segunda-feira, 6 de junho de 2011

169 – Audiência concedida pelo Ministro Veiga Simão e suas consequências. Continuação 5

O Director-Geral de Minas e o Director do SFM, sentindo-se incapazes de explicar os factos graves que ocorriam na DGGM, por mim revelados, em documentos que, pessoalmente, entregara ao Ministro, em repetição de originais anteriormente enviados, mas que não haviam chegado à sua mão, endossaram ao Engenheiro Rui Reynaud o despacho ministerial que exigia tais explicações, com o argumento falacioso de Reynaud ser o “responsável pelo relançamento do projecto de Caminha”.

Este Engenheiro, que tinha conseguido ser nomeado Director de Serviço, em 1981, na vaga de assaltos aos cargos de chefia criados pelo Decreto N.º 548/77, em atitude subserviente, prestou-se a desempenhar o papel de advogado de defesa, ao dar cumprimento a instruções para referir ordens que eu não teria acatado, embora consciente de que tais ordens nunca tinham sido emitidas, oralmente ou por escrito.
Mas, no seu vergonhoso servilismo, quis mostrar-se ainda mais diligente.

Para agradar aos técnicos da equipa de Beja, resolveu exaltar os seus méritos, apesar de ignorar as circunstâncias em que tinham ocorrido os êxitos da 1.ª Brigada de Prospecção, por não ter consultado a respectiva documentação.

Já mencionei, no post anterior, acções negativas daqueles técnicos.

Vou agora citar outros casos também pouco abonatórios da sua actuação. Dentre estes, destacaram-se os que tiveram a intervenção de Delfim de Carvalho, praticados sob a protecção de seu padrinho Soares Carneiro, durante os 17 anos, em que este ocupou o cargo de Director-Geral.

Delfim de Carvalho apresentou-se como autor da descoberta do que apelidou de “jazigo de cobre do Salgadinho”.
A verdade é que nada tinha contribuído para que se tivesse encontrado mineralização cuprífera, na zona do Salgadinho da região de Cercal do Alentejo.
Estivera encarregado de estudar os testemunhos de sondagem projectada com base em discreta anomalia gravimétrica, localizada no flanco oriental de uma estrutura em doma, que aflorava com rochas vulcânicas.
Esta situação geológica, propícia à ocorrência de jazigos de pirite idênticos aos da tradicional Faixa Piritosa Alentejana, tinha sido definida através de levantamento por mim orientado, na região de Cercal-Odemira, conforme consta de artigo publicado em 1955, no Volume X de “Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro” (Ver post N.º 9).

Delfim de Carvalho, com a sua pouca experiência em observação directa de jazigos minerais, nem se apercebera do interesse dessa mineralização, quando me telefonou, para a sede do SFM, onde me encontrava, a prestar as habituais informações sobre resultados da sondagem, cujos testemunhos estava a estudar.
Dissera-me que havia detectado a presença de calcopirite, em escassa disseminação.
Quando tive a oportunidade de observar directamente esses testemunhos, estimei o teor de cobre em cerca de 2%. Baseava-me em experiência adquirida em mais de uma dezena de anos, no estudo do jazigo cuprífero de Aparis, em Barrancos.
Tomei, então, a decisão de não prosseguir com dispendiosas sondagens, antes da aplicar o método de polarização induzida, que era o procedimento mais indicado para a prospecção de jazigos de sulfuretos disseminados.
Como o SFM ainda não dispunha do equipamento para uso desta técnica, apesar de oportunamente ter sido feita a sua requisição, eu propunha-me insistir na aquisição, considerando a eventualidade de, no Salgadinho, ocorrer um stockwerk suficientemente vasto para justificar exploração económica.
A expressão gravimétrica, só por si, não permitia tirar conclusões neste âmbito.

Mas Delfim de Carvalho, conflitualmente liberto, a título provisório, da minha tutela, ansioso por se creditar com um clamoroso êxito, cuja autoria reivindicava, não podia esperar pela melhor definição do alvo a investigar. Projectou atabalhoadamente numerosas sondagens, precipitando-se a promover a jazigo uma ocorrência, cujo valor industrial não ficou demonstrado.
Trabalho mal orientado, de que deveria ter sido responsabilizado. (Ver post Nº 86).

