No post N.º 28, descrevi as condições que me foram proporcionadas par dar cumprimento a planos de prospecção sistemática, no Norte e no Centro do País.
Apesar das limitações referidas, foi-me possível, em 1968, criar dois núcleos com actividade no terreno, um com sede em Caminha e outro com sede em Talhadas, ambos entregues a funcionários com a categoria de Colectores, cujas habilitações de base se limitavam à antiga 4.ª Classe de Instrução Primária, aos quais eu tinha dado formação transformando-os em Prospectores e confiando-lhes trabalhos que no Sul do País estavam a cargo de Agentes Técnicos de Engenharia.
Já me referi, no post N.º 56, ao núcleo de Caminha da 2.ª Brigada de Prospecção e aos êxitos que nele estavam a obter-se em prospecção de tungsténio.
A Secção de Talhadas foi criada para investigação de uma área que sobressaiu da análise documental como tendo grande potencialidade principalmente para jazigos de chumbo, zinco e cobre.
A esta área dei, inicialmente a designação de “Região de Braçal – Talhadas”, por nela ocorrerem como minas principais as de Braçal do concelho de Sever do Vouga e as de Talhadas do concelho de Águeda.
Os trabalhos na Secção de Talhadas tiveram início em 1968 e decorriam com relativa normalidade, deles resultando anomalias sobretudo pelo método geoquímico, sugestivas de poderem corresponder a ocorrências minerais com interesse económico, justificando, por isso, o prosseguimento da investigação através de sondagens.
Todos estes resultados constavam de relatórios mensais e anuais que eu apresentava, com regularidade.
Além disso, em reuniões da Comissão de Fomento, em Lisboa, eu descrevia, com pormenor, toda a actividade do Serviço de Prospecção que me estava confiado e os resultados que estava a obter. Nestas descrições, salientava os encorajantes resultados na região de Braçal – Talhadas.
Surpreendiam-me os comentários que o Director-Geral se permitia fazer quanto ao interesse mineiro desta região, que conhecia de contactos que com ela tivera, quando exercera o cargo de Chefe da Circunscrição Mineira do Norte.
Mostrava-se o Director-Geral muito reticente quanto ao interesse de filões. Para ele só as formações estratificadas, como as que ocorrem na Faixa Piritosa ou na Faixa Zincífera Alentejana, eram susceptíveis de conter reservas que viessem a justificar exploração.
Todavia, consentia que o 2.º Serviço, que tinha a seu cargo os trabalhos mineiros, se mantivesse a reconhecer jazigos filonianos no Norte e no Sul do País, num caso (Mina do Barrigão) no interior de área adjudicada a Companhia canadiana para prospecção mineira, conforme referi em post anterior.
Apesar das reticências do Director-Geral, os estudos prosseguiam na região de Braçal-Talhadas, com a regularidade possível, dentro das limitações que me tinham sido proporcionadas.
Em Outubro de 1972, um imprevisto acontecimento veio perturbar esta relativa normalidade, O Director-Geral de Minas recebeu do Governador Civil de Aveiro o ofício com data de 30-10-1972, confidencial e pessoal, que a seguir transcrevo:
“Existe conflito entre a Junta de Freguesia de Talhadas e os Serviços Florestais.
Esse conflito tem-se agravado com a intervenção, como advogado de defesa da Junta de Freguesia, de um profissional muito mais político do que advogado – e político só preocupado em fazer especulação – dominando por inteiro o Presidente da Junta.
A campanha já atingiu a fase do manifesto agressivo.
Há um funcionário dependente da Direcção-Geral ao digno cargo de V. Ex.ª. - Silvério Vilar – em exercício de funções na região, que, em carro desses Serviços, aparece em muitas reuniões e, ao que consta, ao inteiro serviço do Presidente da Junta de Freguesia, transportando pessoas, etc.
A confirmarem-se estas informações, não há dúvida de que a actuação de Silvério, utilizando carro do Estado, levará as populações ao convencimento de que o Presidente da Junta de Freguesia tem o apoio do Governo, o que, nem em caricatura, corresponde à verdade, conforme Sua Ex.ª o Secretário de Estado da Agricultura pode esclarecer.
À esclarecida apreciação de V. Ex.ª, com os melhores cumprimentos.
A bem da Nação
O Governador Civil
(Assinatura ilegível)”
Sobre este ofício, incidiu o seguinte despacho do Director-Geral:
“Ao eng. Director do Serviço Fomento Mineiro para urgente e rigoroso inquérito. Assinatura ilegível. 31-X-72”
O Director do SFM, quando recebeu este ofício, chamou-me ao seu gabinete e revelou-me que a primeira reacção do Director-Geral, em telefonema que lhe fizera, tinha sido no sentido de despedir Silvério Vilar.
Mas reflectindo melhor, lhe ordenara que se extinguisse a Secção de Talhadas. Esperava que do rigoroso inquérito, a que mandara proceder, resultasse essa decisão. Ele, Director do SFM era de opinião que a Secção se extinguisse, pois a sua actividade “não estava a dar nada!”.
Chamei-lhe, então, a atenção para os resultados francamente positivos que estavam a ser encontrados, os quais constavam dos meus relatórios e tinham sido descritos em reuniões da Comissão de Fomento.
Relativamente à acusação do Governador Civil, informei ter conhecimento de que Silvério Vilar apenas auxiliara o Presidente da Junta de Freguesia, realizando trabalho de topografia para demarcação de baldios e fizera isso dentro do espírito de boa colaboração que deve existir com as entidades locais, que também se mostram colaborantes, como era o caso.
Realcei, igualmente, as excepcionais qualidades de Silvério Vilar, só a elas de devendo a possibilidade de executar trabalhos por variadas técnicas, que normalmente estariam a cargo de Agentes Técnicos de Engenharia.
O Director do SFM, depois desta conversa, exarou o seguinte despacho no ofício do Governador Civil de Aveiro:
“Ao Eng.º Chefe do 1.º Serviço:
Ouvi o Colector Silvestre Moreira Vilar, o qual procurou justificar a sua actuação que não terá tido a gravidade que se poderá depreender da leitura do presente ofício.
Como se trata de um funcionário muito trabalhador, interessado, competente e com muitos anos de serviço no decorrer dos quais sempre se mostrou correcto e disciplinado, procurar-se-á resolver este caso retirando imediatamente o referido funcionário da área em que presentemente trabalha evitando-se assim contactos que podem originar problemas mais graves.
Quanto aos trabalhos em curso na região elabore-se um relatório indicando o que se fez até agora, perspectivas e resultados, o que se projecta para futuro, a fim de me habilitar a propor ao Senhor Eng.º Director-Geral a continuação ou paralisação dos trabalhos. Assinatura ilegível. 6-12-1972
Em cumprimento deste despacho, dei instruções ao Senhor Silvério Vilar no sentido de procurar instalações em Sever do Vouga, para transferir para lá a sede da Secção, que se encontrava em Talhadas, mas recomendei-lhe que não tivesse pressa nessa transferência, convencido de que este caso não passava de “uma tempestade num copo de água”.
O tempo foi passando e a transferência foi sendo sucessivamente adiada, acabando por não se efectuar, sem que deste caso voltasse a lembrar-se o Director do SFM.
Quanto ao relatório que me foi exigido, dele me ocuparei no próximo post.
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