sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

192 - Um novo Plano Mineiro Nacional. Continuação 16

Em 1984, o Conselho de Ministros mandou apresentar um novo Plano Mineiro Nacional, visando melhor aproveitamento dos nossos recursos minerais.

José Goinhas, pretendendo contribuir para a sua elaboração, assumiu o encargo de relatar a história da “Prospecção mineira em Portugal”.

Tenho vindo a analisar, desde o post N.º 178, o documento publicado no Boletim de Minas, da autoria daquele Geólogo.

Passei já em revista as fases, que deviam ter precedido e justificado a passagem à fase de sondagens.

Salientei não ter sido respeitada a regra elementar de utilizar criteriosamente as verbas disponíveis, mormente tratando-se de dinheiros públicos, obedecendo à velha recomendação:
“Always send the cheapest man first”

Revelei 8 casos, em que, relativamente a esta fase de sondagens, a contribuição de Goinhas foi francamente negativa.

Goinhas ou não consultou a abundante documentação disponível, principalmente nos designados “relatórios internos”, ou evitou denunciar os dirigentes dos denominados "serviços oficiais", que menosprezaram aquela norma elementar.

Vou continuar a citar casos de arbitrariedades e prepotências, com total impunidade dos responsáveis pelos prejuízos ocasionados à economia nacional.

9 - A retoma das sondagens na Região de Vila Nova de Cerveira –Caminha – Ponte de Lima

No N.º 2 do post N.º 190, revelei que o Director-Geral de Minas, Soares Carneiro, ordenou a suspensão da campanha de sondagens, na Região de Vila Nova de Cerveira – Caminha – Ponte de Lima, quando estava projectado o furo N.º 69.

Dava-se, então, a feliz circunstância de este furo ser, dentre todos os projectados, na Região, talvez o que apresentava mais sólidos fundamentos (bom apoio geológico, geofísico e geoquímico).

Tais fundamentos vieram a ser plenamente confirmados por Union Carbide, quando esta Companhia americana, através de contrato que celebrou com o Estado, conseguiu estender a sua acção à área que abrangia o local seleccionado para a implantação desse furo.

Ficou amplamente demonstrada a despudorada falsidade dos argumentos que o Director-Geral apresentou, para justificar a sua arbitrária decisão.

O Engenheiro Soares Carneiro foi, entretanto, exonerado e substituído no cargo de Director-Geral, pelo Geólogo Alcides Pereira.

Já me referi a atitudes ainda mais prepotentes do novo Director-Geral, que o levaram à inacreditável ordem de proibição de eu realizar trabalho de campo!!!!

Uma vez mais se confirmava a famosa lei de Murphy!

Em relação com esta inconsciente ordem, foram, malevolamente, provocados incidentes, em consequência dos quais, o Geólogo Viegas teve finalmente o êxito que não conseguira, durante a permanência de Soares Carneiro e de Múrias de Queiroz, em cargos directivos.

Desta vez, o Geólogo Viegas, na qualidade de Chefe de Divisão, conquistada na vaga de assaltos a cargos de chefia a que me tenho referido, conseguiu, não só apropriar-se da Secção de Caminha, mas também aliciar o Engenheiro Laurentino Rodrigues, tornando-o cúmplice das suas disparatadas decisões.

Lembro a minha preocupação em preparar Laurentino para o exercício cabal da profissão, pensando que poderia substituir-me, quando me aposentasse (Ver posts N.ºs 116, 117, 143, 152, 155, 158, 188).
´
Sou induzido a crer que o “relatório circunstanciado”, exigido por Alcides Pereira, para poder programar convenientemente as actividades da DGGM (sic) (Ver post N.º 156), tenha tido por objectivo facultar a Viegas, rápidos êxitos, que o creditassem como conceituado prospector.

Tal atitude, não seria, aliás, inédita. Os casos de Soares Carneiro e Delfim de Carvalho são disso bons exemplos. Também estes julgaram fácil obter sucessos, usurpando trabalhos que outros, metodicamente, vinham preparando.

Na posse do “relatório circunstanciado”, que fui compelido a entregar, com o texto ainda incompleto e só parcialmente dactilografado, Viegas logo se deslumbrou com as anomalias geofísicas e geoquímicas, representadas em muitas das 246 peças desenhadas.

Não tendo preparação nas técnicas aplicadas e sendo até muito inexperiente em matéria de Geologia, fez uma selecção errada das anomalias que deviam ser investigadas por sondagens.

