segunda-feira, 27 de abril de 2009

66 – A insensibilidade dos dirigentes da DGM e do SFM perante o aproveitamento das riquezas minerais da região de Braçal –Talhadas

Em 17-10-1974, conforme já tinha previsto na informação de 15-7-1974, a que se reporta o post anterior, apresentei projecto da sondagem N.º 1 do Cabeço do Telégrafo, para início de investigação de um alinhamento de pronunciadas anomalias geoquímicas de chumbo e zinco, que se desenvolve na direcção W-E, por extensão superior a 1 km, na imediata proximidade do jazigo filoniano do Braçal.

Este alinhamento é sugestivo de corresponder a novo jazigo filoniano com predomínio de mineralização plumbífera.

Não me foi dado conhecimento de despacho superior sobre este projecto, ao qual nunca foi dada execução pela Divisão de Sondagens do SFM.

No entanto, em reunião realizada em Lisboa, em 1976, com o objectivo de analisar a distribuição das sondas do SFM onde estiveram presentes o Director-Geral, os Chefes do 1.º e do 4.º Serviço, o Chefe da Divisão de Sondagens e um Agente Técnico da mesma Divisão e ainda um Geólogo da 1.ª Brigada de Prospecção, foi declarado pelo Chefe da Divisão de Sondagens que tivera sondas paradas e pessoal sondador ocupado em tarefas secundárias, porque não havia sondagens projectadas para executar!!!.
Ora o projecto da sondagem N.º 1 tem a data de 17-10-1974.
Então o Director-Geral, sem me informar qual o despacho dado ao projecto, informou, uma vez mais, o seu “pouco entusiasmo”pela região, porque, em sua opinião, os filões não têm interesse e, nas pirites do Alentejo, se contem todo o chumbo, zinco e cobre de que o País precisa, não só para prover às necessidades internas, mas também para exportar.
Sem contestar o interesse das pirites do Alentejo – em cujas importantes descobertas tive, aliás, uma boa quota-parte de contribuição, podendo-me até orgulhar de ter sido o primeiro funcionário dentro da Direcção-Geral de Minas a chamar a atenção para tão grande riqueza nacional e para a conveniência de se proceder a estudos, com vista ao seu tratamento metalúrgico no País, não pude deixar de discordar do abandono a que o Senhor Director-Geral pretendeu votar outras possíveis riquezas minerais, até porque a generalidade das pessoas não está convenientemente informada da viabilidade económica actual do tratamento previsto para o aproveitamento integral dos constituintes das pirites alentejanas.
Citei, então, exemplos de nações muito mais desenvolvidas que a nossa, que não desdenhavam aproveitar jazigos de pequenas dimensões, até para um desenvolvimento regional equilibrado, embora dispusessem de jazigos de grandes dimensões, à escala mundial.
Referi o caso da Suécia, que, embora explorando os enormes jazigos de ferro do distrito de Kiruna – Malmberget, que contêm reservas certas de cerca de 3 000 milhões de toneladas de minério de ferro, a grande mina de cobre de Aitik, a mina de Laisvall, que é a maior reserva de minério de chumbo da Europa, não deixa de aproveitar jazigos pequenos e relativamente pobres, tais como os de ferro de Risbergsfaltet, Blottberget, Ragsberg, Vintjarn e Ramhall e o de chumbo de Falun (V. “Industrie Minérale” de Fevereiro de 1974).

Ainda em recente publicação, o Director-Geral tivera ocasião de manifestar o seu estranho parecer, ao escrever, a respeito dos minérios de chumbo:
“ Em nossa opinião, na actual conjuntura, são diminutas, para não dizer mesmo nulas, as possibilidades económicas da maior parte dos nossos jazigos de chumbo e zinco, do tipo filoniano, que integram a faixa de sulfuretos entre nós e durante muito tempo consideradas as mais representativas do potencial destes metais”.

Disse ao Senhor Director-Geral que ele deveria ter consciência de que as teorias negativistas são sempre muito perigosas,
Aliás esta sua recente opinião divergia totalmente da que manifestara no passado sobre os jazigos do Braçal (V. transcrição de seu artigo “A riqueza da indústria extractiva metropolitana” apresentada no post anterior)

A título de curiosidade, revelo que, tendo sido convidado, pela Universidade de Aveiro, para colaborar num Seminário Internacional de Geoquímica, que iria realizar-se em 30-6-1978, aceitei o convite e ali descrevi alguns dos principais resultados das prospecções realizadas na Faixa Metalífera da Beira Litoral, que abrange a região de Braçal – Talhadas.
Um dos casos que mais interesse suscitou foi o expressivo alinhamento de anomalias de chumbo na área do Cabeço do Telégrafo.
Um geólogo estrangeiro, que assistiu à palestra, interrogou-me sobre resultados de sondagens que julgava terem sido efectuadas para investigar estas anomalias e eu tive alguma dificuldade para lhe explicar a atitude negativista do Senhor Director-Geral, relativamente à importância dos filões, na indústria mineira.

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