terça-feira, 7 de junho de 2011

170 – Audiência concedida pelo Ministro Veiga Simão e suas consequências. Continuação 6

Em 27-4-84, entreguei, pessoalmente, ao Ministro Veiga Simão, cópia de documentação que lhe tinha enviado em 26-3-84, comprovativa de factos graves que estavam a ocorrer na DGGM, para cuja correcção solicitava a sua urgente intervenção.
Tive confirmação das minhas suspeitas de que a documentação original não tinha chegado à sua mão.

O Ministro exarou despacho sobre a cópia, pedindo explicações, no próprio dia em que dela tomou conhecimento,

Não me foi comunicado o teor deste despacho.

Fiquei, porém, a saber que a documentação transitou pelo Secretário de Estado, pelo Director-Geral de Minas e pelo Director do Serviço de Fomento Mineiro, e que todos se esquivaram a dar as explicações que lhes competiam, em jeito de “sacudir a água do capote”.

Esse encargo foi parar num Engenheiro que, não tendo funções definidas na DGGM, dispunha de tempo para ocupar com exercícios académicos, repetindo cálculos de reservas que já constavam de relatórios de uma Companhia americana, que actuara na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, dos quais se tinha abusivamente apropriado.

Como a documentação que eu enviara ao Ministro se referia principalmente a factos respeitantes a esta Região, o Director-Geral da DGGM e o Director do SFM, apressadamente declararam, sem fundamento em quaisquer ordens de serviço anteriores, este Engenheiro, de nome Rui Reynaud, “responsável pelo projecto de Caminha”, que havia sido por mim instituído há cerca de 20 anos e no qual eu vinha trabalhando, com assinalável sucesso!

Rui Reynaud aceitou esse encargo e fez questão de o desempenhar, com inexcedível zelo.
Constituiu-se advogado de defesa do Director-Geral de Minas, do Director do SFM e até da equipa técnica da 1.ª Brigada de Prospecção sediada em Beja, baseando toda a sua argumentação em instruções e informações, que recebera dos seus superiores, sem curar de investigar se eram fidedignas e correspondiam ao que constava de documentação arquivada.

Nos três posts anteriores, analisei a “Informação” que Rui Reynaud apresentou em 17-7-84.
Avalio quão penosa deve ter sido esta demorada gestação de dois meses e meio, de um produto completamente inútil e desfasado da essência dos factos que deviam ser cabalmente explicados.

Mas foi sobre esta “Informação” e não sobre os factos graves denunciados na Documentação que eu enviara ao Ministro – como seria lógico - que tanto o Director do SFM como o Director-Geral de Minas se pronunciaram.

Daniel, apesar de ter sido o principal responsável pelo desencadear das indecorosas atitudes do Director-Geral e de outros funcionários com categorias de dirigentes, por se ter furtado, cobardemente, ao encontro em 2-2-84, para que me havia convocado, com o pretexto de súbita doença, na qual eu ingenuamente até acreditara, manteve-se coerente com a declaração que havia feito de não ter ingressado no SFM para trabalhar.
Exigir-lhe--ia muito esforço mental explicar as trapalhadas em que se foi envolvendo, desde que assumiu o cargo de Director do SFM.

Não justificou porque não corrigiu qualquer das irregularidades herdadas dos seus antecessores, para as quais chamei insistentemente a sua atenção, permitindo que elas continuassem, em total impunidade, tornando-se portanto cúmplice.
Não justificou porque, em vez de se preocupar com o desenvolvimento da indústria mineira nacional, estimulando os estudos sérios que estivessem em curso e criando novos núcleos para investigação de áreas com potencialidades já reconhecidas, continuou a obra de destruição em que se tinham empenhado os seus antecessores.
Pelo seu comportamento negativo, tinha-se tornado mais um problema a adicionar aos muitos com que o SFM já se debatia.
Tudo isto constava da minha exposição ao Ministro, mas Daniel considerou que devia limitar-se ao que consta do curto despacho que, a seguir, novamente reproduzo:
Ao Sr. Director Geral: A informação do Director do Projecto Caminha que engloba o trabalho do Eng.º Rocha Gomes, mostra bem qual a atitude revelada até agora. Os poucos elementos conseguidos revelam uma actividade com mérito, embora sem continuidade, por falta de informação. A dificuldade de integração verifica-se só num sentido confirmando a atitude beligerante do Eng.º Rocha Gomes. O plano de trabalhos ainda não foi apresentado. (a) Fernando Daniel 18-7-84

