sábado, 25 de abril de 2009

64 – A atitude do SFM perante o encerramento das Minas do Braçal. Continuação 2

A seguir, transcrevo o essencial da informação que me foi pedida sobre questões levantadas por um munícipe de Sever do Vouga, relacionadas com o encerramento das Minas do Braçal.

1 – Considerações preliminares

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2 – As potencialidades minerais da região de Braçal – Talhadas
As potencialidades minerais de uma região definem-se, quer através do conhecimento da sua geologia, quer através de indícios de mineralizações.
No que respeita à região de Braçal – Talhadas, devemos reconhecer que é ainda muito imperfeito o conhecimento da sua geologia.
Faltam ainda os levantamentos de base, à escala 1:25 000, que são das atribuições dos Serviços Geológicos.
Conforme assinalámos, a pág. 6 do nosso relatório “Região de Braçal – Tachadas. Sua potencialidade mineira” apresentado em 31-12-1972, também o Serviço de Prospecção não tem podido destacar geólogos para esta área, porquanto os raros integrados na sua equipa técnica estão já suficientemente ocupados em programas de maior prioridade.
E julgámos, então, de interesse que se remediasse essa lacuna, destacando novos geólogos para o Serviço de Prospecção e proporcionando-lhes condições para poderem realizar trabalho adequado ao objectivo pretendido.
Infelizmente, porém, há muito tempo que não são destacados para o 1.º Serviço, quaisquer geólogos, o que se nos afigura estranho.
Apesar destas insuficiências, bastará o conhecimento da região de Braçal – Talhadas (e, por esta designação, temos entendido uma faixa de mais de 60 km de extensão norte – sul e largura variável, mas ultrapassando, por vezes 40 km, desde as proximidades de S. João da Madeira até perto da Mealhada), relativamente ao grande acidente tectónico, que marca, a sul de Albergaria-a-Velha, a separação entre as formações da Meseta e as da Orla Ceno-Mesozoica, e que é salientado a norte daquela vila, por uma formação a que o Engenheiro Carlos Ribeiro em meados do século passado, designou por “grande filão metalífero que passa ao nascente de Albergaria-a-Velha e de Oliveira de Azeméis”, para a dever considerar com potencialidade para jazigos minerais.
Tem-se verificado, em todo o mundo, que as proximidades de grandes acidentes tectónicos, sobretudo nas zonas de intersecção de falhas importantes, são situações preferenciais para a ocorrência de jazigos minerais.
Daí a razão de nos ter sido chamada a atenção para este acidente próximo das Minas do Braçal, quando da nossa participação em Congresso de Vulcanologia e Metalogenia associada, que teve lugar na Roménia, em Setembro de 1973.
Mas, se no que respeita a geologia, o conhecimento é imperfeito, abundam as indicações concretas de mineralizações.
Conhecem-se manifestações de minerais de cobre, chumbo, zinco, arsénio e tungsténio.
Regista-se, também, o aparecimento acidental de minerais de níquel e de cobalto.
Minérios de cobre, chumbo, arsénio e tungsténio foram extraídos do próprio “ filão metalífero da Beira”, em minas que nunca atingiram grande desenvolvimento, não obstante documentos antigos citarem um caso (Pindelo) de “prodigiosa acumulação de pirite” e teores de cobre estimados em 5%.
Os trabalhos não passaram, na maioria das minas de uma fase incipiente de exploração e, provavelmente, foram conduzidos com deficiente orientação técnica.
As explorações de maior importância tiveram lugar em filões estreitos (possanças muitas vezes inferiores a 1 m), podendo, contudo atingir 6 m e mesmo mais, que ocorrem em profusão na área de Sever do Vouga e Albergaria-a-Velha, segundo direcções variáveis, mas, em regra, vizinhas de E-W, isto é, transversais às formações xistentas encaixantes.
Estes filões têm, em muitos casos extensões superiores a 1 km e a mineralização útil encontra-se em colunas cuja lei de distribuição se desconhece ainda.
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“Apesar da abundância de indícios minerais, só se localizaram até ao presente, concentrações de volume suficiente para justificarem explorações de importância nas Minas de “Telhadela”, "Palhal”, “Carvalhal”, “Braçal – Malhada – Coval da Mó”, “Talhadas” e “Pintor”.
As explorações atingiram no “Palhal” a profundidade de 400 m e, em “Braçal – Malhada”, “Telhadela” e “Pintor” ultrapassaram os 200 m.
Estão pois reunidas as condições para que a região de Braçal – Talhadas justifique criteriosos estudos com vista a procurar concretizar em explorações mineiras o que agora se apresenta apenas como potencialidades.