Reynaud, que tão pressuroso se mostrava a exaltar o empenho dos técnicos da equipa de Beja, na obtenção de grandes sucessos, nem reparara que esta equipa se encontrava em franca desagregação.
Já o anterior Director do SFM, Jorge Gouveia, se referira depreciativamente à sua actividade, comentando, para comigo, que “andavam a inventar trabalho” (Ver post N.º 134).
Na data do depoimento de Reynaud, três elementos que assumiam os principais papéis na orientação dos estudos na 1.ª Brigada de Prospecção, já a tinham abandonado, ou preparavam-se para tomar essa decisão, sem se preocuparem com os prejuízos que iriam ocasionar no cumprimento das “vastas e delicadas tarefas a seu cargo”, isto é, com matéria que fora apresentada como justificação para o traiçoeiro documento, com o qual conseguiram o meu afastamento provisório-definitivo da chefia dessa Brigada.

Delfim de Carvalho havia conquistado o cargo de Subdirector-Geral, tendo em consequência, sido deslocado para Lisboa, para assumir a chefia dos Serviços Geológicos.

Vítor Borralho, através da sua filiação partidária, que declarava de extrema-esquerda (!!), fora nomeado Administrador de “Minas de Aljustrel”, cargo de que viria, porém, a ser exonerado por despacho publicado no Diário da República de 10-9-1980.
Regressara à DGGM e, talvez como prémio do mau desempenho nas Minas de Aljustrel, foi promovido a Director de Serviço, ocupando a vaga que eu tinha recusado, por o ex-Director do SFM, Jorge Gouveia ma ter oferecido, com a condição de eu não realizar trabalho de campo”!!!! (Ver post N.º 139).
Como nunca foi benquisto pelos companheiros da equipa de Beja, apesar de eu reconhecer que, no domínio da prospecção geoquímica, desempenhou de modo muito satisfatório o papel de que o encarreguei, foi colocado em Lisboa, tornando-se mais um dirigente sem funções definidas.

José Goinhas afadigava-se em diligências, também suportadas pela sua filiação partidária, para obter cargo de categoria, pelo menos igual à de Delfim de Carvalho, já que não se considerava suficientemente recompensado com a nomeação de Director de Serviço, que lhe coubera no assalto aos cargos criados pelo Decreto 548/77. Apesar da sua total ignorância em prospecção de petróleos, viria a conseguir nomeação de Director-Geral, do Gabinete para a Prospecção e Pesquisa de Petróleo, quando o cargo ficou vago, por falecimento do Engenheiro que o desempenhava!!! (Ver post N.º 88).

Ainda sobre o depoimento de Reynaud, não quero deixar de assinalar que nada disse acerca das irregularidades mencionadas na documentação que entreguei ao Ministro. Limitou-se a inventar formalismos, que eu não teria respeitado.
Mas reservarei a minha análise a esse respeito para os comentários ao depoimento do Director-Geral.

Antes de terminar a análise do depoimento de Reynaud, quero ainda referir duas das suas curiosas afirmações.
A primeira é a crítica ao meu envio de exposição ao Ministro, que classifica de “não inovadora”.
Será que esperaria de mim uma atitude mais radical, para corresponder às graves ofensas que me tinham sido feitas? Esperaria que eu usasse de violência, para ser verdadeiramente “inovador? Devo dizer que este tipo de acções não se coaduna com o meu feitio pacífico.
A título de curiosidade, revelo que houve quem tivesse vindo ao meu gabinete, transformado em “muro das lamentações” contar ofensas recebidas do Director do SFM - que tinha apoiado, em momentos difíceis - e se propunha exercer vingança, com arma que disse não ter dificuldade em adquirir a cigano que conhecia. Não o levei a sério, mas na dúvida, fiz-lhe ver as trágicas consequências, para ele e para a sua família, se tal acto praticasse.

A segunda é a afirmação de que “todos os dirigentes e técnicos superiores desta D.G. não se vêem ou sentem representados nas atitudes e opiniões de índole destrutiva expressas pelo Sr. Eng.º Rocha Gomes”.
Esta é uma verdade de “La Palice”. Ao enviar a minha exposição ao Ministro, eu pretendia, obviamente destruir o ambiente caótico introduzido na DGGM por esses dirigentes e técnicos, com a respectiva responsabilização e restabelecer a disciplina essencial à consecução dos objectivos do SFM.

Por último, não posso deixar de comentar o epíteto de “figura controversa” com que fui caracterizado e “as atitudes extremas” que eu teria assumido.
Em sua opinião, a honestidade, a lealdade, a frontalidade com que sempre desempenhei as minhas funções, são atitudes questionáveis e a exigência de idênticas atitudes a todos os funcionários, mormente aos que exercem funções de maior responsabilidade, é considerada atitude extrema!
Ocorre-me a expressão apropriada para responder aos seus infelizes comentários: Perdoai-lhe, senhores, que ele não sabe o que diz!

Continua…

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