Como já tive ocasião de registar, é uma descarada mentira a declaração de que o Engenheiro Rui Reynaud tinha sido nomeado Director do Projecto de Caminha. Nunca foi emitida tal Ordem, oralmente ou por escrito, nem eu obviamente a aceitaria, por razões óbvias, já abundantemente expostas.

Não consegui perceber a que elementos pretendia referir-se, que “revelam uma actividade com mérito”.
Como já registei, em posts anteriores, tentei, nos raros encontros, que consegui ter com Daniel, nas instalações de S. Mamede de Infesta e na área onde incidiam os estudos, na Região de Vila Nova de Cerveira - Caminha – Ponte de Lima, informar em que consistiam esses estudos, os sucessos já alcançados e os objectivos em vista com a sua continuidade.
Por outro lado, quando me convocou para a reunião de 2-2-84, fui carregado com pesado volume contendo numerosos documentos respeitantes aos estudos já realizados, o qual nem cheguei a abrir, por Daniel se ter esquivado a esse encontro.
E Reynaud, que passou a colaborar na descarada mentira de ter sido designado “responsável pelo projecto de Caminha”, também não mostrou a mínima de curiosidade em examinar esses documentos!
Nem Daniel nem Reynaud demonstraram ter tido noção exacta do valor do que lhes tinha conseguido mostrar, pelo que a avaliação do mérito da actividade revelada nos “poucos elementos” a que se refere Daniel é totalmente destituída de significado.

Quanto à minha atitude beligerante, só posso dar-lhe razão.
De facto, sempre lutei denodadamente, em defesa do Serviço de Fomento Mineiro.
Era, consequentemente, minha intenção promover a expulsão dos assaltantes, que ilegalmente se tinham apoderado de cargos dirigentes.
Eles não tinham competência para o desempenho desses cargos e estavam, por isso, a impedir a concretização dos objectivos para que o SFM tinha sido instituído.
Dentre esses assaltantes, contavam-se obviamente Alcides, Daniel e Reynaud.

A minha beligerância verificou-se, como Daniel reconhece apenas num sentido, isto é, no sentido de responsabilizar dirigentes corruptos, desonestos e incompetentes.

No sentido contrário, isto é, para com os meus subordinados, sempre promovi o seu aperfeiçoamento, quer ministrando-lhes ensinamentos, quer diligenciando para que estagiassem em instituições onde pudessem melhorar a sua formação profissional.

Já o mesmo não poderá dizer Daniel, que logo no início do seu mandato fez ameaças que justificaram o epíteto de “corta-braços” com que logo foi baptizado.
Gabava-se de ter “carta branca “ de Alcides, para actuar com dureza relativamente aos funcionários que não entrassem no seu esquema. (Ver post N.º 152)
De corta-braços, passaria a “matador”, quando se mostrou disposto a “matar” concessionários que se encontrassem em dificuldade para cumprir a obrigação de manter as concessões em lavra activa. (Ver post N.º 154)
Mostrou, assim, desconhecer o articulado do Decreto-lei de criação do SFM, que previa assistência técnica e financeira, em casos devidamente justificados. Tinha sido com base neste articulado que eu prestara a assistência aos concessionários da região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, que estava na base das explorações que nelas se mantinham.

Sobre a referência ao Plano de Trabalhos que declara ainda não ter sido apresentado, já fiz comentário na minha análise do depoimento de Reynaud.
Mas, além da exigência de tal Plano ser mais uma das mentiras em que Daniel se mostrou fértil, ocorre-me perguntar para que pretenderia ele um Plano para os trabalhos que queria ver terminadas até ao fim de 1984 (Ver post N.º 153), estando já em meados de Julho desse ano e tratando-se de actividades que decorriam criteriosamente planificadas há cerca de 20 anos.

Continua …

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