3 – A recente actividade mineira na região
3.1 – De empresas privadas
A Companhia Industrial e Agrícola do Braçal foi a última entidade privada que realizou trabalhos de exploração nas concessões de Braçal, Malhada e Coval da Mó.
O objectivo inicial da Companhia foi o aproveitamento do minério de chumbo existente em antigas escombreiras do campo de exploração da Malhada, com vista à produção, no local, de chumbo metálico.
Para isso, instalou, no Braçal, uma lavaria e, procedeu ao beneficiamento de antigas instalações metalúrgicas existentes na margem esquerda do Rio Mau.
Tendo, porém, verificado que o conteúdo de galena nessas escombreiras era diminuto, encarou a possibilidade de extrair minério dos próprios filões.
As minas encontravam-se, então, inundadas, no Braçal até ao nível de esgoto para o Rio Mau (20 m abaixo da boca do poço Matias); na Malhada e no Coval da Mó até ao nível da galeria de esgoto Henrique (cerca de 100 m a 120 m abaixo dos locais dos respectivos poços mestres.).
No Braçal, a Companhia procedeu ao esgoto das águas até ao último piso existente, reformou a rede de trabalhos antigos e efectuou trabalhos novos. Através de um poço interior, estabeleceu novos pisos, aprofundando a Mina de 105 m, para 145 m, relativamente à boca do Poço Matias.
Extraiu minério, não só em colunas mineralizadas dos filões, incompletamente exploradas pelos antigos, mas também em zonas de mineralização evidenciadas pelos seus próprios trabalhos de reconhecimento.
Na Malhada e no Coval da Mó, a Companhia limitou-se a reformar trabalhos antigos, acima do nível da galeria de esgoto, à abertura de raros trabalhos novos e ao rebusco de minério ainda deixado pelos anteriores exploradores.
A Companhia manteve, deste modo, as minas em produção, durante cerca de 17 anos, sendo a principal produtora de chumbo do País.
Em 1958, por motivo da baixa cotação do metal, suspendeu os trabalhos de exploração, mantendo, todavia, as operações de esgoto, ainda durante algum tempo, na esperança de que uma melhoria na cotação do chumbo ou um eventual auxílio oficial viessem permitir retomar a actividade mineira.
Mais tarde, foi autorizado o encerramento total das Minas e as concessões foram mesmo revogadas, encontrando-se presentemente a área cativa para o Estado.”

3.2 – Dos Serviços Oficiais
3.2.1 – Trabalhos realizados e em curso
Vem de data já distante o interesse do Serviço de Fomento Mineiro pela região de Braçal – Talhadas.
Em 1946-48, este Serviço, como o objectivo de descobrir novos jazigos minerais ou prolongamentos dos já conhecidos, levou a efeito campanhas de prospecção electromagnética pelo método Turam cobrindo áreas que envolvem, entre outras, as Minas do Braçal e das Talhadas, num total de 45 km2.
Este trabalho, que esteve a cargo da Companhia sueca ABEM, não conduziu a qualquer descoberta de valor económico, porque se não verificaram as características de condutibilidade eléctrica dos jazigos minerais, que haviam sido previstas

O Serviço de Fomento Mineiro, que, posteriormente as estas campanhas, adquirira equipamentos de prospecção para aplicação de variadas técnicas e se organizara para execução directa dos trabalhos, procedeu, na década de 60, a nova análise do problema da região de Braçal – Talhadas, com o objectivo de determinar se se justificaria retomar o estudo, com aplicação de outras técnicas.
Concluiu que o estudo deveria, na realidade, ser retomado, pelas razões que, a seguir, se expõem:
a) Os dados geológico-mineiros de que se dispõe levam a admitir a possibilidade de ocorrência de concentrações de minerais úteis, em dois tipos de formações:
I – Em possantes e extensas formações que aparecem alinhadas sensivelmente norte-sul e que poderão estar relacionadas com o grande acidente tectónico ou serão simplesmente camadas sedimentares metamorfisadas;
II – Em enchimentos filonianos transversais ao complexo xixtento em que se enquadram

b) O método electromagnético, que foi adoptado em 1946-48, não é o processo mais aconselhável para a cobertura de grandes áreas com características topográficas e geológicas como as que apresenta a de Braçal – Talhadas.
Além de poderem escapar-lhe jazigos com interesse, é de execução relativamente lenta.
Isto justifica que apenas se tenham prospectado, em 1946-48, cerca de 45 km2, sendo certo que a região com potencialidade mineira é muito mais vasta.
O método geoquímico, além de ser muito mais eficaz, nas condições topográficas e geológicas da região, permite, numa das suas modalidades (amostragem de sedimentos de linhas de água e análise de metais pesados pela ditizona, na fracção extraível a frio) uma cobertura relativamente rápida denunciando claramente ocorrências minerais aflorantes ou sub-aflorantes, mascaradas por solo arável ou revestimento vegetal.

