sexta-feira, 24 de abril de 2009

63 – A atitude do SFM perante o encerramento das Minas do Braçal. Continuação

A seguir, transcrevo os três documentos a que fiz referência no post anterior:

1- Carta do munícipe de Sever do Vouga, Joel Macedo Marques, com data de 22 de Maio de 1974, dirigida ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sever do Vouga:

“Junto remeto a V. Ex.ª uma fotocópia de notícia do Diário de Lisboa de 15/12/1959, em que se dava conhecimento ao País do encerramento das Minas do Braçal.
Ficaram sem trabalho cerca de 600 mineiros, trabalhadores do nosso Concelho, quase todos chefes de família. Como é do conhecimento de V. Ex.ª, houve, nessa altura, uma determinação do Governo para que fosse dada prioridade aos nossos conterrâneos desempregados, para que emigrassem para França. E foi assim que se permitiu o encerramento de uma exploração mineira, com indústria transformadora anexa, a coberto de uma melhoria de vida às pessoas em questão, com grave prejuízo para a nossa região.
Vários factores contribuíram para estes acontecimentos, que estamos à altura de fornecer, porém a Administração Concelhia em exercício nessa altura, foi culpada por não ter actuado. Se tivesse havido uma imposição perante a Direcção-Geral de Minas, para que a exploração de galena não fosse interditada, obstar-se-ia a que os Poços não fossem inundados e posteriormente as instalações fabris vendidas como sucata.
A firma proprietária, sem o auxílio oficial, não tinha rendibilidade na referida exploração. O Fomento Mineiro andou no nosso Concelho, nas Minas das Talhadas sem resultado.
Segundo os estudos dos mesmos Serviços e a confirmação do actual responsável Técnico das Minas do Braçal, o filão de minérios de Chumbo é dos mais ricos do País ou mesmo da Europa.
É altura de se solicitar ao Governo Provisório, através da nossa Câmara Municipal Renovada, de que o Ministério respectivo se debruce sobre o nosso problema, que seja aberto um inquérito ao proteccionismo das importações, com total desprezo pela economia nacional.
Queremos as nossas antiquíssimas Minas a funcionar. Queremos trazer para a nossa Terra todos os nossos conterrâneos que tiveram que deixar o nosso País na busca de trabalho.
Queremos defender um Concelho Rico, da ideia errada de que somos Pobres. Aliado às potencialidades mineiras, temos uma floresta das mais ricas do distrito. Estamos numa zona turística por excelência chamada a “Suíça Portuguesa”.
Queremos defender o futuro dos nossos Filhos criando-lhes estruturas, onde mais tarde se possam empregar.
Rogamos a V. Ex.ª que seja exarado em acta da primeira sessão camarária, da memorável Comissão Administrativa Democrática, parecer favorável a esta exposição.
A bem da Nação
Um Munícipe
(a) Joel de Macedo Marques

2 – Notícia do “Diário de Lisboa” de 15-12-1979 sobre o encerramento das Minas do Braçal:

O encerramento das minas de chumbo do Braçal cria um grave problema para a região de Sever do Vouga.

SEVER DO VOUGA, 6 - Nesta linda região do Vale do Voga, de incomparável cenografia e deslumbrante paisagem, existem os únicos filões de chumbo do País – as minas do Braçal, situadas neste concelho.
São as mais antigas da Península e há notícia de que a sua primitiva exploração foi empreendida pelos Romanos, os quais abriram o primeiro poço, o mais antigo, que, encoberto por espessos matagais, se manteve ignorado até há coisa de um século. Acrescente-se que a primeira concessão mineira em Portugal foi a dos jazigos saturninos.
A exploração, nos tempos modernos, tem tido períodos de prosperidade alternando com outros de decadência, como o que atravessa agora, de bem negras e angustiosas perspectivas. Um desses períodos calamitosos decorreu entre os anos de 1930 e 1942 quando a antiga empresa concessionária, decidiu encerrar as minas e alienar o seu apetrechamento. Foi a paralisação completa e quase se perdeu a esperança de reiniciar o seu labor. Veio, porém, a Guerra Mundial, operando-se uma acentuada revalorização do metal, e, adquiridas as minas do Braçal pela firma Francisco José Simões, de Lisboa, reentraram em pleno labor, a todo o rendimento, possibilitado pelo seu completo equipamento para extracção e transformação da galena.
As antigas instalações, em âmbito reduzido, foram montadas pela Companhia de Minas e Metalurgia, a qual, por escritura lavrada em 23 de Junho de 1943, na Secção Notarial desta vila, se transferiu para a posse da Companhia Industrial e Agrícola do Braçal, com sede em Lisboa, que empreendeu a grande obra renovadora, incluindo o seu apetrechamento técnico ao nível moderno.
Seiscentos mineiros sem trabalho
Surgiu, porém, a grave crise que afecta profundamente este ramo da exploração mineira, originada pela concorrência, a preço mais baixo, do chumbo produzido no estrangeiro e à sua fraca cotação no mercado internacional.
Viu-se a empresa concessionária dos jazigos do Braçal compelida a reduzir consideravelmente a exploração, o que provocou ter sido dispensada, há cerca de um ano, metade dos trabalhadores, seguindo-se outros, no fim do ano e ficando o pessoal reduzido ao indispensável para a conservação dos maquinismos e guarda das instalações e matas anexas.
Desnecessário se torna acentuar a gravidade do caso, pois o encerramento das minas priva do seu ganha-pão seis centenas de trabalhadores que exerciam ali a sua actividade, atirando para a miséria milhares de pessoas das suas famílias. Além deste caso fundamental, nos seus aspectos humanos e sociais, há a considerar os graves prejuízos que resultam para a economia do concelho de Sever do Vouga.

3 – Carta do Governo Civil de Aveiro, com data de 6-5-1974, dirigida ao Senhor Ministro da Coordenação Económica

Excelência:
A pedido da Câmara Municipal de Sever do Vouga, tenho a honra de remeter a Vossa Excelência, para convenientes efeitos, a inclusa fotocópia de uma exposição dirigida ao referido Corpo Administrativo por Joel de Macedo Marques, a propósito de uma notícia publicada acerca do encerramento das Minas do Braçal.
Apresento a Vossa Excelência os meus melhores cumprimentos de elevada consideração.
A BEM DA NAÇÃO
O SECRETÁRIO SERVINDO DE GOVERNADOR CIVIL
Assinatura ilegível.

Sobre esta carta incidiu despacho do Director-Geral de Minas com data de 21-6-1974, pedindo informação ao SFM.

No próximo post, apresentarei excertos da informação de 20 páginas manuscritas que prestei em 15-7-1974, ao Director do SFM, em cumprimento dos seus despacho em documentos a que fiz referência

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