O novo Director, nomeado em 1948, não foi feliz nas alterações que introduziu, na Orgânica que vigorava anteriormente.
Ele não tinha nem a cultura geral nem o espírito de iniciativa que caracterizaram o seu antecessor.
A sua preocupação não foi, como se impunha, alargar o âmbito de acção do SFM a novas áreas que mereciam estudo, mas antes extinguir núcleos de actividade, sem que estivessem investigadas as novas potencialidades que se iam revelando.
Pelo que me diz respeito, o ambiente não se tornou estimulante.
Nunca percebi a razão pela qual esteve durante um ano por cumprir a promessa do seu antecessor de me promover à categoria em que esteve investido o anterior Chefe da Brigada do Sul, mantendo vago o lugar que estava previsto no Quadro de Engenheiros do SFM.
Relativamente à Brigada que eu ia chefiar, uma das suas primeiras medidas foi colocar o Geólogo que nela estava integrado, na sua directa dependência, criando para ele uma segunda Brigada de Levantamentos Litológicos, sem que estivesse definido o seu âmbito de actuação.
Não se me afigurava, pois, fácil o início da minha actuação como Chefe da Brigada do Sul.
Se me faltaram os estímulos do Eng.º António Bernardo Ferreira, sobraram perspectivas sombrias que me foram profetizadas por alguns dos técnicos que deixavam a Brigada para prestarem serviço em Moçambique.
Um dos engenheiros mais categorizados até vaticinou que eu não iria ter êxito nas minhas novas funções, pois, se o seu Chefe - que também fazia parte do Grupo que iria para Moçambique - sendo técnico “muito mais despachado” que eu, nada tinha conseguido, eu não deveria ter a veleidade de acreditar que poderia vir a valorizar, de modo significativo, a região, do ponto de vista mineiro.
Tendo-lhe chamado, por exemplo, a atenção para as potencialidades da Faixa, onde ocorrem os jazigos de magnetite de Montemor-o-Novo, Alvito e Orada, justificativas de estudos aprofundados, idênticos aos que estavam em curso na Faixa Piritosa Sul-Alentejana, manifestou total descrença.
“A Brigada do Sul estava gasta”, na sua expressão.
Por outro lado, um dos Agentes Técnicos de Engenharia do Grupo que ia para Moçambique, avisou-me de que eu iria encontrar “resistência passiva” da parte dos seus colegas que cá permaneceram.
Lembrava-se ele da sua passagem pela Brigada de Prospecção Eléctrica (BPE) e do nível de exigência nesta Brigada, que me fizera criar a fama de rigoroso, em contraste com a tolerância e até laxismo que existia em outros núcleos do SFM.
A BPE chegou a ser apelidada de Tarrafal (!).
Por ela tinham passado, em regime de rotação, quase todos os Agentes Técnicos de Engenharia da Brigada do Sul, os quais eu viria, de novo, a encontrar nas minhas novas funções.
Um deles, o mais competente, tinha sido, para lá, destacado em cumprimento de castigo!
Devo, desde já, esclarecer que nenhuma destas profecias se concretizou. Relativamente à chamada “resistência passiva” dos Agentes Técnicos de Engenharia que permaneceram ou ingressaram para substituir os que foram para Moçambique, apenas notei num deles alguma dificuldade inicial em aceitar as normas mais exigentes que eu tinha instituído. Todos os outros se tornaram excelentes colaboradores, desistindo da atitude negativa, que tinham planeado, ao verificarem que afinal os tratava como companheiros e amigos. A eles se ficou devendo parcela importante dos êxitos que posteriormente se obtiveram, aos quais farei oportunamente referência.
Quanto à “fuga” do Geólogo, a que o Director deu cobertura, interpretei-a como originada pela fama de rigoroso que me foi criada.
Quando assumi a chefia da Brigada do Sul, decorriam, com muita dificuldade e de modo pouco profissional, sobretudo pela inexperiência dos técnicos recém-formados que deles foram encarregados, trabalhos rudimentares (sanjas, galerias, poços) nas Secções de Montemor-o-Novo, Alvito, Moura e Cercal de Alentejo, para pesquisa ou reconhecimento de antigas minas.
Eu também não tinha, então, experiência em trabalhos desta natureza, visto ter passado os quatro primeiros anos da minha vida profissional dedicados à prospecção geofísica, com actividade à superfície.
Mas não foi difícil com a preparação adquirida na Universidade, introduzir alterações visando a segurança dos trabalhos, a colheita sistemática de dados para elaboração de futuros orçamentos constantes de projectos a submeter a apreciação superior, o registo completo com as indispensáveis peças desenhadas dos resultados de todos os trabalhos, etc. Faço referência a estes temas porque eles estiveram muito descurados, havendo, casos em que a segurança dos trabalhadores esteve em sério risco. E, no que respeita a orçamentos, houve um caso em que, nem com três pedidos de “reforço de verba”, como lhes chamaram, foi possível dar cumprimento a projecto submetido a apreciação do Conselho Superior de Minas.
Na Secção de Cercal do Alentejo, a mais importante da Brigada, havia, embora em mau estado por ter sido adquirido já com muito uso, algum equipamento de perfuração mecânica, ventilação e esgoto para cumprimento de projecto superiormente aprovado.
Nas outras Secções a actividade decorria de modo artesanal para investigação de pequenas ocorrências de minérios diversos, com predomínio do ferro. Não havia equipamentos para perfuração mecânica, sendo os furos para colocação de explosivo abertos à broca e à maça, com rendimentos ridículos!
Reconhecendo não ser esta a maneira de concretizar os verdadeiros objectivos do SFM e, tendo em conta a experiência adquirida na Brigada de Prospecção Eléctrica, depressa comecei a incluir nos Planos de Trabalhos da Brigada do Sul, o cumprimento das fases iniciais da prospecção, antes da execução dos dispendiosos e lentos trabalhos mineiros.
Era minha intenção que fossem realizados na Brigada do Sul estudos geológicos sérios e campanhas de prospecção por métodos geofísicos vários (gravimétrico, magnético, eléctricos, electromagnéticos) e geoquímicos.
O Director, que já tinha criado a 2.ª Brigada de Levantamentos Litológicos na sua directa dependência, decidiu criar uma Brigada de Prospecção Geofísica também na sua dependência, para a execução dos projectos da Brigada do Sul.
Decidiu, também, criar uma Brigada especializada em sondagens.
No Norte e no Centro do País, as actividades foram declinando progressivamente, acabando por se concentrar na sede do SFM no Porto a direcção da quase totalidade dos poucos trabalhos que se mantiveram. Dos programas no Norte e Centro não constavam investigações por métodos modernos de prospecção, como já tive ocasião de mencionar, em post anterior.
À actuação das duas Brigadas de Levantamentos Litológicos, da Brigada de Prospecção Geofísica e da Brigada de Sondagens irei referir-me, em próximos posts.
Á Brigada do Sul ficou, pois, reservada a investigação por trabalhos mineiros clássicos.
Em futuro post, referirei como supri deficiências flagrantes da 2.ª Brigada de Levantamentos Litológicos e da Brigada de Prospecção Geofísica.
Descreverei, também, a história dos principais êxitos obtidos pelas equipas que, sob minha orientação e participação fizeram investigações por trabalhos mineiros clássicos.
sábado, 6 de setembro de 2008
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