Em Setembro de 1968, Mira d’Aire preparava-se para festejar melhoramento importante no abastecimento de água à sua população, quando um acontecimento imprevisto fez adiar a inauguração, para a qual até já os foguetes tinham sido adquiridos.
Tinha-se tornado premente alteração no sistema de captação que estava a ser utilizado.
A água era aspirada num algar do maciço calcário de Porto de Mós e bombeada para a superfície, em condições que não garantiam a qualidade recomendável.
À medida que baixava o seu nível, por ausência de recarga motivada por escassez de chuvas, tornava-se necessário, com bastante frequência, deslocar os grupos moto-bombas, para garantir a possibilidade de aspiração.
Para acabar com esta permanente preocupação, planeou-se a abertura de um poço com a profundidade 100 metros e uma galeria também com a extensão de cerca de 100 metros, orientada para atingir o algar a um nível que evitasse as constantes mudanças de posição dos grupos electro-bombas.
O levantamento topográfico do algar foi feito à bússola por um escafandrista, com as naturais dificuldades.
Aconteceu que, tendo a galeria atingido comprimento mais que suficiente para ter interceptado o algar, este não fora encontrado.
Fui, então contactado por um Engenheiro dos Serviços de Urbanização, que tinha anteriormente pertencido ao Quadro de técnicos do SFM, integrado na extinta Brigada de Prospecção Eléctrica, com vista a tentativa de resolução deste problema, usando o equipamento Turam de prospecção electromagnética.
Com o melhor espírito de colaboração, após autorização superior, planeei o ataque do problema com aplicação, não apenas do método electromagnético Turam, mas também do gravimétrico.
Relativamente ao método Turam, projectei o seu emprego, como método do ângulo de inclinação. Ao dar as minhas instruções ao Engenheiro que, na 1.ª Brigada de Prospecção estava encarregado dos métodos eléctricos, obtive, inicialmente como reacção, dúvidas quanto à eficácia da modalidade indicada, uma vez que ainda não tinha sido tentada no País e o método, (como o seu nome indica, na linguagem sueca de onde é originário), exigia o uso de duas bobinas, ao passo que na modalidade que eu pretendia usar, apenas uma se tornava necessária.
Sugeri-lhe que fizesse experiência, estendendo um cabo condutor rectilíneo por cima de trincheira de uma estrada e verificasse se conseguia localizar esse cabo, do modo por mim indicado, A este respeito, sugeri que colhesse mais informação no livro elementar de Prospecção da autoria de Parasnis.
Em 25 e 26 de Setembro de 1968, estiveram em Mira d’Aire, os Engenheiros da 1.ª Brigada de Prospecção que tinham a seu cargo os métodos eléctricos e o método gravimétrico, a fim de darem execução aos trabalhos projectados.
No dia 25, foi estendido um cabo condutor eléctrico, desde o poço até uma distância de cerca de 50 metros, numa direcção sensivelmente perpendicular à da galeria. Este condutor foi ligado à terra em ambos os extremos, tendo um destes ficado situado no ponto mais fundo do algar que o mergulhador conseguiu atingir.
No dia 26, eu desloquei-me do Porto para acompanhar os trabalhos que iam ser realizados.
Fiquei deveras surpreendido com a instalação que estava a ser usada para a movimentação do pessoal, dentro do poço, a qual não reunia as mínimas condições de segurança, só por muita sorte não acontecera, até então, nenhum acidente grave.
Os meus colegas, sem experiência de trabalhos mineiros terão considerado que estes teriam, pela sua natureza, que ser perigosos e não me fizeram qualquer observação sobre o assunto, talvez para não darem sinal de se mostrarem medrosos.
Eu hesitei antes de me decidir a deixá-los entrar com todos os equipamentos, arriscando-me a originar perdas de vidas, entre as quais a minha e material valiosíssimo.
A minha decisão final foi enfrentar esse perigo, consciente de que outra atitude da minha parte poderia ser mal interpretada pela DGGM e confiante de que, se nenhum acidente tinha acontecido até àquela data, a probabilidade de acontecer, nesse dia, não seria grande.
Fez-se então percorrer pelo cabo uma corrente alterna de cerca de 1,5 A e uma frequência de 440 hz e fez-se a pesquisa das características geométricas do campo electromagnético gerado pela passagem desta corrente, ao longo de toda a extensão da galeria.
Dos resultados encontrados, foi possível determinar, com exactidão, o local mais próximo do algar, onde à galeria passava a um nível que lhe estava subjacente cerca de uma dezena de metros.
A aplicação do gravímetro tinha por base o grande contraste densitário entre o calcário e a água que preenchia a gruta nele existente, que comunicava com o algar. Todavia, não se registou anomalia significativa, talvez devido às reduzidas dimensões da gruta.
Quando regressei ao Porto, após a conclusão deste trabalho, a minha primeira preocupação foi escrever ao colega dos Serviços de Urbanização para mandar suspender, de imediato, os trabalhos que estavam a decorrer nas deploráveis condições a que aludi, antes que um acidente grave viesse a registar-se.
A sua reacção deixou-me estupefacto. Referiu que nas Minas sujeitas à fiscalização da DGGM, se registavam situações muito piores! Eu nunca tivera funções de fiscalização, mas tinha tido oportunidade de visitar numerosas minas em exploração por empresas privadas e nunca encontrara qualquer situação que se assemelhasse à que mereceu os meus reparos.
Tudo acabou por correr bem. O algar foi encontrado à marca prevista e até houve que bater em retirada, algo apressadamente, perante a invasão de água que se verificou através de furo que foi efectuado na sua direcção.
Os festejos foram noticiados nos jornais da época.
O colega que me tinha contactado fez deste êxito artigo que publicou, como se tivesse sido seu autor.
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