sexta-feira, 17 de abril de 2009

61 – Região de Braçal – Talhadas. Sua potencialidade mineira

Este é o título de um relatório, em 2 volumes, que apresentei em 31-12-1972, em cumprimento da parte final de um despacho do Director do SFM, com data de 6-11-1972 (não 6-12-1972, como, por lapso, escreveu), em ofício do Governador Civil de Aveiro datado de 30-10-1972, que tinha merecido despacho do Director-Geral de Minas em 31-10-1972, ordenando urgente e rigoroso inquérito sobre matéria exposta no referido ofício.

Deste relatório consta um texto de 22 páginas dactilografadas, um Apêndice com cópias de correspondência trocada com a Companhia alemã Preussag que se mostrou interessada em contrato de prospecção para a região e 45 peças desenhadas explicativas dos resultados que tinham sido obtidos até 31-12-1972

Dele transcrevo o resumo.

“1 – O País necessita aproveitar as suas existências de minérios de cobre, chumbo e zinco para evitar as volumosas importações que faz destes metais.
2 – Uma análise dos dados existentes, em 1968, fez sobressair a região de Braçal – Talhadas, isto é, uma faixa de mais de 60 km de extensão norte-sul e largura variável mas ultrapassando por vezes 40 km, desde as proximidades de S. João da Madeira até perto da Mealhada, como uma das de maior potencialidade para esses minérios.
3 – Embora os elementos geológicos sobre a região sejam escassos, há motivos para crer que nela possam encontrar-se jazigos importantes, não só de cobre, chumbo e zinco, mas também de outros metais, como tungsténio e estanho, não sendo de excluir os jazigos estratóides.
4 – De 1968 até ao presente, tem vindo a efectuar-se uma campanha de prospecção geoquímica, especialmente com base em amostragem de sedimentos de linhas de água e análise de metais pesados, pela ditizona, na fracção extraível a frio, pelo citrato de amónio. Acessoriamente, têm-se feito, também, análises de cobre, chumbo e zinco, também pela ditizona, mas com extracção a quente.
Foram já colhidas 102.400 amostras e efectuadas 154.420 análises, das quais 66% no Laboratório de Beja.
5 – Os resultados têm sido animadores, conforme temos assinalado em exposições verbais feitas em reuniões da Comissão de Fomento e em relatórios trimestrais. No último relatório, por exemplo, referente ao 3.º trimestre de 1972, destacamos a Região de Braçal – Talhadas dentre aquelas onde a actividade do 1.º Serviço fez aparecer resultados de maior interesse.
6 – A demonstrar a importância de região, no que respeita à possibilidade de existências minerais, há o interesse revelado pela Companhia alemãs Preussag e por outras Companhias estrangeiras nos resultados dos levantamentos geoquímicos do Serviço de Fomento Mineiro e a intenção manifestada de apresentação de propostas para novas fases de trabalho, visando a obtenção de concessões.
7 – Apesar do que se expõe nos números anteriores, foi superiormente levantada dúvida quanto à real potencialidade mineira da região de Braçal – Talhadas e mandado elaborar “relatório indicando o que se fez até agora, perspectivas e resultados, o que se projecta para o futuro, a fim de habilitar o Senhor Engenheiro Director do Serviço a propor ao Senhor Engenheiro Director-Geral a continuação ou paralisação dos trabalhos” (despacho de 6-11-1972 exarado no ofício de 30-10-1972, do Governo Civil de Aveiro).
8 – O presente relatório dá satisfação ao que superiormente se determina.
9 – Demonstra-se que, se em 1968 a região já tinha bastante interesse, em face dos dados dobre ela existentes, presentemente esse interesse é muito maior, por virtude da valorização introduzida pelos trabalhos de prospecção geoquímica realizados.
10 – Estes trabalhos permitiram definir diversos conjuntos de anomalias, alguns dos quais em coincidência com o “grande filão metalífero da Beira” e outros em áreas não anteriormente consideradas com grande potencialidade.
11 – Apresenta-se um programa para continuação do estudo da região e sugerem-se algumas medidas para mais rápida obtenção de resultados finais, isto é, definição de reservas minerais exploráveis.”

Do texto, constam os seguintes capítulos:
1 – Introdução
2 – Breve história das actividades mineiras na região
3 – Geologia da região
4 – Ocorrências minerais
5 – Trabalhos de prospecção realizados pelo Serviço de Fomento Mineiro
5.1 – Justificação da nova campanha
5.2 – Trabalhos realizados até 31-12-1972
5.3 – Resultados
6 – Conclusões
7 - Apêndice

Das peças desenhadas, a primeira (8.1) é uma carta parcial, à escala de 1:100 000, da área em estudo, salientando o “grande filão metalífero” e as 37 ocorrências minerais a ele subordinadas; as seis seguintes (8.2 a 8.7) são mapas à escala 1:250 000 indicando as áreas prospectadas pelo método geoquímico, com análises de sedimentos de linhas de água para metais pesados/extracção a frio) e para cobre, chumbo e zinco (extracção a quente); as 33 seguintes (8.8 a 8.40) são mapas à escala 1:25 000 das anomalias registadas, obtidos por redução de 434 mapas à escala 1: 5 000 constantes dos arquivos da Sede da 2.ª Brigada e da Secção de Talhadas; a 8.41 é um mapa à escala 1:5 000 com expressivas anomalias electromagnéticas da campanha de 1946; as 4 restantes (8.42 a 8.45) são mapas geoquímicos à escala 1:5 000 exemplificativos de bons resultados obtidos, merecedores de investigação por outras técnicas, incluindo sondagens.

A elaboração deste relatório, em tão curto espaço de tempo, só se tornou possível, mercê da capacidade de trabalho e disciplina da equipa constituída na Secção de Talhadas sob a directa orientação do Colector Silvério Vilar, que o Director-Geral de Minas chegou a admitir que deveria ser dispensado, sem sequer curar de saber da validade das acusações do Governador Civil de Aveiro.

Tenho sérias dúvidas de que este relatório tenha sido lido e devidamente apreciado, porquanto sobre ele nunca foi emitida qualquer informação e, em ocasiões posteriores foi demonstrada grande ignorância sobre a actividade em curso na região de Braçal – Talhadas, conforme irei revelar em post seguinte.

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