terça-feira, 26 de julho de 2011

180 - Nova discussão sobre Plano Mineiro Nacional. Continuação 4

Continuo a analisar a contribuição do Geólogo José Goinhas para o Plano Mineiro Nacional, que o Conselho de Ministros do IX Governo Constitucional, tinha determinado que fosse apresentado em 1984, mas que em Novembro de 1985, quando terminou o seu mandato, ainda não tinha sido concluído.

3 – Relativamente à importante fase de procura de indícios de jazigos, pela simples inspecção da superfície, por pessoal previamente preparado, Goinhas incorre no mesmo erro do ex-Director-Geral de Minas, Soares Carneiro, em duas comunicações sobre a indústria mineira nacional, com o sub-título “Realidades e fantasias”, que apresentou, em fins de 1978 ao Congresso 78 de Engenharia,
Afirma Goinhas: As possibilidades de encontrar novos jazigos em condições de afloramento ou mesmo de subafloramento são praticamente nulas em certas zonas do País. As perspectivas são, pois, de procurar jazigos relativamente profundos relacionados com modelos geológicos pouco testados ou mesmo desconhecidos.
É um colossal erro tão peremptória afirmação.
De facto, como já revelei, ao comentar as comunicações de Soares Carneiro (Ver posts N.º 119, 120, 121, 122, 123 e 124), a procura de indícios de jazigos aflorantes mantém plena actualidade.

Goinhas ter-se-ia apercebido de quão insensata era a sua afirmação, se tivesse consultado, por exemplo, qualquer das publicações que, a seguir, menciono:
“Recherche et Étude Économique des Gîtes Métalifères" L.Thiébaut. 1934,
"La prospection minière à la batée dans le Massif Armorican. Mémoire du B.R.G.M n.º71". J. Guigues et F. Desvismes. 1969
"La prospeccion aluvionar sistematizada en la fase estrategica de la investigacion minera de grandes areas. Aplicacion al complejo granítico de los Pedroches (Córdoba)". Echevarria e Razabal. Publicações do Congresso Hispano-Luso-Americano de Geologia Económica. 1971
"Interpretation of Leached Outcrops". Roland Blanchard. 1968

Confirmaria, também a insensatez das suas afirmações negativistas, se tivesse lido, atentamente, os relatórios que apresentei, no SFM, quer na qualidade de Chefe da Brigada do Sul, quer como Chefe do 1.º Serviço.
Nesses relatórios, teria verificado que a prospecção de jazigos aflorantes, em Portugal, está ainda em fase muito atrasada e que numerosas ocorrências minerais, que justificaram estudos, para verificar se corresponderiam a jazigos, foram descobertas, por simples exame da superfície, em todas as zonas onde foram efectuados trabalhos sob minha orientação.
Entre outros, são disso exemplo:

a) a descoberta, feita por mim-próprio, no final da década de 50, do jazigo do Torgal (Odemira).
Além de terem sido revelados dois estreitos filões bem mineralizados em calcopirite, galena, blenda, com elevado teor de prata, que justificaram a execução de centenas de metros de galerias e outros trabalhos, ficou confirmada a possibilidade de ocorrência de jazigos de pirites complexas idênticos aos da Faixa Piritosa, que o ambiente geológico também por mim definido, deixava prever.
Estes filões poderão ter resultado de remobilizações de massas de maiores dimensões, à semelhança do que acontece com os filões de Barrigão, Brancanes e Porteirinhos, relativamente ao jazigo de Neves – Corvo (Ver post n.º 17).
É estranho que Goinhas não cite na bibliografia o relatório que elaborei, em finais da década de 50 do passado século, acerca deste jazigo, o qual tinha preparado para publicação.
É ainda mais estranho que cite o “cronista” Delfim de Carvalho como o grande descobridor das potencialidades da Região de Cercal – Odemira, para jazigos idênticos aos da Faixa Piritosa.
A realidade, que já tenho vindo a revelar, é que a intervenção deste “cronista”, no estudo da geologia da Região de Cercal - Odemira, esteve longe de corresponder ao que eu esperava, quando o encarreguei de pormenorizar estudos geológicos anteriores ao seu ingresso no SFM.
A sua intervenção acabou até por se tornar negativa, por ter originado injustificados dispêndios, em sondagens mal projectadas (Ver post N.º 86).

b) as descobertas, também feitas por mim, na década de 50, das ocorrências de ouro, nas Herdades de Grou, Romeiras, Defesa, Chaminé na região de Montemor-o-Novo (Ver post N.º 18).
Goinhas demonstra grande ignorância da actividade passada do Organismo que o acolheu, ao considerar estas descobertas como de data recente, não as atribuindo ao SFM, apesar de elas constarem dos relatórios anuais publicados nos Volumes VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XII, XIV, XV e XVI de “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro”.

c) a descoberta de ocorrência de barita na á.rea do Monte dos Clérigos, na região de Alcácer do Sal.

d) a descoberta do jazigo de ferro da Alagada, na região de Elvas.

e) a descoberta de vários afloramentos de skarn com mineralização de scheelite, na região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, às quais me referirei detalhadamente em futuro post.
Posso, no entanto, revelar, desde já, que uma dessas descobertas, na área de Argela é de minha autoria e deu origem a estudos por técnicas geofísicas e geoquímicas, que foram continuados por empresa canadiana (Ver post N.º 140).
É oportuno também revelar que uma equipa de Geólogos checos (Yanecka e Strnad) que esteve na Região, actuando por contrato com o concessionário da Mina da Lapa Grande, descobriu conspícuo chapéu de ferro com mineralização de scheelite, que constituiu a base para desenvolvidos trabalhos por métodos geofísicos, geoquímicos e sondagens, os quais culminaram com a definição de reservas que justificaram a atribuição de uma nova concessão mineira.

f) a descoberta de mineralizações zincíferas, na zona de Vale do Vargo (Moura). Estas mineralizações estavam dissimuladas num bem desenvolvido chapéu de ferro, que tinha dado origem a várias concessões mineiras para exploração de minério de ferro.
É oportuno lembrar que Goinhas participou nos estudos destas mineralizações, pouco após o seu ingresso no SFM.

g) a revelação da ocorrência de jaspes com mineralização de manganés e rochas vulcânicas, na região de Alcácer do Sal, denunciando prolongamento de um dos horizontes da Faixa Piritosa Alentejana.

Tive a intenção de aplicar, a todo o País, o método de prospecção aluvionar, usado no Maciço Armoricano francês, pelo BRGM, método que representava um aperfeiçoamento da técnica aconselhada no livro de Thiébaut de 1934.
Começaria, com ensaios de orientação em zonas seleccionadas por considerações de ordem geológica e estenderia progressivamente a sua aplicação até abranger todo o território nacional.
Tal método exigiria a colaboração de técnicos especialistas no exame, à lupa binocular, dos concentrados obtidos em aluviões nas linhas de água.
O BRGM francês aceitava preparar esses técnicos.
Perante a total falta de receptividade do Director do SFM, cheguei a propor que um Assistente da Faculdade de Ciências do Porto, onde eu dava aulas de Prospecção Mineira, se especializasse, em França, em tal matéria. Esteve indigitado o Dr. Aprígio, mas a ideia não teve concretização, por dificuldades orçamentais.
É meu parecer que, ainda actualmente, se justifica considerar o uso desta técnica.

Continua…

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