Conheci esta Mina, no verão de 1946.
Nesse tempo, eu chefiava a Brigada de Prospecção Eléctrica, que tinha sido criada pelo primeiro Director do SFM, Engenheiro António Bernardo Ferreira, com o objectivo de descobrir novas concentrações de pirite complexa na Faixa Piritosa Alentejana, que permitissem não só manter em laboração as indústrias instaladas no Barreiro para produção de enxofre, cobre e seus derivados, mas também a exportação desta matéria-prima.
A Brigada actuava então na zona de Aljustrel, em áreas que estavam a ser aproveitadas para cultivo de trigo e outros cereais. O desenvolvimento das searas, durante o verão, não permitia o seu atravessamento, para efectuar as observações electromagnéticas, nos perfis previamente piquetados, sem causar danos aos proprietários agrícolas.
O Director do SFM decidiu que a Brigada se transferisse para as Minas do Braçal, para investigar a continuidade de filões conhecidos e a possível existência de filões que ainda não tivessem sido detectados.
Foi nestas circunstâncias que passei a conhecer as Minas do Braçal.
Embora os resultados da prospecção electromagnética efectuada não tivessem sido positivos, no que respeita a novas descobertas, o que pude observar, durante os meses em que residi nas Minas, deixou-me francamente bem impressionado.
As Minas tinham sido objecto de intensa exploração desde recuados tempos, como o demonstravam objectos encontrados em trabalhos antigos com os quais as mais recentes explorações iam deparando. Lembro-me de ter visto em pequeno Museu organizado nas Minas, lucernas e chicotes em couro entrançado, que eram interpretados como “argumentos” usados para o trabalho de escravos.
A Companhia que, nessa época, adquirira a concessão do Braçal e várias outras concessões na sua imediata proximidade, não tinha como principal objectivo a actividade mineira. Tratava-se de uma Companhia industrial e agrícola, que tendo observado a grande quantidade de minério existente em antigas escombreiras, resolvera fazer a sua recuperação.
Dos estudos que terá mandado efectuar, concluíra que o minério existente nas escombreiras justificava a instalação de uma lavaria.
Para dirigir a actividade desta lavaria, contratou um jovem Agente Técnico de Engenharia que, embora sem experiência mineira, revelava grande capacidade de aproveitamento de excelente mão de obra que conseguia recrutar localmente.
Este técnico interessou-se, não apenas pelo bom funcionamento da lavaria. Julgo ter sido de sua iniciativa retomar a exploração da Mina do Braçal e das Minas Malhada e Coval da Mó, que lhe ficam próximas.
Visitei a Mina do Braçal e, conquanto, nessa data, a minha experiência de trabalhos mineiros fosse praticamente nula, pois estava dirigindo desde a minha formatura trabalhos de prospecção à superfície, fiquei convencido de que se estava em presença de jazigo rico.
A exploração estava a incidir principalmente em antigos desmontes, aproveitando zonas cujos teores de chumbo não tinham sido considerados suficientes para se justificar a sua extracção. A produção que se conseguia, permitia manter uma actividade mineira lucrativa.
Durante a minha permanência nestas Minas, tive ainda a oportunidade de assistir à produção de chumbo metálico, em fornos que tinham sido construídos em meados do século XIX e que a Companhia recuperara.
Pelo que acabo de referir, foi com enorme surpresa que tomei conhecimento, em 1959, do encerramento destas Minas e o consequente despedimento de cerca de 600 mineiros que lá exerciam a sua actividade.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
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2 comentários:
Estando neste há já alguns anos a tentar escrever a história detalhada das Minas dos Carris, gostaria de poder trocar algumas impressões com o Eng Rocha Gomes acerca destas minas se for do seu interesse.
Com os melhores cumprimentos,
Rui C. Barbosa
www.carris-geres.blogspot.com
gostei do artigo sobre a esploraçao mineira do braçal, gostaria de saber alguma coisa sobre a esploraçao mineira de galena no concelho de PENACOVa, se me pudesse informar agradecia, obrigado.
o meu mail, edmundo.frade@hotmail.com
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