sexta-feira, 26 de setembro de 2008

12- A segunda Brigada de Levantamentos Litológicos

A criação da segunda Brigada de Levantamentos Litológicos (BLL) foi um dos grandes erros do Director do SFM que exerceu o cargo desde 1948 até 1964.

Na verdade, este Director, pela sua impreparação no domínio da Geologia, não se tinha apercebido de graves erros cometidos pelo Geólogo que nomeou para a chefia da BLL, quando participou em estudos da Brigada do Sul (BS), onde estava integrado.
São disso exemplos, os capítulos de Geologia de relatórios que constituem as publicações N.º 12 e 13, com data de 1946, da série “Relatórios do Serviço de Fomento Mineiro”.
O que lá se encontra escrito sobre a geologia da região de Cercal-Odemira e sobre a génese dos jazigos ferro-manganíferos que ali ocorrem, está totalmente errado e isto é indesculpável, porque já havia um estudo do Geólogo alemão Heinrich Quiring onde é referida a natureza ígnea das rochas da região, facto que é por ele ignorado.
Quanto à suposta génese dos jazigos, o que está escrito é simplesmente ridículo.

A nomeação deste Geólogo para a chefia da segunda BLL, tornando-a independente da BS, é um dos vários exemplos de promoção por currículo negativo que depois iriam verificar-se no SFM.

O âmbito de actuação desta BLL seria exclusivamente o Sul do País, isto é, a área atribuída a BS, com a finalidade de nela proceder à inventariação das existências de reservas minerais economicamente exploráveis.
Além disso, os seus programas, se sempre foram por mim estabelecidos, nunca puderam por mim ser controlados na execução. O Director do SFM também não deu atenção às observações, que a respeito da actuação desta BLL fui fazendo em Relatórios e Planos de Trabalhos.

Sempre considerei fundamental um bom apoio geológico para bem se cumprirem os objectivos do SFM. E tenho que reconhecer que tal nunca foi conseguido, apesar das muitas diligências que fiz nesse sentido.
A geologia, no campo, foi sempre um elo fraco dentre as fases necessárias ao cumprimento dos objectivos dos departamentos do SFM que chefiei.
Os melhores trabalhos nesta matéria ficaram a dever-se à intervenção de Geólogos estrangeiros que vieram utilizar o País para teses de doutoramento, ou estiveram integrados em equipas que cumpriam contratos de prospecção com o Estado Português.
São exemplos a tese de Strauss sobre as minas do Louzal, a tese de Van Den Boogard sobre a região do Pomarão, a tese de Klein sobre a região de Odemira.


A segunda BLL, que actuou apenas subordinada à Direcção do SFM durante 16 anos (desde 1948 até 1964), esteve muito longe de corresponder ao que seria desejável.

O que inicialmente lhe foi pedido foi a cartografia das manchas de calcários cristalinos da faixa que abrange as Minas de ferro de Montemor-o-Novo, Alvito, Orada e outras com menor expressão, pois era conhecida a associação entre os calcários cristalinos e o minério magnetítico que ocorre naquelas Minas.
À semelhança do procedimento adoptado na Faixa Piritosa, pretendia-se obter uma base geológica para uma segunda campanha de prospecção magnética extensiva a toda a área que passamos a denominar de Faixa Magnetítica, com aparelhos de muito maior sensibilidade que os utilizados em anterior campanha, a cargo da ABEM de Estocolmo.

Mais tarde, quando dois Agentes Técnicos de Engenharia, que estiveram destacados em Moçambique, regressaram ao SFM e quando foram dados por findos trabalhos de pesquisa e reconhecimento nas Minas de ferro de Alvito, a BLL passou a ter também a seu cargo as Secções de Vila Viçosa, Barrancos e Almodôvar, tendo as respectivas chefias sido confiadas aos Técnicos referidos.
Estas Secções foram criadas para dar cumprimento a Planos de Trabalhos da BS, elaborados com base na documentação compilada sobre a antiga actividade mineira no Sul do País.
Da consulta desta documentação, resultou salientarem-se como zonas cupríferas de elevado potencial as regiões de Vila Viçosa, Barrancos e Almodôvar.
À BLL competiria dar cumprimento à fase de geologia preparatória das fases seguintes de prospecção.

Os estudos da BLL foram de muito fraca qualidade, pouco tendo contribuído para as fases seguintes. No caso de Barrancos, por exemplo, ficou-se muito aquém do estudo de Nery Delgado, efectuado no século XIX, incluído no seu magistral trabalho sobre o Sistema Silúrico Português.

Em face desta situação, a BS conseguiu que na Faixa Magnetítica e nas Regiões de Barrancos e de Almodôvar se passasse rapidamente às fases seguintes, procurando colmatar as deficiências da BLL com novos levantamentos, muito mais pormenorizados, sobre base topográfica à escala 1:5000, sob a directa orientação de dois engenheiros da BS (eu e o engenheiro que tinha chefiado a primeira BLL).

A Secção de Vila Viçosa foi mantida em actividade quase simbólica até 1964 e, como não estava interessada na integração na BS, chegou até a iniciar trabalhos mineiros, para o que não estava vocacionada, assim introduzindo alguma indisciplina no SFM. Destes trabalhos, obviamente, apenas resultaram mais despesas inúteis.

Na tentativa de corrigir a fraca eficácia da BLL, ainda cheguei a propor ao Geólogo que a chefiava, a fusão das duas Brigadas (BS e BLL), comprometendo-me a fazer, junto do Director, as diligências necessárias para que ele pudesse melhor desempenhar a sua missão de Geólogo.
Esta minha ingénua proposta não foi, porém, aceite.
Todavia, após uma reestruturação do SFM, feita em 1964, à qual me referirei oportunamente, este Geólogo foi integrado em departamento por mim chefiado e, quando o confrontei com deficiências dos estudos de que o havia encarregado, que poderiam ter sido evitadas, lamentou não ter mais cedo aceite colaborar comigo.
Esta atitude tem semelhanças com a assumida por alguns Agentes Técnicos de Engenharia, quando, em 1948, assumi a chefia da BS.

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