito, pela sua Secção de Montemor-o-Novo da Brigada do Sul, o levantamento electromagnético de várias zonas, onde se procedeu já aos levantamentos litológicos prévios e, entre elas figura uma que abrange as minas acima referidas e várias outras de importância secundária, algumas descobertas através dos trabalhos do Serviço.
Nesta região são de assinalar contactos de pórfiros com calcários, os quais são locais de eleição para mineralizações oriundas de fenómenos de pirometassomatismo.
Os meios empregados até aqui não estão, como dissemos, em proporção com a complexidade do problema.
As despesas com uma campanha devidamente organizada serão necessariamente grandes, mas procurar reduzi-las à custa da utilização de métodos de menor eficiência trará, como consequência, não poder garantir-se esgotada, para as possibilidades dos processos actuais, qualquer zona, no que respeita à existência de minérios no subsolo e, no fim, acabar por fazer-se maior dispêndio em sucessivos estudos das mesmas áreas, com a desvantagem de protelar a sua valorização.
Os jazigos que podem ser revelados, como o do Cerro do Carrasco, pagam liberalmente as despesas que venham a efectuar-se.
Se quisesse fazer-se a compensação dos dispêndios totais, até à data, no Alentejo, em prospecção de pirites, com a única descoberta de valor prático, o minério já evidenciado viria onerado, por tonelada, em pouco mais de 1% do seu valor actual. Tudo indica que esta percentagem venha a diminuir, por virtude do aumento de reservas certas, consequente dos trabalhos de reconhecimento.
Somos de opinião que o prosseguimento da campanha de prospecção de pirites, para ter a eficácia pretendida, deverá contar com a cooperação efectiva de especialistas em geologia aplicada e prospecção geofísica, integrados na equipa de estudo, de modo a poder cumprir-se o seguinte programa:
a) Estudo minucioso das condições geológicas de ocorrência dos jazigos de pirite, actualmente em lavra activa, em colaboração com as empresas concessionárias, com amplo recurso aos métodos de exame microscópico, químico e espectrográfico, tanto do minério cómodas rochas encaixantes e circunvizinhas.
b) Estudos geológicos sistemáticos de campo, em toda a área da faixa piritosa, acompanhados, de perto, por investigações laboratoriais, procurando, essencialmente, encontrar ambientes geológicos idênticos aos dos jazigos conhecidos.
c) Aplicação conjunta de métodos vários de prospecção geofísica, em especial dos eléctricos, electromagnéticos, gravimétricos e magnéticos, seguida de novas investigações geológicas nas áreas que se apresentem mais prometedoras, visando uma interpretação o menos aleatória possível, das causas das anomalias que se registem. (Não temos notícia da ocorrência de pirrotite no minério das minas de pirite portuguesas. Contudo, o seu aparecimento em minérios idênticos do país vizinho, leva-nos a considerar o método magnético susceptível de contribuir para a descoberta de novos jazigos).
d) Eventual utilização de métodos geoquímicos, se ensaios prévios lhe mostrarem possibilidades.
e) Execução de trabalhos mineiros e sondagens, para esclarecimento das anomalias geofísicas, logo que haja um número suficiente destas merecedor de exame.
Não convirá ter a prospecção geofísica muito avançada sem os seus resultados serem devidamente aferidos, por métodos de observação directa; podem tornar-se aconselháveis modificações nos processos utilizados, para os tornar mais apropriados para os fins em vista.
Todos os estudos a que nos vimos referindo podem e devem, em nosso entender, estar a cargo de técnicos portugueses que hajam, para o efeito, adquirido a necessária especialização, conforme prevê o Decreto-lei de criação do Serviço.
Só aceitamos a intervenção de técnicos de outras nacionalidades, como consultores ou em execução de campanhas de curta duração, principalmente com o propósito de proporcionar instrução a pessoal português.
A favor deste modo de proceder falam, não só a economia como o próprio interesse no assunto, que não poderá esperar-se de outros superior ao dos nacionais.
Ainda que fosse inviável, ou desaconselhada por demasiado especializada, a execução directa pelo Serviço, de determinados estudos, o que não cremos possa vir a acontecer, porquanto o Ultramar é vasto campo onde a especialização adquirida teria sempre ocasião de frutificar, é indispensável para uma eficiente fiscalização, um amplo conhecimento das matérias a fiscalizar.
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
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