terça-feira, 16 de novembro de 2010

147 – Como Jorge Gouveia interpretava as suas funções de Director do SFM. Continuação 1

No post anterior, revelei que Gouveia decidira ignorar a existência da Secção de Caminha, cuja actividade decorria sob minha orientação, e com a minha activa participação, porque não conseguira submeter-me aos Geólogos Goinhas e Viegas, que se tinham apoderado de cargos de chefia, na onda de “assaltos” originada pela criação desses cargos no Decreto-lei n.º 544/77.

Goinhas, já designado Director do Serviço de Prospecção, e Viegas, Chefe de Divisão, nomeado Chefe do Grupo de Trabalho do Tungsténio, também se não mostraram empenhados em comigo contactar, lembrando-se da tentativa mal sucedida do Geólogo Farinha Ramos (Ver post n.º 114).
Há muito que se tinham mostrado muito mais interessados nas compensações pecuniárias do que em demonstrações de carácter ou no desempenho eficaz de funções justificativas daquelas remunerações.
É elucidativo exemplo, a traição de Goinhas a quem o orientou na sua vida profissional (ver posts n.º s 83 e 88)

Em coerência com esta cómoda atitude, de que não ousara dar-me conhecimento, antes de ter surgido problema que não conseguiria resolver sem o meu auxílio, Gouveia não se considerou obrigado a respeitar os compromissos que tinha chegado a assumir para comigo.

Foi assim que jamais me foi cedido, um dos gravímetros distribuídos à 1ª Brigada de Prospecção, apesar das repetidas afirmações de que tal cedência estaria “para breve”!

Eu tinha realçado o facto de estar piquetado um perfil de alguns quilómetros de extensão, transversalmente às formações geológicas da Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, e pretender, através do seu levantamento gravimétrico, definir, com precisão, a verdadeira estrutura geológica regional, tirando partido da minha grande experiência nesta técnica, adquirida nos trabalhos que dirigi, durante muitos anos, no Alentejo.

Através de outros métodos geofísicos que já tinham sido aplicados, tornara-se muito consistente a hipótese de que a formação mineralizada em volframite e scheelite, aflorante nas Minas de Fervença, Fraga, Valdarcas, Cerdeirinha e Lapa Grande, encontrar-se-ia oculta, a profundidade acessível, em zonas próximas, por acção de dobramentos, ou outros acidentes tectónicos.
Era, pois, de fundamental importância para o progresso dos estudos, na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, procurar, para esta hipótese, o apoio gravimétrico.
A obter-se confirmação, as reservas de minérios de tungsténio da Região seriam consideravelmente acrescidas.

Admitia que este problema estrutural teria solução, através de minuciosos estudos geológicos. Todavia, como várias vezes tenho referido, jamais foi destacado, para a Região, Geólogo com competência para dele poder ser encarregado.

A piquetagem desse perfil, em terreno acidentado e, na sua maior parte revestido de denso mato, tinha sido difícil e dispendiosa.
Gouveia que tão cuidadoso se mostrou em defender a economia do País, ao vender documentos técnicos a candidatos a volumosos investimentos, através de contratos de prospecção, em áreas cativas para o Estado, desperdiçava agora todo o esforço e dispêndio havidos na preparação do perfil longo!

Também se não impressionava com o facto de ter sido por mim introduzida no SFM, a gravimetria, após uma luta de mais de 10 anos e de ter sido por minha iniciativa que um engenheiro, contra sua vontade, foi estagiar, nessa matéria, junto de Empresa inglesa Lea Cross Geophysical Company, quando esta Empresa se encontrava a cumprir contrato com Mason and Barry, que então explorava o jazigo de pirite de S. Domingos! (A este respeito, ver post n.º 14).

Não se preocupou também com o facto de a 1ª Brigada de Prospecção andar desorientada, a “inventar trabalho”, na sua própria expressão, e a actuar sobretudo como empreiteira de Empresas privadas, que não teriam dificuldade em contratar Companhias especializadas, nos seu países de origem, sem necessidade de prejudicar a actividade própria do SFM.

Em 3 anos, não foi possível distrair, durante apenas uma semana, de trabalhos que “estavam a ser inventados” um dos dois gravímetros existentes na 1.ª Brigada de Prospecção!!!!

Ficou, assim, por investigar o possível aumento significativo das reservas de minérios de tungsténio da Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima.

Foi, também, pelo mesmo motivo, isto é, por não considerar a Secção de Caminha pertencente ao SFM, que Gouveia permitiu ao Laboratório de S. Mamede de Infesta deixar de fazer as análises geoquímicas por mim requisitadas.
Estas amostras, cuja colheita e preparação tinham sido dispendiosas, estiveram a caminho de destruição, só tal não acontecendo, por casualmente, eu as ter encontrado e recolhido, impedindo esse destino.
Conforme já revelei, foi Cominco que as aproveitou e mandou analisar nos seus Laboratórios do Canadá, quando conseguiu contrato com o Estado para a área onde tinham sido colhidas.

Continua…

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