Com estas bases, o 1.º Serviço de Fomento Mineiro deu início, em Maio de 1968, a nova fase de estudo da região de Braçal – Talhadas.
Começou por realizar, sobre jazigos conhecidos, ensaios preliminares da técnica de prospecção geoquímica que consiste na colheita de amostras de sedimentos da rede de drenagem da região e na análise expedita, pela ditizona, da fracção extraível, a frio, pelo citrato de amónio.
Verificado o pleno êxito de tais ensaios, passou à cobertura sistemática das áreas com potencialidade mineira.
Presentemente, está coberta uma superfície total de 1 620 km2, na qual se colheram 115 255 amostras de sedimentos de linhas de água e 4 030 amostras de solos.
As amostras têm sido analisadas para metais pesados e, nalguns casos, também para cobre, chumbo ou zinco ou para os três metais.
Estima-se em cerca de 170 000 o número total de amostras analisadas até à data.
Os resultados são implantados em cartas à escala 1:5 000 obtidas por ampliação fotográfica de cartas, à escala 1:25 000, dos Serviços Cartográficos do Exército.
Estão preparadas, actualmente, mais de 5 centenas destas cartas, cobrindo, cada uma, uma área de 4 km2.
Estão igualmente preparados mapas à escala 1:25 000, para uma visão de conjunto, de modo a salientar anomalias que se desenvolvem por uma extensão correspondente a várias cartas.
Os trabalhos prosseguem, pelo método geoquímico, para selecção de áreas de maior interesse.
Na área do Cabeço do Telégrafo, perto das Minas do Braçal, onde se registaram anomalias geoquímicas muito significativas, estão em curso estudos de pormenor, por métodos geofísicos e geoquímicos.
Além dos trabalhos de prospecção, o Serviço de Fomento Mineiro, através de outro Departamento (2.º Serviço) realizou, também, durante anos, trabalhos mineiros de pesquisa, nas antigas minas de Talhadas.
É da competência do 2.º Serviço prestar informação sobre esses trabalhos e respectivos resultados.
Sabemos, no entanto, que não tiveram êxito, como, aliás, refere o Senhor Joel de Macedo Marques.

2 comentários:

glb disse...

Li mais abaixo que chegou a ter residência temporária em Albergaria-a-Velha. Terá sido na sede do concelho ou noutros locais onde a exploração mineira foi mais usual. Já que está aqui a falar do encerramento das Minas do Braçal gostava de saber se irá dar destaque a algum episódio relacionado com Albergaria-a-Velha. Penso que a exploração mineira não foi tão intensa no século 20.

Rocha Gomes disse...

Residi nas Minas do Braçal, durante 4 meses – de Maio a Agosto de 1946 e em Albergaria-a-Velha, residi, durante 6 meses – de Maio a Outubro de 1947.
Nesses períodos, dirigi trabalhos de prospecção pelo método electromagnético Turam, com vista à descoberta de jazigos idênticos ao que então se encontravam em exploração nas Minas do Braçal.
Foi em 1946 que tive ocasião de apreciar o grande entusiasmo do Agente Técnico de Engenharia, Senhor João de Oliveira Vidal, no cumprimento das missões de que estava encarregado, apesar da sua pouca experiência mineira.
Sob a direcção do Engenheiro O'Neil, que residia em Lisboa e periodicamente visitava a Mina, ele conseguia manter não só os trabalhos de exploração, mas também a lavaria e até o forno de onde cheguei a ver sair chumbo metálico. Não me recordo se prata era recuperada, mas tenho ideia de que o minério era pouco argentífero.
Sobre a produção das Minas, tenho no meu arquivo, notícia de 5 de Março de 2002, da autoria de Marques da Silva, antigo funcionário das Minas, segundo a qual se produziram, em 17 anos de exploração, 18.323.574 kg de galena, de que resultaram 8.743.627kg de chumbo.