Extasiou-se com anomalias magnéticas de grande intensidade, não percebendo que, dadas as suas características, facilmente seriam explicadas com simples sanjas.
Revelou, também, não saber distinguir estratificação de xistosidade e, por isso, acabou por mandar executar sondagem paralelamente à estrutura que pretendia investigar!!!!.

Foi Isto que constatei, em aula de campo aos meus alunos da Faculdade de Ciências do Porto, na qual tive a colaboração de alunos e professores da Universidade de Aveiro, que costumava convidar para estas aulas práticas.

Estando proibido de realizar trabalho de campo, usava, para poder dar aulas, autocarro contratado pela Faculdade de Ciências do Porto e equipamentos cedidos pela Faculdade de Engenharia do Porto e pelo Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro!!!

Aproveito a oportunidade para revelar que nunca me foi possível dar aulas de campo de gravimetria, aos alunos das Universidades, por estes estabelecimentos de ensino superior não possuírem, então, gravímetros e por não me ter sido disponibilizado, embora por curtíssimo período, um dos dois aparelhos, que tinham sido adquiridos para o SFM, por minha exclusiva iniciativa, após árdua luta de mais de uma dezena de anos (Ver post N.º14)

Uma vez mais recordo a promessa pública de Alcides, despudoradamente desrespeitada, de prestar toda a colaboração às Universidades, para que estas produzissem bons técnicos (Ver post N.º 160)

Fiquei com curiosidade sobre se tinham sido feitas determinações de susceptibilidades magnéticas, nos testemunhos desta sondagem, para saber se a anomalia magnética foi explicada.
Laurentino tinha conhecimento de que era prática corrente no Serviço de Prospecção sob minha chefia, encontrar sempre explicação para as anomalias que se investigavam.
Tenho, porém, sérias dúvidas de que tais determinações tenham sido feitas.

A retoma da campanha, que tinha sido interrompida, quando estava projectado um dos mais prometedores furos, foi, pois, extremamente infeliz.
A sua primeira sondagem teve resultados nulos, como era fácil de prever, pois se apoiava em errada interpretação de anomalia magnética,

Deste novo fiasco de Viegas, a adicionar ao de Cravezes e a outros que se lhe seguiram, iria resultar a extinção da Secção de Caminha, sendo certo que muito ficou por investigar, dentro do programa que eu vinha dirigindo, com a participação de 4 a 5 funcionários, que haviam sido admitidos, nos locais de trabalho, apenas com a instrução primária!!”

Como comentários finais, ocorrem-me os seguintes:

a) É surpreendente que, ao aprovar a sondagem projectada por Viegas, tenha sido esquecida a urgente necessidade de programar convenientemente as actividades da DGGM.(Ver post N.º 156)

b) É também surpreendente que os estudos a que meticulosamente se dedicava Rui Reynaud sobre a documentação entregue por Union Carbide (Ver post N.º166), não tivessem sido aproveitados.

c) Mais surpreendente ainda, foi a imediata disponibilidade de uma sonda, que passou a verificar-se, quando me foi extorquida a Secção de Caminha, apenas para satisfazer ambição pessoal do perverso Viegas.

10- Sondagens na Mina de Fonte Santa (Lagoaça, Freixo de Espada à Cinta):

Embora não seja estudo em que me tenha envolvido, quero referir o meu conhecimento de terem sido efectuadas sondagens na Mina de Fonte Santa (Lagoaça), em cumprimento de projecto do prestigiado Geólogo António Ribeiro e sob a supervisão do Director-Geral.
A recuperação de testemunhos foi praticamente nula e o Geólogo optou por fazer avaliação das reservas globais da formação onde ocorria scheelite, partindo da hipótese de que este mineral se encontraria disperso, em grande espessura desta formação.
Chegou-se assim a um elevado valor global de reservas, com teor muito baixo, portanto, de exploração economicamente inviável.
Não tinha sido possível definir passagens economicamente exploráveis.
É um caso semelhante ao que acontecera com os carvões da Faixa Carbonífera do Douro, onde também se não obtivera suficiente recuperação de testemunhos.
Era esta lição que Goinhas deveria ter extraído.
Não se justificaria prosseguir campanha de sondagens, quando o seu objectivo, que era conhecer as formações em profundidade, não era cumprido.
A campanha da Fonte Santa deveria ter sido suspensa, logo que se verificou não produzir testemunhos e só deveria ser retomada quando este problema estivesse convenientemente resolvido.

Continua…

Sem comentários: